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O aeroporto de Barreiras e o desafio da conectividade regional
Confira o artigo de Danilo Henrique
Por Danilo Henrique

A modernização do nosso aeroporto representa um avanço importante para a infraestrutura de transporte da região Oeste. A ampliação da pista, as melhorias no terminal de passageiros e os novos serviços de embarque e desembarque oferecerão um equipamento moderno, tecnicamente preparado para receber mais voos e novos modelos de aeronaves. No entanto, eu desconfio, essa transformação física não é suficiente, por si só, para garantir a integração efetiva da região à malha aérea nacional.
Para que o Aeroporto de Barreiras alcance sustentabilidade financeira e se torne um verdadeiro vetor de desenvolvimento regional, é necessário ir além do investimento em obras pontuais. O desafio é estrutural e estratégico: passa pela construção de uma política pública articulada, pelo fomento à economia local e, sobretudo, por uma visão de futuro capaz de transformar potencial em realidade.
Um aeroporto moderno, mas ainda economicamente inviável
Segundo o Plano Aeroviário Nacional (PAN) de 2018, aeroportos classificados como 3C, caso do Aeroporto de Barreiras, precisam registrar ao menos 150 mil passageiros por ano para que a receita obtida com as operações seja suficiente para cobrir os custos operacionais. Hoje, esse número está longe de ser alcançado. Isso significa que, mesmo com a modernização, o aeroporto seguirá demandando subsídios públicos por um período considerável — o que não invalida o investimento, mas exige um planejamento que vá além da estrutura.
Em outras palavras, a existência de uma pista ampliada e um terminal confortável não garantem, automaticamente, mais voos e mais passageiros. A conectividade aérea é um reflexo direto da dinâmica econômica e da atratividade regional. E é aí que entram as ações estratégicas que precisam ser lideradas sobretudo pela Prefeitura de Barreiras, com participação ativa da sociedade civil e do setor privado.
O exemplo do Jalapão e o potencial turístico da região
Uma lição importante vem do Tocantins. Segundo o estudo "Projeção de Demanda – Metodologia e Resultados", publicado pelo então Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil em 2017, a demanda do Aeroporto de Palmas tende a crescer de forma exponencial nos próximas 10 anos, impulsionada principalmente pelo turismo no Parque Estadual do Jalapão. O que isso mostra? Que a articulação entre turismo e infraestrutura aérea pode ser uma alavanca poderosa de desenvolvimento.
O Oeste da Bahia também possui belezas naturais, identidade cultural rica e uma localização estratégica que o coloca próxima ao agronegócio de ponta, à fronteira do Tocantins, aos atrativos do cerrado baiano e do próprio Jalapão. No entanto, falta ainda um esforço articulado para transformar essas vantagens em políticas de incentivo ao turismo regional consorciado, que envolvam municípios como Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Correntina, Baianópolis, Barra, Formosa do Rio Preto e até regiões do norte tocantinense.
Eu tratei exatamente disso no ano passado, durante a campanha eleitoral. Lembra?
Barreiras: de polo regional a liderança estratégica
Barreiras precisa assumir esse protagonismo. Mais do que ser um polo regional de fato, é hora de se tornar uma liderança estratégica na articulação de um grande projeto de desenvolvimento. Isso significa criar um ambiente de cooperação intermunicipal, estimular a economia criativa, valorizar os atrativos turísticos e investir em infraestrutura complementar.
Um exemplo claro dessa integração necessária é a construção de uma estrada pavimentada ligando a comunidade de KM30, na BR020, à BA826, na Serra da Bandeira. A obra, aparentemente simples, teria um impacto logístico significativo: facilitaria o acesso ao aeroporto por parte das populações de Luís Eduardo Magalhães, Roda Velha e Rosário, inclusive do norte do Tocantins, encurtando distâncias e superando o trecho íngreme que atualmente dificulta o deslocamento. Além disso, agilizaria o escoamento de cargas e insumos, ampliando o uso do aeroporto como terminal de carga, não apenas de passageiros.
Planejamento e visão integrada
A revista Esfera Brasil, da think tank (instituições que se dedicam a produzir conhecimento sobre diversos temas) de mesmo nome, em sua última edição, traz reportagem assinada pelo jornalista Carlos Tautz que reforça a tese que há muito tempo vem sendo debatida no Oeste da Bahia. O professor Elton Fernandes, titular dos Programas de Engenharia de Produção e de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ, afirma que “em locais onde a demanda potencial existe, gargalos de infraestrutura deficiente, custos elevados e a ausência de políticas integradas impedem que os aeroportos regionais desempenhem seu papel como vetores de desenvolvimento regional”.
Essa análise dialoga diretamente com o que vivemos em Barreiras. A demanda potencial existe — tanto no agronegócio quanto no turismo, comércio e serviços — mas a infraestrutura de acesso, a falta de integração entre os municípios e a ausência de estratégias públicas articuladas ainda são entraves significativos.
O papel da sociedade civil e o desafio do poder público
Iniciativas como o movimento Decola Oeste são fundamentais e merecem reconhecimento de todos nós. A sociedade civil organizada tem dado demonstrações claras de mobilização e compromisso com o desenvolvimento da região. Mas, é papel do poder público liderar esse processo, essencialmente a Prefeitura de Barreiras, que tem a responsabilidade institucional e a força política para coordenar um projeto de longo prazo.
O Aeroporto de Barreiras pode, sim, se integrar à malha aeroviária nacional, oferecendo voos regulares para diversos destinos e desempenhando papel logístico crucial. Mas essa conquista exigirá mais do que obras: será resultado de um projeto coletivo, planejado, integrado e de longo alcance, que una infraestrutura, políticas públicas, desenvolvimento regional e, claro, lideranças capazes de reunir interesses num único voo.
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