ATARDE AGRO
Criação de abelha em lavoura de soja eleva produtividade do grão
Integração Mel produzido a partir da prática é suave, aromático e não cristaliza exposto às baixas temperaturas
Por João Vítor Sena*
A integração das abelhas com a soja pode aumentar a produtividade da oleaginosa em até 18%, segundo estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Além disso, o mel produzido a partir desta prática é mais aromático, suave e não cristaliza mesmo quando exposto à baixas temperaturas.
Segundo Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa responsável pelo estudo, o aumento na produtividade ocorre porque as flores de soja são beneficiadas pela ação polinizadora das abelhas, que é a transferência de grãos de pólen das anteras – órgãos de reprodução masculinos – de uma flor para o estigma – aparelho reprodutor feminino – de outra.
Isto acontece quando estes insetos saem à procura de seu alimento nas flores - o pólen e o néctar. E, pulando de flor em flor até atingirem sua saciedade, acabam se lambuzando com estas substâncias, que também carregam material genético, aumentando a probabilidade de fertilização destas plantas, podendo gerar mais sementes.
“A soja entra no que a gente chama de plantas que são beneficiadas por polinização. Isso significa que, mesmo na ausência total de agentes polinizadores, ela produz. Mas se você tiver uma população adequada de polinizadores, eles aumentam a produtividade, justamente porque a abelha vai buscar o néctar em cima da flor de soja. Aí, ela carrega mais grãos de pólen para o estigma, aumenta a probabilidade de fertilização de óvulos. Isso significa que pode formar mais sementes por vagem, aumentando a produtividade”, explica Gazzoni.
Mel mais claro
O aumento na produtividade pode ser inferior ou superior a 18%, dependendo da qualidade do solo e do clima. Entretanto, o estudo aponta que a interferência das abelhas favorece o surgimento de vagens com três e quatro grãos de soja – normalmente, cada vagem tem 2,5 grãos, em média. “Alguns produtores lá na década de 80, 90, começaram a perceber que, quando estavam perto de colmeias, a soja produzia mais. Falavam que conseguiam colher quatro sacos de soja a mais por hectare, foi com base nessas informações que a gente começou a estudar (essa integração)”, complementa ainda o pesquisador da Embrapa.
Além disso, a integração entre a criação de abelhas e as lavouras de soja gera um mel mais claro, com um aroma mais agradável e alto teor de frutose, evitando a cristalização durante a estocagem ou baixas temperaturas.
Franciélio Macedo, presidente da presidente da Federação Baiana de Apicultura e Meliponicultura (Febamel), explica que essa alteração no gosto e na qualidade do mel também ocorre na Bahia, quando as abelhas são muito expostas aos eucaliptos e às laranjeiras.
O mel de eucalipto é mais escuro, de sabor refrescante e mais intenso, mas também possui propriedades medicinais, sendo uma boa opção para aliviar sintomas de doenças respiratórias, como tosses, resfriados e irritações na garganta. Já o mel de laranjeira é mais claro, apresenta um aroma suave e sabor um pouco mais cítrico.
Macedo ainda relata que já tem visto parcerias entre apicultores com outras culturas agrícolas, como plantações de mamão e melão. “Sempre tem aumento na produtividade. Fico muito feliz que os agricultores estão entendendo (o benefício das abelhas). Tem sido um trabalho de troca: os apicultores conseguem ajudar os agricultores a aumentarem sua produtividade, através da polinização e da melhoria dos frutos, e os apicultores conseguem produzir mel”, comenta.
De acordo com Eduardo Brandão, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) a integração entre os dois setores, além de ser positiva em termos de rentabilidade, também contribui para a preservação do meio-ambiente. “A presença das abelhas no cultivo de frutas tem impacto direto na manutenção do ecossistema da região de cultivo. Um ecossistema saudável atua diretamente nas condições do clima da região, beneficiando assim o cultivo”, pontua.
Porém, para que essa parceria seja vantajosa para os dois lados, é necessário que sejam adotadas boas práticas na criação das abelhas. Isso inclui fornecer flores durante todo o ano, e não apenas na época de floração das culturas agrícolas. Também é preciso investir em defensivos que não prejudiquem o bem-estar destas criaturas.
“A abelha, como qualquer animal, precisa se alimentar 365 dias por ano. Por isso, a gente recomenda que o apicultor tenha um calendário floral, precisa ter flores em todos os dias do ano para que a abelha possa crescer, se desenvolver e reproduzir”, explica Gazzoni.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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