AUTOS
Jovens passam longe do sonho do carro zero
Por Núbia Cristina
Seja por fatores socioeconômicos, culturais ou comportamentais, vem caindo ano a ano o interesse dos jovens na primeira habilitação ou na compra do carro zero. Um balanço do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) apontou que houve uma queda de 10,5% do número de pessoas com carteira de motorista, entre 18 e 30 anos, em junho de 2021, na comparação com o mesmo período de 2015.
Em junho de 2015, 4.872 milhões de pessoas no estado de São Paulo tinham a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), contra 4.356 milhões no mesmo período deste ano.
No Detran-BA não há levantamento por faixa etária, mas os números confirmam queda na demanda da primeira habilitação. De 2018 para 2020, houve redução de 43,78% na quantidade de PPD´s (permissão para dirigir) na Bahia – em 2018 foram 96.399, e em 2020, 54.197; em Salvador a queda no número de PPD´s no mesmo período foi de 52,25% - de 24.180 em 2018, para 11.545 em 2020.
Essa é uma tendência global, mais acentuada com a pandemia, que potencializou crises econômicas ao redor do mundo, gerou mudanças no comportamento de consumo e aumentou o desejo por meios de transporte mais sustentáveis e econômicos, como bicicletas e motos, elétricas ou não.
Somada a isso, a escassez de semicondutores compromete até hoje a produção de veículos no mundo. O que além de elevar os preços dos carros – houve alta de preços de insumos em geral – fez a oferta de carros mais baratos, de entrada, despencar.
Em mutação
A analista de marketing digital Ana Paula Silva, 26 anos, faz parte do grupo que não pensa em comprar carro tão cedo e está adiando a primeira habilitação. Ela anda de bicicleta, moto, transporte público ou até mesmo de carona. “Um dia posso até comprar, mas não vejo vantagem em comprar carro agora, o custo é muito alto”.
A jornalista e RP Shade Andréa Cavalcante, 34, prefere usar o serviço de transporte por aplicativo. Ela vendeu o carro para se livrar da tensão no trânsito. “Em nome da minha saúde mental, desisti de dirigir. Hoje meu estresse é com as barbeiragens dos motoristas de Uber ou 99”, diz.
O diretor Conselheiro da SAE Brasil, Mauro Correia, ressalta que os consumidores, em geral, estão mudando rápido, não apenas os jovens. “Hoje, a mentalidade é focada no compartilhamento, no uso, não na posse. A ideia de utilizar um produto ou serviço por um período e pagar por isso”. Ele lembra que hoje as gerações mais jovens alugam quase tudo: roupas, berços, carrinhos de bebê, carros etc.
A indústria automotiva está atenta a esses movimentos, e é cada vez maior a oferta de serviços de assinatura de veículos, pelas próprias montadoras. “Esse é um serviço que tende a crescer muito no Brasil, mas há um limite: manter uma frota exige muito capital investido”.
As novas gerações são mais orientadas para o consumo consciente e mais sensíveis às questões ambientais. “A indústria global está caminhando a passos largos para a mobilidade sustentável, para a eletrificação. É um caminho sem volta”, afirma Mauro Correia. “E a indústria brasileira pode utilizar todo o potencial do etanol. Que é renovável, gera fotossíntese e tem níveis de emissões menores. Se a gente pensar em todo o ciclo do álcool, até a reciclagem, vamos constatar que um carro híbrido a álcool é mais sustentável que um veículo 100% elétrico”.
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