EC BAHIA
Paradoxo Rogério Ceni: o gênio tático que falha no salto decisivo
Saiba por que o City Group renovou, mas os resultados em decisões contestam a aposta a longo prazo no Bahia

Por Rafael Tiago

Rogério Ceni consolidou-se, inegavelmente, como um dos técnicos mais importantes nessa nova 'leva' de treinadores do futebol brasileiro. Seu trabalho no Bahia, assim como no Fortaleza em sua primeira passagem, é marcado por uma mentalidade ofensiva, alta taxa de vitórias e a capacidade de elevar o patamar do clube.
No entanto, uma sombra pesada paira sobre seu currículo recente: a dificuldade crônica e inaceitável em vencer os jogos-chave. O argumento não reside na sua competência tática ou no aproveitamento geral, que é notável e até empolgante em alguns momentos, mas sim na ausência do "instinto matador" necessário para as decisões, que tem custado caro ao Esquadrão.
Aproveitamento que não vira título
Para dimensionar o sucesso de Ceni, é preciso reconhecer a robustez de seus números. Em sua passagem pelo Bahia (de setembro de 2023 até 22 de novembro de 2025), o técnico ostenta um aproveitamento que gira em torno de 58% em 156 jogos, com um alto índice de vitórias (81 triunfos).
Esse desempenho é a base que permitiu ao Bahia garantir os títulos do Baianão e do Nordestão e conquistar uma vaga na Copa Libertadores da América. O alto aproveitamento é, de fato, reflexo da mentalidade vencedora que Ceni é elogiado por injetar no elenco.
O problema não é vencer; é vencer o que realmente importa.
Queda do salto em momentos decisivos
A tese de que Ceni falha em dar o "passo a mais" se apoia em uma coleção de resultados que impediram seus times de alcançarem metas ambiciosas. O padrão de construir uma grande campanha, mas perder o momento de consolidação, é recorrente e vergonhoso no retrospecto recente do Bahia.
Eliminações vergonhosas na Libertadores e na Sul-Americana
O auge do fracasso de Ceni em 2025 ocorreu na Copa Libertadores. O Bahia, sob sua gestão, falhou miseravelmente ao ser eliminado na fase de grupos, mesmo tendo a faca e o queijo nas mãos: a equipe precisava de apenas uma vitória em três partidas para avançar. O time demonstrou incapacidade de lidar com a pressão continental, caindo para adversários teoricamente inferiores e mostrando uma fragilidade mental que não condiz com a ambição da SAF.
Mais eis que uma segunda chance surge para o Bahia. Com a eliminação na Liberta, o Tricolor ganhou a oportunidade de disputar a Copa Sul-Americana. Teve até quem colocasse o time entre os favoritos, mas tudo foi pelo ralo logo de cara.
O time de Rogério Ceni empatou sem gols na ida com o América de Cali, na Fonte Nova, em um jogo apático, sem alma, sem garra. Triste de assistir. Como se os jogadores tivessem vivendo o luto da Libertadores ainda. Na volta, o Esquadrão tomou 2 a 0, no estádio Olímpico Pascual Guerrero, em Cali, na Colômbia, e deu adeus ao torneio na fase playoffs para as oitavas de final de forma melancólica.
Apático e sem reação: a adeus à Copa do Brasil
O cenário de falta de garra se repetiu na Copa do Brasil. Contra o Fluminense, o Bahia de Ceni apresentou uma postura apática e sem reação, uma presa fácil, sendo despachado da competição de forma que virou uma constante nos jogos-chave. Quando o adversário exige uma resposta à altura, o Bahia simplesmente se esvai, sem conseguir mudar o ritmo tático ou motivacionalmente em campo.
Inconstância no Brasileirão e o trauma do Ba-Vi
No Campeonato Brasileiro, a queda de rendimento em momentos cruciais é sintomática. A derrota recente para o Fortaleza (3-2) na Fonte Nova é o sintoma exato dessa fragilidade. Uma vitória em casa recolocaria o Bahia na 5ª colocação e dentro da zona da fase de grupos da Libertadores, mas a derrota manteve o time estagnado e com risco de ir para a Pré-Libertadores mais uma vez.
