ARTIGOS
Povo brasileiro vence e sepulta PEC da Blindagem
Confira o artigo de Cássio Moreira sobre decisão da CCJ

Por Cássio Moreira

Não vingou a PEC da Blindagem. A vontade popular expressada nas ruas no final de semana enterrou o que seria o maior escárnio do parlamento brasileiro nos últimos tempos - e olha que não faltam exemplos recentes, se for fazer uma revista.
Coube ao Senado, capitaneado pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD), a honrosa missão de enterrar o putrefato texto aprovado pela Câmara dos Deputados sem qualquer pudor. A pá de cal foi jogada pelo senador Alessandro Vieira (MDB) que, por ironia, fez justiça sendo delegado da Polícia Federal.
Todo político de mandato, por natureza, já está blindado. Está aí o foro privilegiado, que cria mil e uma barreiras nos processos contra os parlamentares. Mais do que isso, obviamente, seria uma estratégia para tornar os políticos figuras inalcançáveis, acima de qualquer lei e mais poderosos do que qualquer autoridade judicial. Aí seria invertida a lógica e questionada a existência da Justiça.
Fica como recado o ainda existente poder de mobilização da sociedade. Seria irresponsável falar que foram atos de 'esquerda', como tem sido pregado por alguns políticos. O que se viu nas ruas foi um 'grande acordo nacional', parafraseando o ex-senador Romero Jucá. Vermelhos, azuis, verdes e amarelos tomaram os grandes centros urbanos e fizeram o barulho necessário tomar de volta o poder de decisão dos rumos do Brasil.
Aposentados, artistas, políticos, empresários, estudantes. Todos estavam juntos gritando em alto e bom som que não aceitariam a PEC. Lá de Brasília, os entusiastas da ideia, que ultrapassava todas as noções de absurdo na política brasileira, entenderam 'a pulso' que o debate havia saído das 'quatro linhas' do Congresso Nacional e invadido as casas, bares e redes sociais, e que o 'pequeno arranhão' já havia se tornado uma enorme rachadura nas paredes Congresso.
No Senado, o destino da PEC já estava selado: o caixão da CCJ. Otto Alencar não titubeou e deixou claro que a matéria não teria vez na comissão, ainda que o rito precisasse ser seguido. O movimento do senador e o que foi visto nas ruas no último final de semana, com a nata da música brasileira em peso em cima dos trios elétricos, e com os cartões postais do Brasil tomados pelo povo, como não se via há muito tempo, guiaram os parlamentares que agora estavam responsáveis pelo polêmico texto.
Não deu outra, claro, e o texto foi morto e sepultado, e de maneira unânime, sem qualquer barulho contrário dentro da CCJ do Senado. Ficou a lição de que o brasileiro ainda tem poder de mobilização, de que qualquer debate sobre os rumos do país deve ter o crivo da população e de que a impunidade e a blindagem não vão nortear o Brasil, como queriam os deputados federais que votaram pela aprovação da matéria.
Em bom português: caiu a PEC e ficou a democracia brasileira, viva e pujante, como sonharam aqueles que tanto lutaram por ela no passado. Os que votaram a favor dela na Câmara e defenderam seus próprios umbigos, como de praxe, terão que se explicar com o povo e com a história, quase sempre implacável com os seus traidores.
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