A TARDE BAIRROS
Parque Costa Azul resiste como espaço para eventos culturais à beira-mar
Inaugurado em 1995 sobre as ruínas do antigo Clube Costa Azul, o espaço nasceu multifuncional
Por Divo Araújo

Mais do que área de lazer ou prática esportiva, o Parque Costa Azul se firmou, ao longo dos anos, como um ponto pulsante da cultura viva de Salvador. Em seus 55 mil metros quadrados, a arte, a música e os encontros comunitários seguem presentes, mesmo diante dos desafios estruturais que limitam seu potencial.
Inaugurado em 1995 sobre as ruínas do antigo Clube Costa Azul, o espaço nasceu multifuncional — e assim permaneceu. Entre pistas de cooper, parquinhos, ciclovias e academia ao ar livre, abriga também um anfiteatro com capacidade para 600 pessoas. Mas, curiosamente, é a área acima da concha acústica, onde a circulação é mais livre, que vem se tornando o principal palco de eventos culturais nos últimos anos.
É neste espaço, por exemplo, que vem sendo realizado o já tradicional Oxe, é Jazz. A cada nova edição do projeto, o parque se transforma em uma grande sala de concertos aberta ao público e ao mar, como aconteceu nos dias 8 e 9 de agosto – uma sexta e sábado.
Curador do evento, o guitarrista e cantor Eric Assmar lembra que o Parque Costa Azul não foi apenas mais um endereço na trajetória do Oxe, é Jazz — acabou se tornando a sua casa. Segundo ele, o bairro e os arredores abraçaram o projeto de forma calorosa, com apoio constante dos moradores e uma adesão cada vez maior do público.
“A gente consegue receber pessoas de todas as partes de Salvador, de diferentes classes sociais e até turistas que viajam especialmente para assistir. O acesso gratuito quebra barreiras e amplia o alcance do festival”, conta Eric.
O Oxe, é Jazz movimenta a economia criativa que se instala em torno do evento: barracas de comida e bebida, feira de vinil, espaço kids e outros atrativos que transformam a apresentação em um programa para todas as idades. “É comum ver famílias inteiras, crianças correndo, idosos aproveitando. Isso cria uma atmosfera única, que fideliza o público e mantém o projeto vivo mês a mês, sempre respeitando o espaço e a rotina do bairro”, acrescenta o músico.

Festas populares
Além da música, o Parque Costa Azul também virou cenário para festas populares feitas especialmente para as crianças, como o São João das Crianças e o Carnaval das Crianças.
Nessas datas, o parque se enche de famílias, cores e risos, com teatro, oficinas, contação de histórias e até quadrilhas mirins. Mais do que diversão, são momentos que aproximam as pessoas, fortalecem laços e mostram como o espaço é um verdadeiro ponto de encontro e de formação cultural.
O São João das Crianças deste ano, por exemplo, transformou o Parque Costa Azul em um grande quintal junino, com 14 atrações espalhadas entre palco, oficinas e recreação.
Ao longo dos dois dias, a música, o teatro, a dança e as brincadeiras fizeram a alegria de cerca de 10 mil pessoas. Entre bandeirolas coloridas e o cheirinho de comidas típicas, famílias inteiras se reuniram para celebrar a tradição.

As crianças, com os rostos pintados pela Turma da Lara, se dividiam entre a contação de histórias, o forró da Quadrilha Mirim e as apresentações de grupos como Musiclauns e Canela Fina — vivendo a cultura popular de um jeito lúdico e divertido.
No Carnaval não foi diferente. Além da agenda de shows e brincadeiras, a folia da garotada transformou o parque em um verdadeiro cenário de fantasia, com cores, música e alegria por todos os cantos. Foram mais de 15 atrações distribuídas ao longo dos três dias, entre apresentações musicais, oficinas e atividades interativas.
O espaço ganhou decoração temática, áreas de sombra para o descanso das famílias e pontos de apoio com água e segurança reforçada, garantindo que a diversão fosse leve e segura para os pequenos foliões.
Em dezembro de 2024, o parque também recebeu a 15ª Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária, transformando-se em vitrine da produção rural do estado, com estandes, gastronomia, arte e atrações musicais.
Com mais de quatro mil produtos e a presença de cooperativas de todo o Nordeste, o evento reafirmou o potencial do parque como espaço plural e multifacetado. Pela presença maciça do público e pela repercussão, o evento tem tudo para voltar a ser realizado no final deste ano.

