A TARDE BAIRROS
São João no Pelô impulsiona cultura e economia no Centro Histórico
Confira entrevista com o secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar
Por Joana Lopo

O São João no Pelourinho é, além de uma celebração junina, um encontro entre história, cultura e identidade. Com igrejas seculares como palco e casarões coloniais iluminados pelas cores do forró, a festa resgata a essência do Centro Histórico e transforma o espaço em um grande arraial urbano. À frente da Secretaria de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar aposta nesse cenário como diferencial não só turístico, mas estratégico, especialmente para a economia local.
Nesta entrevista ao A TARDE, o secretário destaca que para além da festa, o São João tem se consolidado como motor de revitalização do Pelourinho por meio da movimentação intensa de turistas e soteropolitanos, que injetam ânimo e renda em uma região que combate o movimento de esvaziamento. Ele também revela quais os projetos estruturantes estão em curso, que pretendem dar ao Pelourinho um papel contínuo e sustentável como polo de economia criativa, turismo e moradia. Afinal, como ele mesmo pontua, “cultura e desenvolvimento urbano podem — e devem — caminhar juntos”.
1. O São João no Pelourinho é um dos eventos mais tradicionais de Salvador. Qual você considera que é o grande diferencial dessa festa em relação a outras celebrações juninas na cidade e no estado?
Maurício Bacelar- O São João do Pelourinho se destaca por unir tradição, localização histórica e uma programação cultural diversificada, consolidando-se como uma das celebrações juninas mais icônicas da Bahia. Diferente dos arraiais típicos do interior, o evento acontece no Centro Histórico de Salvador, no Pelourinho, que é um dos cartões-postais mais visitados do Brasil, o que por si só já é um atrativo único.
Além da conveniência para famílias que desejam vivenciar o clima junino sem precisar viajar para o interior, o São João do Pelourinho se diferencia por integrar os festejos populares, como bandinhas, forró pé de serra e comidas típicas ao patrimônio arquitetônico, religioso e cultural do sítio histórico. Enquanto algumas festas se concentram em largos ou áreas afastadas, aqui os festejos ganham um cenário de valor histórico e artístico incomparável, com apresentações em frente a igrejas seculares, casarões coloniais e vielas que contam séculos de história.
Outro diferencial é a programação multicultural, que vai além do forró tradicional, incluindo shows diversos e performances de artistas, tornando o evento uma celebração não só junina, mas também da diversidade baiana.

2. Como a promoção do São João no Pelourinho contribui para a revitalização do Centro Histórico, especialmente em termos de movimentação cultural e econômica? Você acredita que a festa ajuda a engajar novos artistas locais?
MB - A revitalização do Centro Antigo de Salvador é um trabalho contínuo do Governo do Estado, com ações estruturantes, socioeconômicas e culturais. E no São João temos o bom incremento na economia da região. Ou seja, é muito mais do que uma festa tradicional, é um vetor de revitalização para o Centro Histórico de Salvador, impulsionando tanto a economia quanto a cena cultural da região.
O evento, promovido pelo Governo do Estado em parceria com iniciativas privadas e comunitárias, gera um fluxo intenso de turistas e moradores, aquecendo o comércio local, desde restaurantes e barracas de comida típica até artesãos e pequenos empreendedores. No período junino aumenta em cerca de 40% o movimento em comparação aos meses normais, o que injeta mais dinheiro na economia local e melhorando as vendas dos comerciantes da região, por exemplo.
No aspecto cultural, o São João do Pelourinho funciona como uma vitrine para artistas da Bahia. O evento prioriza a diversidade, incluindo desde nomes consagrados do forró até talentos independentes. Essa política de inclusão não só valoriza a produção local, mas também estimula novos talentos, que ganham visibilidade em um dos palcos mais prestigiados do estado.
Além disso, a festa reforça a identidade histórica do Pelourinho, atraindo investimentos em infraestrutura, segurança e conservação do patrimônio. A ocupação do espaço com cultura e lazer ajuda a reduzir a ociosidade de imóveis e atrai moradores e negócios de volta ao centro, combatendo o processo de esvaziamento que afetou a região por décadas.
O Pelourinho é um polo de economia criativa e de fortalecimento do cenário artístico baiano. A cada edição, a festa prova que cultura e desenvolvimento urbano podem caminhar juntos.
3. Além do São João e do Carnaval, existem projetos estruturantes para o Pelourinho que visam ampliar sua ocupação cultural e social ao longo do ano. Quais são as principais propostas e novidades que estão em andamento para o espaço?
MB - O governo baiano tem realizado obras de infraestrutura no Centro Histórico de Salvador, como a requalificação das ruas Chile e Direita de Santo Antônio, recuperação e pintura das fachadas de casarões e implantação de estacionamento, além de ações nas áreas de segurança e inclusão social.
Temos atraído investimentos privados sustentáveis, para a implantação de equipamentos turísticos na região, e promovemos eventos culturais, visando a geração de mais emprego e renda nessa parte da cidade, onde a Setur-BA mantém a maior unidade do Posto de Atendimento ao Turista (SAT) da cidade.
4. Pensando no futuro, como você enxerga o papel do Pelourinho enquanto polo cultural e turístico da Bahia, e de que forma eventos como o São João podem ser catalisadores para uma transformação mais ampla e sustentável da região?
MB - O Pelourinho é um patrimônio da Bahia e do mundo, que precisa de um olhar muito especial dos poderes públicos, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada. As intervenções estruturantes, os investimentos em turismo e eventos culturais, como o São João, contribuem para a sua preservação, que devem incluir ações educativas e de inclusão social.
Outra coisa que precisamos fazer é criar mais incentivos para que o Pelourinho também seja, ou melhor, volte a ser escolhido como um local de moradia, como já aconteceu e como tem ocorrido com outros locais do Centro Histórico.
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