MOTOS
Serviços de entrega brecam prejuízos no segmento de motos
Por Lúcia Camargo Nunes | De Salvador

A queda nas vendas de motocicletas em março foi amortecida pelo aumento da procura de modelos para entrega. Em relação a fevereiro, a retração foi de -5,6%. A líder Honda, por exemplo, teve uma redução de -2,7% nos emplacamentos em março em relação ao mês anterior. Na Yamaha, a queda nas vendas foi maior, de -17,3%.
Empresas de entrega também observam esse movimento de alta. De acordo com o aplicativo Rappi, as pessoas se sentem mais seguras fazendo um pedido para entrega e evitando concentrações massivas de pessoas. “As categorias que registraram maior alta foram farmácias, restaurantes e supermercados. Naturalmente, com o aumento na demanda de pedidos, observamos maior número de entregadores”, explica a empresa, que não informa números regionais, por meio de nota.
Outra plataforma que utiliza motociclistas para entrega em Salvador, a Loggi relata que o aumento da demanda de entregas de e-commerce entre fevereiro e março chegou a 70%, enquanto o segmento de farmácias subiu 38%, nas cidades onde atua no país. Em contrapartida, outras categorias como entregas de documentos e de cartões e máquinas de pagamentos caíram 13% e 22%, respectivamente.
Covid-19 no Amazonas
A preocupação do diretor do Grupo Yamaha Motofácil, Claudio Cotrim, é com os estoques. “O Amazonas está sofrendo muito com a Covid-19, nosso maior receio é que a paralisação das fábricas, que seria até 30 de abril, perdure para maio. Se isso acontecer, teremos graves problemas de abastecimento, pois já não tivemos atendimento em abril, ficaremos sem estoque para vender”.
A Motofácil está com alguns descontos e isenções exclusivos para os profissionais de saúde e condições de financiamento em até 48 vezes sem entrada. “Não repassamos aos clientes o aumento que tivemos, devido ao aumento do dólar, e estamos oferecendo algumas ‘mordomias’, como pegar e levar o cliente da oficina até sua casa, além de entrega gratuita da motocicleta zero-quilômetro”, conta o diretor.
Antes da pandemia, as vendas de motos da Yamaha cresciam cerca de 10% a mais que o ano anterior. Durante a crise, o grupo se esforça para conseguir vender 40% do que faturava antes da crise. “Nas lojas da Grande Salvador, conseguimos ficar perto dos 50% de faturamento do que fazíamos, só que o interior do estado está sentido mais a crise. ”O Grupo Motofácil possui dez lojas em três estados do Nordeste.
“De Fortaleza (CE), passando por Alagoas até a nossa Bahia, que tanto nos orgulha. Somos o maior grupo de concessionárias Yamaha do Norte e Nordeste e quinto em vendas do Brasil”, conclui Claudio Cotrim.
Yamaha
O diretor do Grupo Yamaha Motofácil, Claudio Cotrim, sente uma queda significativa nas vendas, mas grande procura de motocicletas para entrega, modalidade que explodiu nesta crise, para auxiliar autônomos, restaurantes, supermercados, farmácias etc. “Estão adquirindo motocicletas para atender a essa nova demanda”, conta.
Todas as lojas da rede estão abertas para o atendimento de vendas de peças e serviços nas oficinas, com showrooms fechados. “Para atender clientes online, fazemos agendamento de horário, um cliente a cada 30 minutos, para finalização de um processo de venda ou entrega de uma motocicleta. Somente a nossa loja localizada no Shopping da Bahia está totalmente fechada, obedecendo ao decreto municipal, que fechou os shoppings e centros comerciais”, diz o diretor.
Até agora, o grupo Motofácil não diminuiu o quadro de funcionários, apenas encerrou contratos de trabalho temporário e de experiência, e algumas demissões pontuais, não motivadas pela crise, mas por rotatividade normal da operação. “Apesar da queda considerável nas vendas e nos resultados, as medidas do governo federal implementadas em abril, para a redução de jornada de trabalho, foram providenciais para conseguirmos manter o nosso quadro de colaboradores”, afirma Cotrim.