Desafios do parque
Todos esses eventos realizados anualmente no Parque Costa Azul mostram que o espaço tem estrutura para receber atrações de médio e grande porte. Porém, para que esse protagonismo cultural avance, é necessário enfrentar desafios antigos: a insegurança, a degradação do Rio Camurujipe e o atraso nas obras públicas que dificultam a valorização da região.
A manutenção do Parque Costa Azul é responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder), que cuida da conservação predial e da limpeza das áreas externas, incluindo os playgrounds e o parque infantil.
Segundo Adriana Barros, diretora administrativa da Conder, o órgão mantém uma equipe de nove pessoas dedicadas à administração do espaço, com agentes, serventes e vigilância patrimonial atuando em regime de plantão para garantir a organização do parque.
Ela destaca que o anfiteatro e o espaço que fica acima dele são o coração do parque, sendo os locais que mais atraem público, tanto da comunidade local quanto de outras regiões de Salvador. Para ela, sua utilização intensa é um sinal claro da vitalidade cultural do espaço.

Ela ressalta a importância de manter o espaço acessível e em boas condições para que cada vez mais pessoas possam usufruir dele, fortalecendo a vocação do parque como um ponto de encontro cultural e comunitário.
“Entendemos que espaços públicos bem utilizados estimulam a participação popular e geram impacto positivo na qualidade de vida e na valorização da região”, diz ela. “O nosso papel, realmente, é fomentar a utilização do parque.”
Um dos principais problemas estruturais atuais do parque é o abandono da área dos antigos restaurantes, cedida à Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), que prometeu transformar o local em um complexo integrado das polícias Civil e Militar. Fechada por tapumes, essa área ajuda a criar um clima de insegurança que afasta muitos frequentadores nos dias em que o parque não está ocupado por eventos.
Em nota encaminhada à reportagem, a assessoria de comunicação da SSP-BA informou que unidades das Polícias Militar e Civil estão em construção na área do antigo Parque Costa Azul. “A SSP acrescenta ainda que tem fiscalizado a execução da obra, visando a inauguração das novas unidades no primeiro semestre de 2026”, diz a nota.

Opção pelos eventos
Enquanto isso não acontece, os moradores do Costa Azul e adjacências estão optando por frequentar o Parque Costa Azul durante a realização de eventos, como o Oxe, é Jazz. Esse é o caso do empresário Gilson Corrêa Ribeiro, que acompanha o festival desde suas primeiras edições.
Para ele, o que mais atrai é o ambiente familiar e acolhedor, além da praticidade de morar próximo ao local, o que elimina preocupações como dirigir após beber.
Ribeiro destaca que, apesar da infraestrutura existente, o parque carece de melhorias, especialmente em banheiros e segurança. Ele acrescenta que o espaço onde acontece o Oxe, é Jazz tem potencial para ser ainda mais vibrante, tanto para a comunidade local quanto para visitantes.
“Aqui é maravilhoso para o Costa Azul e para quem vem de fora também. O público é seleto, são famílias e pessoas acolhedoras que fazem desses eventos momentos especiais”, afirma.
Quem também frequenta assiduamente o Oxe, é Jazz é a psicóloga Tássia Veloso, mãe de gêmeos de dois anos e meio. Ela conta que costuma levar os filhos ao parque todas as sextas-feiras que tem o evento gratuito, aproveitando o ambiente aberto e familiar que o evento proporciona.
“O parque Costa Azul faz parte da minha infância, sempre brinquei muito aqui. Hoje ele está mais abandonado, o que é uma pena, porque tenho muitas memórias positivas. Com o evento, o ambiente fica mais seguro e tranquilo”, relata.
Tássia destaca que o Oxe, é Jazz une música e acolhimento para as famílias, criando um espaço onde todos se divertem e se socializam.
“Conseguimos comer, beber, e as crianças brincam enquanto as famílias se encontram. Inclusive, acabamos envolvendo outras famílias da escola, e hoje formamos um grupo que se reúne lá, um momento importante de socialização para as crianças fora da escola.”
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