Clássico Ba-Vi
A incapacidade de vencer jogos decisivos fica ainda mais evidente no clássico contra o Vitória - ganhou o Baianão sem mostrar superioridade contra um rival em crise. No Brasileirão de 2025 (na 28ª rodada), a derrota por 2 a 1 em no Barradão, com o Leão vivendo momento péssimo, impediu o Esquadrão de se aproximar do G4.
Essa derrota foi marcada por falhas individuais e pela improvisação criticada na lateral esquerda que resultou em gol do adversário, expondo a fragilidade do time em momentos de alta pressão e as decisões controversas do treinador.
Efeito Fortaleza: um padrão de carreira
A passagem de Ceni pelo Fortaleza (especialmente a primeira fase) é o blueprint (mapa visual detalhado de um processo de serviço, que serve como um plano para organizar e melhorar a experiência) do que hoje se vê no Bahia.
Ceni elevou o clube cearense, mas essa ascensão nunca foi consolidada com um título de grande expressão ou permanência duradoura. Ceni deixou o Fortaleza duas vezes por clubes maiores (Cruzeiro e Flamengo), sempre antes de conseguir o salto definitivo, reforçando a ideia de que seu ciclo é mais sobre o progresso estrutural do que a vitória decisiva.
Evidências estatísticas da inconsistência
- Chances perdidas: O Bahia, sob o comando de Ceni, chegou a liderar o ranking de chances claras de gol desperdiçadas na Série A. A falta de frieza para finalizar quando necessário é fatal em jogos decisivos e reflete a ineficácia em transformar o volume de jogo em resultados concretos.
Fator SAF: a visão de longo prazo cega para as eliminações?
Apesar da série de frustrações em jogos decisivos e eliminações vergonhosas, o City Football Group (CFG) demonstrou confiança inabalável ao renovar o contrato de Rogério Ceni até dezembro de 2027. Esta decisão sugere que a SAF prioriza a consistência estrutural e a manutenção do alto aproveitamento médio em detrimento de conquistas imediatas em mata-mata.
As derrotas em jogos-chave, nesse contexto de longo prazo do CFG, são vistas como "erros de percurso" dentro de um projeto de sustentabilidade e crescimento. Resta saber até quando o torcedor do Bahia aceitará trocar títulos por "progresso estrutural" e ser humilhado em decisões.
Ceni consegue entregar mais?
Rogério Ceni é o treinador do paradoxo: constrói a rampa, mas seus times falham no voo. O Bahia atingiu um patamar elevado com seu técnico, mas para finalmente quebrar esse "teto de vidro" e transformar uma campanha sólida em uma conquista de elite, a solução pode passar por:
- Pragmatismo tático: É imperativo que Ceni adote, em jogos de alta pressão e eliminatórios, um pragmatismo tático que minimize falhas defensivas, abandonando a filosofia "tudo ou nada" que tem levado a derrotas apáticas.
- Reforços decisivos: O investimento da SAF deve buscar atletas com histórico de atuações decisivas em finais, elevando a "frieza" do elenco que hoje é um problema.
- Ciclo Ceni: O maior risco é que, se o padrão de perdas decisivas persistir (como as eliminações de 2025), o ciclo de Ceni se esgote mentalmente no vestiário antes do fim do contrato, exigindo uma interrupção forçada por falta de conquistas concretas. O tempo mostrará se a aposta da SAF, que valoriza a performance média, será recompensada com o título que o torcedor tanto anseia.
No Fortaleza, o salto a mais só veio com a demissão de Rogério Ceni e a chegada do então desconhecido argentino, Juan Pablo Vojvoda, que colocou o time na Libertadores pela primeira vez na histporia, além de belas campanhas do Brasileirão.
No Bahia, Ceni ainda tem tempo para provar que pode ir além, mas o jogo de hoje, 23 de novembro, contra o Vasco, na Fonte Nova, pode definir um novo rumo na carreira do treinador, principalmente em caso de derrota. A nós, só resta esperar como Rogério e o time irão reagir nessa busca por uma vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores da América.
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