ARTIGO
Uma cadeirada no lombo esclarecedora
Por Jolivaldo Freitas
Por Jolivaldo Freitas
Claro que Pablo Marçal estava doido para apanhar de alguém, e o bobo da corte foi o apresentador Datena. Marçal apareceu na política, subiu como um foguete da SpaceX e começou a cair como um míssil da Coreia do Norte. Ele precisava de um fato consumado. Tanto que, depois de sair do debate na TV Cultura, entrou numa ambulância, colocou máscara de oxigênio, gravou, chegou ao hospital e disse estar em estado de emergência, mas foi desmascarado por um desses meninos que atuam nas mídias sociais, que descobriu no braço dele uma pulseira verde, daquelas que os hospitais colocam na entrada para atendimento, e a verde significa paciente sem grandes problemas. Nada de urgência, nem emergência, mas daí é outra história.
O que vale mostrar aqui é que os debates televisivos estão entrando num processo de morte. Ou mudam sua configuração — coisa que vem sendo copiada dos norte-americanos desde 1960, quando o primeiro debate na TV foi realizado, confrontando as ideias de Richard Nixon e John Kennedy (este último venceu perante uma audiência de mais de 60 milhões de pessoas) — ou o destino é virar piada, com o público preferindo "maratonar" uma boa série na Netflix ou dormir.
No Brasil, onde o primeiro debate ocorreu em 1989 na Rede Bandeirantes, apresentado por Marília Gabriela, tivemos grandes debates, como esse primeiro, com a participação histórica de Leonel Brizola, Mário Covas, Maluf, Lula, e foi uma pena para a história que Collor fugiu do debate e Ulisses Guimarães não pôde comparecer. Quem esquece o debate, tempos depois, entre Lula e FHC? Mas o tempo vem mostrando o desgaste da fórmula, e a "cadeirada" é apenas mais um dos fantasmas que rondam esse tipo de "divertimento", pois os debates se transformaram num circo: ou de diversão ou de terror.
Os debates sempre levaram em conta que se estava atuando na prática da democracia, voltados para os candidatos demonstrarem suas ideias, seus planos, sua plataforma em prol da cidade, do estado ou do país. Teria de ser algo civilizado, em que os ideais e os posicionamentos políticos dessem uma ideia menos vaga do que pensa o candidato escolhido por cada um, confrontando-os com o pensamento dos adversários.
Mas hoje, com o Brasil (e também os Estados Unidos e a Europa) em conflagração de ideais de esquerda, direita e extrema direita — e ainda temos aqui um Centrão sem-vergonha muito dividido —, realizar debates é correr risco ou exacerbar o clima de virulência que está no ar desde os erros cometidos por Lula e pelo PT, seguidos pelos erros crassos cometidos por Bolsonaro, seus filhos e seus ministros.
A solução que vejo daqui para a frente — sempre atuei como coordenador de marketing político e, desta vez, preferi me ausentar, rejeitar convites justamente para apreciar de longe e aprender o que está sendo realizado de bom e de ruim num momento em que se lida com mentiras, fakes, destruição de imagens e informações deturpadas — é as emissoras de TV investirem em grandes entrevistas. Pega-se o horário destinado ao debate e se colocam entrevistas em que os candidatos terão tempos maiores para demonstrar o serviço que querem realizar em prol do povo. Pois política é servir direito e certo ao povo. O resto é Pablo Marçal, Bolsonaro e Lula. E tem mais, juro, pode acreditar.
Jornalista e romancista, autor do romance “Os Zuavos Baianos contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás” e “Histórias da Bahia – Jeito Baiano”.
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