Velhice de Biden faz de Trump o favorito
Democrata sofre para completar frases em debate e consolida favoritismo de adversário
Tyler Harper, colunista da The Atlantic, descreveu o primeiro debate entre Biden e Trump como “um evento médico de 90 minutos imposto a nós por lunáticos arrogantes que preferem perder a admitir que estão errados”. De fato, após o primeiro debate americano só se falou sobre a saúde do presidente, que tem 81 anos e quer continuar no cargo até os 86.
No dia seguinte ao debate, viralizou um print das colunas New York Times, pois todas defendiam a mesmíssima tese desde a manchete: o presidente americano não tem condições de concorrer à presidência. Pouco depois, o jornal nova-iorquino publicou a mesma coisa em editorial.
Quando procurados por repórteres de diversos veículos, assessores do presidente americano responderam que ele é assim mesmo, mas consegue falar coisas compreensíveis e completar frases entre 10 da manhã e 4 da tarde. O debate às 10 da noite teria sido muito tarde, na visão desses assessores. Se Putin fizer bobagem, que seja entre 5 da tarde e 11 da noite no horário de Moscou. O presidente americano teria dificuldade pra lidar com o problema nos outros três quartos do dia.
🇺🇸 Joe Biden trava e mal consegue finalizar raciocínio sobre o Medicare, o sistema de planos de saúde gerido pelo governo dos Estados Unidos da América. pic.twitter.com/xBMkLv6Bak
— Eixo Político (@eixopolitico) June 28, 2024
Ian Bremmer, presidente da Eurasia, que presta consultoria de risco político para grandes empresas de todo mundo, diz que “todos os grandes aliados dos Estados Unidos no mundo” agora tem uma mesma opinião: Biden é completamente inapto para ser presidente dos EUA, pois está muito velho.
A CBS publicou uma pesquisa em que 72% dos eleitores, quase 3 de cada 4, acha que Biden não deveria ser candidato por conta da sua idade e condição de saúde. Cerca de 50% tem a mesma opinião sobre Trump, que tem 78 anos.
Esse é um dos fatores que explicam o favoritismo de Trump no momento. Segundo a estimativa do renomado analista Nate Silver, a probabilidade de vitória do republicano está pouco maior que 70%. Trump já venceu uma eleição como azarão em 2016 e quase venceu em 2020. Agora ele é favorito.
Na pesquisa AtlasIntel, a mais precisa em 2020, Trump aparece com 5 pontos percentuais de vantagem no voto popular, e 15 pontos percentuais de vantagem entre os mais jovens. Na média das pesquisas, a vantagem é um pouco menor: mais ou menos 3 pontos percentuais na estimativa de Nate Silver.
Além de estar à frente no voto popular, Trump tem a seu favor o chamado “viés do colégio eleitoral”. Dadas as preferências do eleitor americano, o candidato republicano tende a ir melhor no colégio eleitoral do que no voto popular. E é o colégio eleitoral quem decide a eleição.
Em 2016, Trump ficou 2 pontos percentuais atrás de Hillary no voto popular, mas foi eleito no colégio eleitoral. Em 2020, Trump recebeu 7 milhões de votos a menos e ficou 5 pontos percentuais atrás de Biden no voto popular, mas virar menos de mil votos em 3 estados daria a eleição a favor de Trump.
É por isso que a vantagem de Trump no voto popular deixa o republicano com a perspectiva de uma vitória tranquila. Nate Silver também estima que Biden só se torna o favorito se tiver uma vantagem de pelo menos 2 pontos no colégio eleitoral, e mesmo assim pode perder a eleição.
Se Biden vencer no voto popular com uma vantagem significativamente inferior a 4 pontos percentuais, Trump tem chance de vencer. E, hoje, é Trump quem está a frente com certa folga.
Trump não é muito mais novo. Ele tem 78 anos e terminaria um segundo mandato com 83, mas conseguiu completar suas frases no debate e até debochou do adversário. Eleição é comparação e, por isso, a velhice de Trump é muito menos discutida, mas o jogo pode virar se os democratas trocarem de candidato.
Apesar dos inúmeros pedidos, Biden insiste na reeleição e ainda não há conversas oficiais sobre uma troca de candidato. Desse jeito, Donald Trump tem o caminho aberto para voltar à presidência dos Estados Unidos.
*Pedro Menezes é economista e analista político