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A extinção das peruas
Por Lúcia Camargo Nunes | De São Paulo | Foto: Divulgação

Segmentos de veículos surgem, se transformam e algumas vezes desaparecem. Enquanto no Brasil todos querem converter carros pequenos e grandes em utilitários esportivos, na Europa as peruas, ou station wagons, ainda respiram. No Brasil, esses modelos alongados estão em plena extinção.
Um estudo da Jato Dynamics aponta que pelo menos na Europa as peruas vão muito bem. Exceto pela Itália, consumidores do Velho Continente ainda valorizam a versatilidade e o amplo espaço para bagagens nesses modelos destinados ao uso familiar, caracterizados pela funcionalidade. É a escolha mais racional do que emocional, indica a consultoria.
Os SUVs, por sua vez, mostra a pesquisa, oferecem a mesma versatilidade e espaço de carga e adicionam um design mais atraente. No mundo, os modelos SW são raridade nas ruas da China e dos EUA e desaparecem na América Latina.
O Brasil já teve tradição em peruas e assiste hoje a seu declínio. A Volkswagen deixou de produzir a SpaceFox, conhecida por Suran, na Argentina, onde era fabricada. Suas vendas foram inexpressivas em 2018: 5.573 unidades. Em abril passado a Volks emplacou apenas 126 SpaceFox. Sua linha de produção em Pacheco se prepara para iniciar em 2020 a fabricação do SUV Tarek. Por aqui, onde uma pequena parte da produção da perua estava no Paraná, as atenções se voltam ao utilitário esportivo T-Cross.
Mas nem tudo está perdido. A Weekend, da Fiat, resiste e já tem até linha 2020. À venda há 22 anos no país, a perua do extinto Palio acaba de ganhar ar-condicionado na versão de entrada Attractive 1.4, que parte de R$ 65 mil. Mas o portfólio foi enxugado: além da Weekend Attractive, há apenas a Adventure, pioneira e que abriu caminho para a moda de compactos com suspensão elevada e visual mais esportivo, que parte de R$ 82.300 com motor 1.8. Em todo 2018, a Fiat vendeu 3.185 unidades de sua station wagon e este ano, praticamente sozinha no segmento, emplacou 1.470 unidades.
Para o consultor automotivo Raphael Galante, as peruas estão liquidadas no Brasil. No caso da Weekend, ainda vale a pena porque para a fábrica ela foi mais do que amortizada.
Importadas
Modelos importados, mais caros e restritos, não escapam da extinção. A Volkswagen Golf Variant já deixou o mercado brasileiro. Importada do México teve em todo o ano passado apenas 503 unidades vendidas. Até abril deste ano vendeu 110 exemplares. A Volks já retirou sua oferta do seu site e o consumidor só encontrará as derradeiras unidades em estoque de concessionárias.
A Volvo oferece a V40 e a V60: a menor, que parte de R$ 115 mil, vendeu 455 unidades em 2018, e a maior, que tem preço a partir de R$ 210 mil, teve 99 exemplares emplacados no ano passado. A Subaru tem a japonesa Outback, uma clara sport wagon, que nos EUA é vendida como wagon e no Brasil como SUV. Aqui custa R$ 200.900 e é rara de ser ver nas ruas.
Na visão de Galante, o tipo de carroceria tem a ver com a cultura. Na Europa, por exemplo, não existe o hábito de consumo de picapes como há nos EUA. E o brasileiro é "híbrido": importa tendências europeias e também americanas, caso da invasão de SUVs no nosso mercado.
Estratégias
Valorizada no mercado de usados, é comum concessionários Toyota lembrarem com saudosismo de um modelo que vendia bem e parou de ser produzido por estratégia da montadora. A Toyota Fielder, perua derivada do Corolla, foi produzida até 2007. Na Europa, segue à venda como Touring Sports, cuja linha ainda conta com sedã e hatch. "A Toyota na época só tinha uma linha de produção, precisava alternar para fazer sedã e station wagon. Havia um custo de ter de montar e desmontar a linha, para vender uma porcentagem a mais de Fielder. Então a Toyota a tirou por uma questão econômica", analisa Raphael Galante. "A Toyota preferiu manter um portfólio mais enxuto".
E não foi por falta de demanda. A decisão da Toyota foi estratégica, de forma a otimizar e concentrar o processo de produção do sedã. Na época em que a Fielder deixou de ser fabricada, o Brasil vendia quase 100 mil modelos SW por ano.
Na Europa elas mantêm certo prestígio. A francesa Peugeot, por exemplo, acaba de apresentar sua nova 508 SW, de apelo mais esportivo com sua carroceria mais baixa e aerodinâmica.
Fazem sucesso também na Europa as derivadas de Audi A4 e A6, linha V da Volvo, Volkswagen Golf e Passat Alltrack, Mercedes-Benz E-Class All-Terrain, BMW Séries 3 e 5 Touring, Renault Mégane e Talisman Estate, entre outras opções.
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