ARTIGOS
Não é Bolsonaro, são as eleições de 2026
Artigo do secretário Ângelo Almeida analisa como Trump usa tarifaço para pressionar Brasil e influenciar 2026

Por Angelo Almeida*

Donald Trump jogou uma bomba no tabuleiro político brasileiro. Ao declarar que o tarifaço imposto a produtos nacionais continuará, caso Jair Bolsonaro não seja anistiado, o presidente norte-americano não falou apenas de comércio. Ele visa atacar a política nacional, mais uma vez, com o jogo de sempre: enfraquecer o campo da centro-esquerda, pra levar a direita, e agora, a extrema direita ao poder. Apearam a ex-presidente Dilma Roussef da presidência numa trama que, já não mais há dúvida, continha as digitais do Velho Tio Sam na cena do crime pelas mãos do então juiz de primeira instância e hoje senador, Sérgio Moro.
Portanto, é preciso dizer com todas as letras: não é sobre Bolsonaro, são as eleições de 2026.
Reduzir o futuro do Brasil a uma decisão sobre a anistia de um ex-presidente é apequenar a democracia. Bolsonaro é parte da história recente, sem dúvida. Mas, o que se discute agora é muito maior do que ele: é a capacidade do Brasil de decidir seus rumos sem se curvar a chantagens internas ou externas.
Trump sabe o peso do Brasil no comércio internacional e joga duro para defender seus interesses. A questão é: vamos permitir que a democracia brasileira seja colocada na vitrine como moeda de troca? Se aceitarmos esse caminho, passamos ao mundo o recado de que nossas instituições são frágeis e que basta pressionar para dobrar o país.
O tarifaço de Trump é real e atinge em cheio o agronegócio, a indústria e setores que sustentam nossa economia. Mas usar a anistia de Bolsonaro como condicionante às relações econômicas é transformar política em barganha pessoal. E isso é perigoso. Hoje é Bolsonaro; amanhã, pode ser qualquer outro líder. O que fica é a dependência.
As eleições de 2026 estão logo ali, e nelas não se decide o destino de um homem, mas o destino de uma nação. O que deveria estar em pauta é como o Brasil vai crescer, nossa posição no cenário global, a discussão sobre uma absurda taxa Selic de 15%, geração de empregos, garantia da segurança e fortalecimento da democracia. Esse é o debate que interessa ao eleitor – não se Trump está satisfeito ou se Bolsonaro será anistiado.
O Brasil precisa aprender a virar a página, sim. Porém, um olhar no passado, na história para tirar lições, não fará mal ao nosso povo. Quem votará em 2026 terá acumulado lições de 2018 e 2022. O que se espera é maturidade política para olhar pra frente e dizer: o que está em jogo é um projeto de país.
Por isso, repito: não é Bolsonaro, são as eleições de 2026. Quem ainda não entendeu isso corre o risco de transformar a democracia brasileira em espetáculo para plateias estrangeiras – e o povo, mais uma vez, em figurante da própria história.
*Angelo Almeida é secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, deputado estadual licenciado PSB-Bahia
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