ARTIGOS
OAB e representatividade
Por um sonho de ver e viver uma Ordem verdadeiramente inclusiva
Por Carlos Sampaio*

Há cerca de 60 anos um negro que lutava pelos direitos civis falou que tinha um sonho, umsonhode representatividade, quematerializasse a igualdade de oportunidades às pessoas que historicamente sofriam com a discriminação e a segregação.
Um dia eu também sonhei, sonhei em ser um advogado. Muitos acharam que era um devaneio, diziam que um negro, filho de um mestre de obras e de uma dona de casa, nascido numa comunidade da Cidade Baixa, não conseguiria se formar, muito menos se tornar um advogado. Mas, depois de muito esforço, estudo e trabalho, alcancei aquele sonho!
Já advogado, vendo as dificuldades da profissão, sonhei em trabalhar em prol da defesa das prerrogativas da classe e contra toda forma de racismo edesvalorização da advocacia. Mais uma vez, ouvi vozes conformistas que diziam: “esqueça, você não faz parte do poder na OAB”.
Porém, com resignação e a muitas pessoas–pois, ninguém constrói nada sozinho–realizei também este sonho e entrei no sistema da Ordem, participando das Comissões de Prerrogativas e da Advocacia Negra, chegando ao Conselho Estadual e à vice-presidência da Comissão de Prerrogativas da Ordem.
Apesar de algum recente avanço na questão da inclusão, ainda não vemos negros e negras na presidência das comissões da OAB/BA (à exceção daquelas de temática negra). E mais, ainda não temos representação nos postos de direção mais altos e, especialmente, ainda não vimos um negro ou uma negra na presidência da Ordem do Estado mais negro do país!
Esta falta de representatividade impede que a Ordem saiba e sinta quais são os reais problemas que dificultam o sucesso profissional de quem sofre com a discriminação ou de quem vem de classe socioeconômica mais modesta. Porque é preciso ser negro ou negra para saber onde estão nossas dores e obstáculos, é preciso viver diariamente da advocacia para saber quais são os reais problemas da profissão na Bahia.
Assim, surgiu em mim um novo sonho; um sonho de ver e viver uma Ordem verdadeiramente inclusiva, com espaços de poder ocupados por pessoas que, como eu, pela cordapele e/ou pela origem social, ainda hoje não conseguem participar efetivamente das mais importantes decisões administrativas e políticas da OAB/BA.
Por isso que, perseguindo este novo sonho, anuncio publicamente uma nova caminhada, a ser trilhada na estrada da coerência com minhas origens, com meu discurso e com meus sonhos, afastando-me, portanto, da atual gestão da Ordem, em busca de melhoresdias para a Advocacia.
Novas palavras de desestímulo, vozes me instando contentar comosistema e oque alcancei, outras pessimistas, que não creem na madunça. Mas, inspiro-me na poesia negra: "emancipem-se da escravidão mental, ninguém a não ser nós mesmos podemos libertar nossas mentes”.
É chegado o momento de concretizarmos nossos sonhos, de criarmos o futuro que queremos: a mudança e melhores dias para a advocacia baiana.
*Carlos Sampaio é advogado e conselheiro da OAB/BA, onde também atuou como vice-procurador de prerrogativas
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