ATARDE AGRO
Jovens investem em qualificação para atuar no setor
Segmento ganha mais fôlego com lideranças focadas em defender interesses do campo
Por Miriam Hermes
A sucessão no comando de propriedades rurais bem como a renovação dos quadros de direção em associações e sindicatos deixaram de ser preocupações isoladas em uma fazenda ou cooperativa. No Brasil, ganha força um movimento visando agrupar as novas gerações de lideranças para estimular a juventude a se qualificar para assumir a missão de trabalhar no agronegócio e defender os interesses da classe.
Uma iniciativa neste sentido foi implantada neste ano no Oeste do estado, mais exatamente em Luís Eduardo Magalhães, a 795 km de Salvador. No município, foi iniciado um projeto-piloto com estudantes do Ensino Médio que estudam a disciplina Agronegócio. A professora é a jovem Rafaela Klein, 19 anos, filha de produtores rurais.
Ainda criança, Rafaela foi estimulada pelos pais a conhecer e se envolver com os afazeres da terra. “Gostava de ajudar no pomar da fazenda e meu pai me levava junto nas máquinas na lavoura”, recordou, revelando que esta proximidade prazerosa com a lida no campo foi decisiva quando optou pela graduação após concluir o Ensino Médio.
Desde cedo, Rafaela ajuda nos setores financeiro e administrativo da propriedade da família, função que ainda desempenha, conciliando o com o curso de Agronomia. Ela também dedica muitas horas do dia ao movimento sindical e ao seu projeto de cativar jovens para atuar no agronegócio.
“Um dia, no Sindicato Jovem (SPRLEM), discutimos essa questão sucessória dos empreendimentos rurais”, contou, lembrando que ficou pensando muito nisso porque o tema é uma preocupação recorrente em diversas propriedades.
“Percebi que, em muitas famílias, os filhos nem são incentivados a se envolver desde criança”, disse, ressaltando que os jovens deveriam conhecer mais de perto toda a complexidade que envolve o agronegócio regional, antes de decidir por um caminho profissional.
Diante disso, a direção de uma escola particular optou por ofertar a disciplina e a chamou para conduzir o projeto-piloto. “Já percebo que muitos deles [estudantes] vêm mudando de opinião sobre os cursos que pretendem seguir para formação profissional”, afirmou.
Rafaela destacou que está trabalhando com estudantes entre 15 e 16 anos e que a ideia é expandir para outras unidades de ensino na cidade, bem como levar para a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb/Senar).
Na vizinha Barreiras, o Programa Jovem Aprendiz na Área Rural existe desde 2014 focado em qualificar novos profissionais para o trabalho no campo. As aulas práticas e teóricas são realizadas na Fazenda Modelo Paulo Mizote. Há uma atuação conjunta entre o Sindicato dos Produtores Rurais, Instituto Aiba, Faeb/Senar, Codevasf, prefeitura local e produtores. O Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho acompanham o programa, focado em jovens com idades entre 18 e 23 anos.
Lideranças jovens
Com inspiração em jovens como Rafaela, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criou, em julho deste ano, a Comissão Nacional de Novas Lideranças do Agro.
“Um dos nossos focos é formar grupos em todas as federações. Atualmente, a Bahia e outros dez estados têm grupos formados”, afirmou a vice-presidente do colegiado, Fernanda Gehling, atual presidente da Comissão Jovem da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul Jovem).
Administradora por formação, ela trabalha com produção de grãos e pecuária de corte na gestão geral da propriedade. Para Fernanda, que está na quarta geração da família à frente dos negócios rurais, o trabalho dos grupos não foca apenas no preparo para assumir as atividades internas.
“Vejo que os jovens estão voltando ao campo”, observa, pontuando que, aos poucos, eles retomam o gosto pelos afazeres agropecuários. “Precisamos também que aumente o interesse pela representatividade de classe, atuando da porteira para fora em defesa do agro”, frisou.
Responsável pela criação e atual presidente da Comissão Jovem do Sindicato Rural de Camaquã (RS), Fernanda tem atuado na criação de grupos em outros municípios do estado e no Brasil. “Buscamos fortalecer o setor, disseminando a cultura do trabalho em conjunto”, finalizou.
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