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JAC entra no jogo dos carros elétricos
Por Wagner Gonzalez e Lúcia Camargo Nunes | São Paulo | Foto: Christian Castanho | Divulgação
Em meio a um mar de controvérsias e discussões sobre a melhor maneira de salvar o planeta, o carro elétrico continua sendo um dos atores principais dessa tertúlia. Marca nenhuma ignora essa possibilidade, e a JAC, representada no Brasil pelo grupo SHC, marca presença ao anunciar a importação de cinco modelos elétricos, alguns deles inéditos no ainda incipiente mercado brasileiro.
Para pronta entrega apenas o SUV compacto iEV40, que utiliza a mesma estrutura do T40, e é vendido a R$ 153.900. Seu irmão menor, o iEV20 (baseado no micro J2), é oferecido a R$ 119.900. Quando o primeiro lote desembarcar no país, previsto para janeiro de 2020, poderá ser anunciado como o elétrico mais barato do mercado.
Por serem baseados em seus similares equipados com motor térmico (denominação adotada pela JAC para seus modelos com motores a combustão interna), as diferenças do seu habitáculo se resumem ao painel de instrumentos – sai o conta-giros, entra um mostrador de carga na bateria – e na alavanca de câmbio. No iEV20 a seleção entre andar para a frente ou para trás é feita por um botão circular, que inclui a opção equivalente ao ponto porto. Outro comando semelhante determina o modo de pilotagem, econômico, normal e esportiva. NO iEV40 existe uma alavanca normal para selecionar a direção de marcha para a frente ou para trás.
Mais leve (1.340 kg em ordem de marcha), o pequeno hatch iEV20 explora os 68 cv/50 kW de potência e seus 21,0 kgfm de torque para permitir chegar aos 50 km/h em 4,9 segundos e aos 100 km/h em 16s. Já o SUV iEV40 pesa 1.460 kg em ordem de marcha, mas por ter um motor mais potente (115 cv/85kW de potência e 27,6 kgfm de torque) registra 3,9s e 9,8s para as mesmas marcas, sempre partindo da imobilidade.
Como comparação, o Nissan Leaf (142 cv de potência e torque de 32,6 kgfm) acelera de 0 a 100 km/h em 7,9s, mas tem autonomia de 240 km, 60 km a menos que o iEV40 e 160 km a menos que o iEV20. Em termos de conforto, porém, suas dimensões o comparam favoravelmente a ambos, em especial ao pequeno hatch, que acomoda bem apenas duas pessoas.
O quesito autonomia tem tudo para se tornar uma discussão cada vez maior na medida em que os carros elétricos se tornem mais presentes no dia a dia. Mais além de detalhes como com o ar-condicionado ligado ou desligado ou do modo de desempenho escolhido, a maneira como se trata o acelerador é um item dos mais importantes para se chegar mais longe. Resta saber se o consumidor comum, aquele que escolhe e compra seu automóvel com seu rico dinheirinho, já está disposto a pagar muito mais por um carro que entrega menor autonomia e ainda é uma incógnita em termos de depreciação e durabilidade.
Estratégia ousada
Em uma só tacada, o presidente da JAC Motors do Brasil, Sérgio Habib, apresentou cinco novos elétricos que lança, de forma
escalonada, no país. O SUV compacto iEV40 já está disponível nas concessionárias. Na sequência, em novembro, vem o caminhão iEV1200T, que vai custar R$ 259.900 para atender a um nicho de entregas nas cidades. Em janeiro será a vez do compacto iEV20, em abril a picape iEV330P e em julho o SUV médio iEV60, a R$ 198.900. Os volumes de cada modelo não foram definidos. “Esse mercado de elétricos, aqui, ainda é pequeno. Estamos estudando qual o tamanho da importação que faremos para cada lançamento”, afirmou o empresário.
Hoje a JAC possui 16 concessionárias no país, sendo uma delas em Salvador e uma oficina credenciada em Vitória da Conquista. Os negócios de Habib foram afetados antes mesmo da crise, com o aumento de tributação de veículos importados em 2011 e a derrocada em produzir veículos na Bahia. Para esta nova estratégia de elétricos, as equipes de vendas e técnica passaram por treinamento na China, para assegurar a manutenção dos modelos.
Habib enxerga que ainda são poucas as vantagens governamentais para vender elétricos no Brasil, apenas o Imposto de Importação que é zero, diante dos benefícios, como emissão zero, maior eficiência energética e menor poluição sonora. Alguns estados oferecem alíquotas diferenciadas de IPVA para modelos elétricos e até isenção (boa parte do Nordeste, por exemplo), mas na Bahia, por ora, aplica-se o mesmo IPVA de veículos a gasolina, ou seja, 2,5%.
Para vender seu peixe, Habib é efetivo nos argumentos, como a crescente venda de elétricos nos EUA, China e Europa. Outra vantagem para o consumidor, segundo ele, seria na manutenção: com a eliminação de uma série de componentes que o carro a combustão traz, os serviços envolvendo elétricos custam sete vezes menos (para se ter ideia, são três mil peças usadas em um elétrico versus 15 mil em um veículo “térmico”).
Como exemplo, a JAC indica que qualquer carro com motor flex ou a gasolina vai ter uma despesa de revisões até 60.000 km entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. No caso do JAC iEV40, a soma dessas despesas é de apenas R$ 649. A garantia para os elétricos é de cinco anos.
Nem tudo são flores, e o próprio Habib admite. Por exemplo, a autonomia. Com recursos de regeneração da energia, os carros da JAC estendem um pouco o quanto percorrem com uma carga nas baterias, mas em contrapartida o carro perde em desempenho. Daí, surge a segunda barreira: são carros urbanos, que ficam menos limitados à recarga, que para atingir os 100% precisam de 12 a 14 horas na tomada. “Para circular na cidade, as pessoas vão fazer isso uma vez por semana, provavelmente numa sexta, chegam em casa às 19h e deixam carregando até o sábado de manhã”, sugere.
Outro argumento é sobre o alto preço desse tipo de veículo, que seria compensado pela manutenção 80% mais em conta do que um carro a combustão, custo de revisões 10 vezes menor e seu abastecimento com energia elétrica seria seis vezes mais barata do que com gasolina. O dólar na casa dos R$ 4, segundo Habib, também não ajuda. “Em um patamar de R$ 3,20 conseguiria trazer o iEV20 por R$ 99.900”, afirma.
Para comercialização de seus elétricos, a JAC firmou parcerias. Uma delas é com o Banco Santander, que vai oferecer financiamento com juros de 0,77% ao mês para seus elétricos. Com a seguradora Sura, os modelos JAC elétricos funcionarão com a tecnologia de telemetria: quanto mais segura e prudente for a condução, mais benefícios o cliente terá. Esse serviço estará disponível a partir de novembro, nas concessionárias JAC.
E também firmou parceria com a empresa de energia EDP, que venderá o chamado Wall Box, carregador doméstico fixado na parede de 220 volts por R$ 8.500. Esse equipamento carrega 80% da bateria em 4 horas. Outro carregador, portátil e 220 V, leva 14 horas para recarga vai custar R$ 3.990.
Baseado na tarifa da capital paulista, a JAC informa que o consumo de energia elétrica para rodar 100 km com o iEV40 é de cerca de R$ 7. Para o iEV20, o dono gasta R$ 23,65 para rodar 400 km.
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