ARTIGOS
Porto Sul, Fiol e Variante do Paraguaçu: a sequência certa para o desenvolvimento equilibrado da Bahia
Confira o artigo do ex-secretário de Ilhéus

Por Isaac Albagli, ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Ilhéus

Antes de qualquer divergência técnica, é essencial reconhecer a relevância intelectual do ex-senador Waldeck Ornélas para o debate sobre infraestrutura da Bahia. Seus artigos são sempre qualificados e orientados pelo interesse público. É justamente por considerar sua visão estratégica importante para o estado que vale contribuir para o debate aberto em suas reflexões.
Em artigo recentemente publicado no Bahia Econômica, Ornélas defende que a obra prioritária para o desenvolvimento logístico do estado seria a construção imediata da Variante Ferroviária do Paraguaçu, viabilizando a plena integração da Ferrovia Minas–Bahia (FCA) e a FIOL com os portos da Baía de Todos os Santos. A argumentação é tecnicamente articulada e faz sentido dentro da ótica logística da Região Metropolitana de Salvador. Contudo, um aspecto decisivo não apareceu em sua análise: o efeito dessa antecipação sobre o Porto Sul e sobre o desenvolvimento econômico do Sul da Bahia.
A questão não é se a Variante do Paraguaçu é importante. Sim, ela é. O ponto é quando e em qual sequência ela deve ocorrer. Construí-la antes de o Porto Sul estar em operação significa, de maneira incontornável, direcionar toda a produção do Oeste baiano e Centro-Oeste do Brasil para os portos da BTS.
Com isso, o debate deixa de ser meramente ferroviário e passa a ser sobre o modelo de desenvolvimento da Bahia. Se a ligação FIOL–FCA for antecipada, agora com a proposta da implantação de um terceiro trilho, e a construção da variante em questão, o Porto Sul, que é maior projeto de interiorização logística do estado, perde atratividade, investimentos e competitividade antes mesmo de iniciar suas obras. E, junto com ele, perde a região Sul da Bahia a oportunidade histórica de acesso ao mapa da infraestrutura nacional.
O Porto Sul não é um empreendimento isolado. Ele é vetor para a instalação de processadoras, centros logísticos, pesquisa aplicada, emprego qualificado e nova dinâmica econômica regional. Ignorar o impacto da antecipação da Variante do Paraguaçu é, mesmo sem intenção, reforçar o processo de concentração de investimentos na RMS, enquanto o Sul da Bahia permanece à margem, como esteve por décadas.
É por isso que a divergência não é técnica, mas estratégica: não se trata de escolher entre o Porto Sul e os portos da Baía de Todos os Santos, e sim de estabelecer a ordem correta para que ambos prosperem. Primeiro, consolidar o Porto Sul e dar competitividade ao Sul da Bahia; depois, integrar a ferrovia a múltiplas opções portuárias. A Bahia tem muito a ganhar quando todos os seus territórios se desenvolvem, e não quando o progresso de uns anula as perspectivas de outros.
Bem disse um analista aqui no jornal A Tarde: A Bahia não pode brigar com a Bahia.
Nada impede que, no futuro, Waldeck Ornélas esteja certo ao propor a plena integração ferroviária com Salvador. Mas defendê-la agora é, na prática, definir que Ilhéus e região continuarão no papel periférico que lutam para superar. A Bahia precisa crescer inteira, com Salvador, com o Oeste e também com o Sul.
Defendemos, portanto, que a Bahia avance na integração logística com equilíbrio territorial, estratégia de longo prazo e visão inclusiva de futuro.
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