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Como a tecnologia pode transformar o SUS
Confira o artigo de Dr. Nilson Ribeiro

Por Dr. Nilson Ribeiro

Que a inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente em nossas vidas não há dúvidas. No entanto, é preciso distinguir o uso cotidiano, limitado à busca do conhecimento existente, da aplicação na geração de conhecimento novo, a partir de dados reais. É nessa segunda frente que reside uma revolução silenciosa e promissora para o Sistema Único de Saúde (SUS).
A pesquisa médica exige altos investimentos, o que termina por favorecer regiões mais ricas e dificulta a adoção de novos tratamentos no SUS devido a barreiras econômicas.
O uso de aprendizagem de máquina (machine learning) – um tipo de IA que utiliza algoritmos computacionais específicos para aprender padrões a partir de dados – representa uma oportunidade de modernização e aprimoramento para o SUS. A literatura médica atual valida modelos, treinados com dados de prontuários eletrônicos, que podem prever complicações em pacientes graves, risco de mortalidade, tempo de internação, além de permitir personalizar planos nutricionais, identificar surtos de doenças e, até mesmo, o risco de infecções hospitalares por bactérias multirresistentes, dentre outros avanços.
A grande vantagem é que essa tecnologia pode (e deve) ser desenvolvida com base na realidade local. Dados de prontuários do SUS, anonimizados e tratados, podem alimentar algoritmos para criar ferramentas de apoio à decisão clínica precisas e relevantes para o nosso contexto epidemiológico e social. Estudos publicados em revistas internacionais já comprovam o potencial dessas aplicações em cuidados intensivos e nutrição clínica.
Não se trata de substituir o julgamento clínico, mas de potencializá-lo. Com modelos treinados localmente, gestores podem otimizar a alocação de leitos e recursos, e profissionais de saúde ganham um aliado para antecipar diagnósticos e personalizar tratamentos.
O SUS, um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, gera todos os dias, um vasto e rico conjunto de dados. Transformar esse potencial em inteligência para salvar vidas é o próximo passo natural para um sistema que já é referência em universalidade.
O futuro da saúde pública é cada vez mais digital e inteligente. Devemos aproveitar essa onda tecnológica, desenvolvendo soluções éticas e eficazes que nasçam dos nossos próprios dados e respondam às nossas reais necessidades, garantindo um SUS ainda mais forte para todos.
*Médico pela Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA).
Mestre em Cirurgia Digestiva pela USP
Especialista em Nutrição Clínica pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e
Parenteral.
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