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Pedro Menezes

Por Pedro Menezes*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025 às 17:21 h • Atualizada em 14/02/2025 às 18:16 | Autor: Pedro Menezes

Trump superestima EUA, irrita aliados e ajuda China

Alguma coisa está fora da ordem, fora da Nova Ordem Mundial. Nos resta saber o que virá por aí

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Imagem ilustrativa da imagem Trump superestima EUA, irrita aliados e ajuda China
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No fim da Guerra Fria, a economia dos Estados Unidos era a maior do planeta. Os políticos dos Estados Unidos lideravam um bloco que literalmente dominava o PIB mundial. Daí vinha o status da superpotência.

No início dos anos 1990, segundo dados do FMI, pouco mais de metade do PIB mundial vinha de 7 economias. Conhecido como G7, esse grupo era formado pelos EUA e 6 aliados íntimos que reconheciam a liderança estadunidense. Afinal, a economia dos Estados Unidos respondia, sozinha, por mais de 20% do PIB global. Ninguém chegava perto. Nem os outros países do G7, justamente os mais ricos do mundo, que juntos produziam cerca de 30% do PIB global.

Dentre as outras grandes economias do planeta, as mais importantes também tinham os EUA como aliado preferencial. Brasil, México, Espanha, Holanda, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Austrália, Turquia, Bélgica, Portugal e África do Sul são apenas alguns exemplos de países próximos dos EUA. Desse modo, o bloco liderado pelos Estados Unidos superava 80% da economia mundial com certa tranquilidade. Fez-se assim a hegemonia.

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Naquele início dos anos 1990, a China era bem menos relevante e respondia por 3% do PIB global. Somando com a União Soviética e outros possíveis inimigos americanos, com sorte daria pra chegar em 10% da economia global. O problema é que muitas ex-repúblicas soviéticas gentilmente entraram para a zona de influência americana após a Guerra Fria. Até a Rússia e a China reconheciam a liderança dos EUA naquele período. Ninguém podia bater de frente com os americanos. O jeito era se unir a eles.

O mundo mudou - e não foi pouco! Hoje, a China responde por cerca de 20% da economia global e essa fatia está crescendo. Já os EUA respondem por 15% do PIB mundial. O resto do G7 também desabou e, junto, o grupo tem cerca de 1/3 da economia mundial. Pra piorar, a tendência atual é que, nos próximos anos, o G7 responda por uma parcela cada vez menor da economia global. É normal: países mais ricos tem maior dificuldade de crescer.

Há um agravante nessa tendência. Os EUA e seus aliados não tinham apenas um PIB maior, mas também acumulavam mais riqueza. Eram os países mais ricos do mundo há muito tempo. Por isso, os grandes projetos pelo mundo dependiam de capital dos Estados Unidos e de seus aliados. Veja quem participou dos leilões de estatais no Brasil durante os anos 1990: a grande maioria dos investidores vinha do “velho mundo”, do Japão e dos Estados Unidos.

Essa foi outra mudança das últimas décadas. Hoje, além de ter uma economia maior que a americana em termos absolutos, a China poupa quase metade do seu PIB. Os EUA poupam menos de 20%. As economias da Europa também ficam muito atrás dos chineses na taxa de poupança. Apesar de se dizer comunista, a China força seus cidadãos a poupar, pois não oferece um sistema de saúde e previdência social minimamente digno.

Por conta dessa elevada taxa de poupança, os chineses tem mais dinheiro para aplicar em grandes projetos de todos os continentes. Como consequência, a China se aproximou de quase todo o mundo. É por isso que uma empresa chinesa assumiu a fábrica da Ford em Camaçari. A China é o país que mais comercializa com o Brasil, assumindo uma posição que foi dos Estados Unidos por muitas décadas.

Nesse contexto, os EUA precisam manter uma posição de liderança junto a outros países. Só assim será possível assegurar o status de superpotência global. Trump tem feito o contrário. Desde a posse do novo governo, os Estados Unidos começaram a brigar com literalmente todos os seus grandes aliados históricos. Curiosamente, Trump briga pouco com a Rússia, mas parece disposto a um conflito constante as maiores economias da União Europeia e do continente americano

Não satisfeito, o presidente americano cogita até mesmo sair da OTAN. A Five Eyes, importante rede de espiões e inteligência internacional, também pode deixar de ter os EUA como membro. Trump mostra disposição para passar 4 anos brigando com os maiores aliados históricos de seu país. Ele fala do mundo como se estivesse no início dos anos 1990, quando os EUA aguentavam esse tipo de briga com tranquilidade.

Numa edição recente do A TARDE da Noite, programa que apresento de segunda a quinta às 21h no A TARDE Play, um dos espectadores disse que Trump até parece um agente chinês. É um exagero, mas vale como piada. De fato, Trump é um aliado acidental da China.

Não temos evidências para dizer que o presidente americano está traindo conscientemente o próprio país. Ele é laranja, mas não é necessariamente um laranja da China. É mais provável que Trump queira formar uma oligarquia interna, desonerar ricos e proteger empresários da competição externa.

Talvez o presidente americano consiga ganhar apoio de seus amigos oligarcas para concretizar planos de curto prazo. O problema dessa estratégia é o médio prazo, que parece pouco relevante para um octogenário patologicamente egoísta. Afinal, a médio prazo, Trump vai morrer. Importando-se apenas com o próprio poder em seus últimos anos de vida, o presidente americano penhora o futuro político do próprio país, criando um ambiente perfeito para que os Estados Unidos percam seu status de grande potência global.

*Pedro Menezes é analista político do Grupo A TARDE

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