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Régi
Confira o artigo de André Curvello
Por André Curvello
Meu pai morreu no dia 29 de março de 2002. Muito difícil dar a notícia aos meus dois filhos, ainda crianças e apaixonados pelo avó. Andrezinho chorou copiosamente e Caio ficou silente. Não foi fácil.
Mais triste do que aquele dia, foi quando recebi o diagnóstico implacável da doença que matou meu pai. Fiquei sem chão e - partir dali - ao longo de quatro meses, alimentei na família a vã esperança da sua cura.
Neste dia 29 de janeiro, será cremado às 10 horas no cemitério Jardim da Saudade, o outro avó dos meus filhos, o vô Reginaldo, o Régi. Ele disputava com meu pai a atenção e a companhia dos netos. Eram amigos e a disputa acontecia dentro da quase máxima lealdade. Quase, pois volta e meia havia a prática da chantagem emocional de ambas as partes. Meus filhos tiveram muita sorte por terem convivido com avôs especiais que lhes dispensaram amor e carinho.
Reginaldo foi meu primeiro sogro e conseguimos criar uma amizade sólida, apesar de um começo difícil lá pela minha adolescência. Emotivo, rebelde, descuidado com a saúde, era solidário e prestativo. Humilde, me surpreendeu certa vez pagando o boleto de uma semestral do primeiro apartamento que comprei. Ele sabia do momento financeiro pelo qual eu passava e decidiu ajudar, mesmo fazendo enorme sacrifício para aquilo. Meu casamento não duro muito tempo, mas o respeito e amizade serão para sempre.
Regi desdenhava da morte e costumava afirmar que queria morrer aos 65 anos. Não tinha argumentos sólidos para isso, mas temia ficar doente. Mas não é tão simples escolher o dia da partida e Deus lhe presenteou com mais 15 anos dando-lhe alegria de conviver com uma família que muito lhe amou.
Certa vez, foi salvo pelo brilhante médico e cirurgião Fernando Filgueiras, depois de negligenciar dores causadas por uma apendicite. Foi dado como morto, mas sobreviveu. Fumava, não respeitava dietas e fazia o bem às pessoas. Sistematicamente implicava e acusava Dona Leda pelo desaparecimento de uma tartaruga. A hoje tristeDona Leda, conformada, sabe que seu amor e guerreiro descansou. Lutou bravamente até o final.
Diferente daquele 29 de março de 2022, a situação se inverteu: foram meus filhos que deram a notícia da morte do outro avó. Andrezinho aos prantos. Caio, não. Tristeza deles dói muito em um pai apaixonado. Lembrei-lhes que perdi um amigo de quase 45 anos, que na condição de contador, abriu minha empresa há 30 anos, que esteve ao meu lado em momentos difíceis. Falei para meu filhos que o avô Reginaldo fez parte da minha história.
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