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Inovação para aumentar a segurança: Volvo adota medidas ousadas para reduzir acidentes
Por Lúcia Camargo Nunes | São Paulo | Foto: Divulgação
A Volvo sempre se destacou por seus investimentos em segurança. Em 1959 estreou no PV544 o cinto de três pontos. Em 1994 criou o air bag lateral no modelo 850. Em 2007, lançou no S80, o sistema de ponto cego denominado Blind Spot Information System (Blis), que alerta o motorista sobre veículos ou objetos em pontos cegos do espelho, por meio de sensores instalados nos para-choques e para-lamas. Todos esses equipamentos foram desenvolvidos por outras fabricantes depois e já fazem parte de um grande número de veículos no mundo.
Da mesma forma como influenciou o mercado com seus itens pioneiros, a Volvo também quer convencer outras montadoras a reduzir acidentes. Uma série de ações faz parte do programa Visão 2020, no qual a fabricante sueca propõe que ninguém seja morto ou gravemente ferido em um novo Volvo até o ano de 2020, uma proposta de segurança das mais ambiciosas já vistas.
A marca vai se apoiar em três pilares: redução de velocidade máxima de fábrica e tecnologias que podem detectar o comportamento do motorista e até interferir nas funções do carro e limitar ainda mais o desempenho do veículo.
Excesso de velocidade
A Volvo Cars anunciou que reduzirá a velocidade máxima de todos seus carros a 180 km/h a partir do ano/modelo 2021. “A limitação de velocidade não resolve todos os problemas, mas vale a pena fazer se podemos salvar uma vida”, afirmou o CEO do Grupo Volvo Car, Hakan Samuelsson.
E a proposta de Samuelsson vai além de seu quintal. “Queremos iniciar uma conversa sobre se as fabricantes de automóveis têm o direito ou até mesmo a obrigação de instalar tecnologia em carros que alterem o comportamento de seu motorista, para lidar com situações como excesso de velocidade, intoxicação ou distração”, disse o CEO.
Para a Volvo, a velocidade é uma das razões mais comuns para mortes no trânsito. Milhões de pessoas ainda recebem multas por excesso de velocidade todos os anos, e dados de acidentes de trânsito mostram que 25% de todas as mortes no trânsito em 2017 foram causadas por excesso de velocidade. “As pessoas simplesmente não reconhecem o perigo envolvido na velocidade”, adverte Jan Ivarsson, especialista em segurança da Volvo Cars.
Foco no motorista
Uma das razões da alta velocidade pode estar ligada ao comportamento do motorista. Dirigir sob a influência de álcool ou drogas é ilegal em muitas partes do mundo, mas continua a ser uma das principais razões para lesões e mortes nas estradas atualmente.
Números da NHTSA (Administração Nacional de Segurança Rodoviária), dos EUA, mostram que naquele país quase 30% de todas as fatalidades no trânsito em veículos em 2017 envolveram motoristas intoxicados.
A proposta da Volvo é instalar câmeras e sensores para monitorar as ações do motorista e, caso algo seja detectado, com risco de acidente, um sistema remoto poderá interferir na condução daquele veículo. Essa intervenção poderia envolver a limitação da velocidade do carro, alertando o serviço de assistência Volvo On Call e, como plano de ação final, reduzir ativamente a velocidade do carro até pará-lo com segurança.
A montadora cita como ações suspeitas a falta completa de participação na direção por longos períodos de tempo, motoristas detectados com os olhos fechados ou fora da estrada por longos períodos, saídas irregulares de faixa nas pistas ou tempos de reação excessivamente lentos.
As câmeras serão instaladas em todos os modelos da Volvo na próxima geração de veículos da plataforma escalável, SPA2 da Volvo, no início de 2020.
Segurança compartilhada
O terceiro pilar do Visão 2020 é o sistema Care Key em todos os modelos a partir de 2021. Por ele, o dono do veículo poderá determinar qual velocidade máxima aquele veículo trafegará.
A Volvo também está convidando seguradoras em vários mercados para discutir um seguro especial e favorável à comunidade Volvo usando esses recursos de segurança.
Realidade brasileira
Para Alessandro Rubio, coordenador técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil), os 180 km/h propostos pela Volvo ainda é significativa. “A velocidade tem uma influência muito grande nos acidentes. Os mais fatais são os frontais.
Geralmente acontece por desrespeito à sinalização horizontal, quando invade a outra faixa e colide. É uma iniciativa interessante essa da Volvo, não acredito que vá eliminar acidentes, mas é uma forma de conscientizar que reduzir velocidade”, afirma.
Quanto à invasão de privacidade que poderia ser discutida legalmente no Brasil, com uso de câmeras de monitoramento, Rubio discorda. “Não invade a privacidade do condutor porque não estão conectadas à internet e essas imagens não são compartilhadas, apenas ligadas ao sistema. E não há armazenamento”, explica.
O coordenador do Cesvi ainda chama a atenção para outra questão comum no Brasil: as condições das estradas. “Esse sistema não funciona se não houver boa sinalização horizontal. Dados do Dnit mostram que por volta de 90% das rodovias no Brasil não são pavimentadas”.
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