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Carros elétricos: protocolo nacional de segurança está em debate
Especialistas trabalham na criação de uma diretriz nacional, além de protocolos padronizados em casos de incêndios em pontos de recarga
O aumento significativo da frota de veículos elétricos no Brasil estimula o debate sobre a segurança e a prevenção de incêndios nos pontos de recarga. Especialistas defendem a criação de uma diretriz nacional que estabeleça normas rigorosas para a instalação de carregadores em residências, edifícios comerciais e outros locais, além de protocolos padronizados em casos de incêndios.
Entre as sugestões, destaca-se a criação de uma certificação para os pontos de recarga, que poderia ser elaborada em conjunto pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Atualmente, a norma NBR 17.019 da ABNT já estabelece diretrizes para a instalação de pontos de recarga de veículos elétricos. Entretanto, em estados como São Paulo, as iniciativas para aprimorar a segurança estão mais avançadas.
O Corpo de Bombeiros daquele estado criou um conjunto de normas para instalação de pontos de recarga de carros elétricos. A preocupação da entidade é que pontos de carregamento sejam instalados em imóveis sem infraestrutura adequada, o que pode provocar sobrecarga, curto-circuito e riscos maiores. O tema foi debatido durante o Salão de Mobilidade Verde e Cidades Inteligentes, em São Paulo, na quinta-feira passada, 24, na programação da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Na Bahia, o professor e coordenador de Engenharia Mecânica e Automotiva do Senai-Cimatec, Júlio Câmara, considera positivo todo esse debate. “Essas discussões ocorrem não apenas no Brasil, mas em todos os países onde há crescimento da frota de carros elétricos. É uma tecnologia ainda muito nova e esse debate ocorre no momento certo”, comenta. “Mas quero acrescentar que o risco de incêndio em um carro elétrico é muito menor, se comparado a um veículo à combustão. Isso porque a mecânica do elétrico é mais simples e existe uma menor quantidade de peças e componentes, o que reduz esse risco”, completa.
Norma da ABNT
Outro detalhe é que as baterias contam com uma proteção para retardar a “fuga térmica”, quando há um superaquecimento que pode vir a sair de controle e causar um incêndio. Para o professor do Senai-Cimatec, entretanto, o Brasil deveria avançar para a criação de uma diretriz nacional, com normas de segurança e prevenção de incêndios, nos pontos de recarga de carros. “A norma da ABNT que está em vigor cria parâmetros para instalação, mas é preciso criar procedimentos padrão que definam como prevenir e o que fazer em casos de incêndio, por exemplo”, pontua Câmara.
Norma nacional
Para ele, é preciso discutir protocolos a serem adotados no combate a incêndios provocados por carros elétricos, mas defende que haja uma norma nacional, evitando que cada estado crie seu protocolo de segurança nesses casos. “A criação de protocolos claros é uma necessidade, já que a mecânica dos carros elétricos é diferente da dos veículos à combustão, exigindo um conhecimento específico para o combate a incêndios”, pontua o professor.
Em abril, o Corpo de Bombeiros paulista publicou no Diário Oficial do Estado uma minuta com imposições que devem ser adotadas em prédios e estabelecimentos que contam com os carregadores.
Entre as medidas sugeridas para reduzir os riscos de incêndio nas estações de recarga estão: afastamento de segurança mínimo de 5 metros em relação às demais vagas no estacionamento; vagas separadas entre si (instalando uma parede corta-fogo); instalação de chuveiros elétricos automáticos em todo o pavimento onde houver estação de recarga. O detalhe é que essas medidas, se adotadas, podem encarecer muito a instalação de pontos de recarga.
ABVE
“Apoiamos a criação de uma norma nacional sobre segurança e prevenção de incêndios, enfim, toda a questão de prevenção e combate a incêndios de veículos eletrificados e de veículos de forma geral. Abve está trabalhando junto ao Corpo de Bombeiros, não apenas de São Paulo, mas de outros estados também. Embora São esteja liderando esse trabalho”, afirmou o presidente da associação, Ricardo Bastos.
“Participamos das discussões, oferecendo apoio técnico, informações, suporte logístico. Os bombeiros já visitaram a China, a Europa, a Alemanha, já tiveram reunião com bombeiros da Noruega e agora estão indo para os Estados Unidos”, conta o presidente da Abve.
“Enfim, a Abve está apoiando completamente esse trabalho, que é fundamental para que a gente ofereça mais segurança não apenas na utilização de veículos eletrificados, mas de veículos de forma geral. O objetivo final que os bombeiros nos colocaram é aumentar a segurança nos estacionamentos, nos prédios, enfim, nos pontos de recarga de veículos. Mas nós entendemos que é muito mais eficaz e útil para a sociedade que haja uma norma nacional”, completa.
Para o professor e coordenador de Engenharia Mecânica e Automotiva do Senai-Cimatec, Júlio Câmara, é preciso ter cuidado ao criar pontos de recargas em imóveis antigos. “Antes de instalar uma estação de carregamento, seja em um edifício ou casa, é preciso avaliar tecnicamente se a rede comporta a instalação. Se for em condomínio, por exemplo, e muitos condôminos tiverem essa demanda, o síndico tem de avaliar a limitação da rede. Não é algo que se deva fazer individualmente, sem avaliação da infraestrutura. Porque a sobrecarga pode gerar riscos”, diz.
A Prefeitura de Salvador sancionou uma lei este ano que obriga novos prédios construídos na cidade a contar com previsão de terminais de recarga para carros elétricos.
Outro detalhe mencionado por Câmara é o cuidado que se deve ter quando o ponto de carregamento for instalado em locais sem ventilação. Por isso, para prevenir acidentes, o especialista defende uma diretriz nacional e até mesmo a certificação.
A frota
No acumulado de janeiro a setembro de 2024, foram emplacados 122.548 veículos leves eletrificados, o que representa uma evolução de 113%, na comparação com o mesmo período de 2023 (57.510 veículos). Segundo Tupi Mobilidade, a infraestrutura de recarga elétrica pública no Brasil superou a marca simbólica de 10 mil eletropostos em agosto deste ano.
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