As vendas pré-pandemia estavam indo bem, com crescimento em relação a 2019. Como era de se esperar, as motocicletas de trabalho, a linha entre 125 cc e 250 cc são as mais procuradas. “Modelos seminovos não estão girando neste período. Nem no mercado de carros nem de motos”, diz. Ele estima que a retomada no setor automobilístico será mais rápida que o esperado, pois os veículos contribuem significativamente para a retomada da economia.
Mais do que nunca, o grupo investe nas vendas online. “Dobramos nosso orçamento com divulgação e atendimento online e estamos observando um crescimento atípico e surpreendente neste tipo de venda. O cliente continua querendo ir à loja para ver a motocicleta, testar sua ciclística e ver opções de cores reais, mas o restante todo é feito online, o primeiro contato, a descrição, fotos e comparativos, cadastro, negociação e pagamento. Esta crise está quebrando um paradigma: as vendas de veículos também podem acontecer em ambiente virtual”, ressalta o diretor da Motofácil.
Neste período de crise, a sua venda por consórcio caiu um pouco, pois ele percebe que o cliente está mais imediatista, já que ele precisa da moto com urgência e as financeiras estão muito mais agressivas, devido à queda no fluxo. “Hoje estamos com aproximadamente 60% de nossas vendas financiadas, 25% à vista ou parcelas no cartão de crédito e 15% em consórcios”.
Honda
Com três lojas em Salvador, uma em Camaçari, uma em Santo Amaro e uma em Candeias, o Grupo Motopema funciona parcialmente. Das três autorizadas na capital, apenas uma operava no pós-venda desde o início da quarentena e esta semana as demais voltam a abrir para serviços de oficina. Do interior, somente a de Camaçari opera, e as demais, fechadas, atendem às medidas municipais.
“Nós já tínhamos, antes dessa crise, um modelo baseado no marketing digital, com utilização de Facebook, Instagram, OLX, WhatsApp e nosso próprio site, com uma carteira forte, de mais de 300 mil clientes cadastrados”, afirma o gerente comercial da Honda Motopema, Kidy Cordeiro, referindo-se aos 100 vendedores externos que sua loja dispõe. Esses colaboradores, que fazem ações nas ruas, trabalham mais com consórcio, que já tem todo processo digitalizado. Durante a pandemia eles atuam com televendas e online.
Diferentemente do mercado de carros, que quando fechou estava com bom estoque, o das motos, no caso da Honda, já entrou na crise sem estoque. “As vendas estavam aquecidas e já tínhamos problema de produção”, diz Cordeiro. Ele explica as duas frentes de vendas de sua autorizada: consórcios, que caíram cerca de -15% apenas, e a venda no showroom, que opera com financiamentos e à vista (incluindo cartão de crédito parcelado), com queda mais acentuada.
“Nessa venda que temos na loja, além da falta de produtos, vemos retração dos financiamentos, neste segmento que vive de crédito. Estão todos com receio e tudo é muito recente”, conta o gerente comercial da Motopema, que cita que 30% das vendas da loja são por consórcios, 30% por financiamentos e 40% à vista. Com a pandemia, ele estima faturar apenas 40% da média de suas vendas. As motos seminovas também têm sido bem procuradas, todas as linhas, de acordo com o gerente da Motopema. Toda a negociação é digital e a transferência feita via despachante.
Nos contatos que a empresa tem com a montadora, a previsão é que voltem a produzir em Manaus a partir de 4 de maio. “Normalmente, as motos chegam por cabotagem, mas após a reabertura virão por transporte rodoviário, para agilizar. Entre 10 e 15 dias já estaremos recebendo produtos, em meados de maio”, diz o gerente comercial, que aponta o mercado de baixa cilindrada (até 160 cc) como o de maior demanda, para o segmento de entregas.
“Vejo motorista de Uber devolvendo carro alugado e comprando moto para usar como fonte de renda. Outro tipo de comprador é aquele que quer economizar nos deslocamentos e prefere andar de moto”. Nesse segmento, ele aponta dois modelos mais vendidos: a linha CG e a NXR 160.
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