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Paixão por picapes movimenta a indústria automotiva

Publicado quarta-feira, 30 de junho de 2021 às 06:06 h | Autor: Lúcia Camargo Nunes | De São Paulo
Caíque Teixeira ama sua Ford Ranger XLS 2020 | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Caíque Teixeira ama sua Ford Ranger XLS 2020 | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE -

Se o segmento dos utilitários esportivos é o novo queridinho do Brasil, com mais de 260 mil veículos novos vendidos em 2021, de janeiro a maio, o de picapes é uma categoria menor, com menos opções, mas que também cresce nos últimos anos e indica uma valorização incomum entre as seminovas.

Para se ter uma ideia de participação, somando os emplacamentos de automóveis de passeio com comerciais leves, os SUVs (de todos os portes) têm 31% do mercado, enquanto as picapes pequenas e grandes representam 17,3%, um pouco menos que o hatches pequenos (19,2%). Desde 2017, as caminhonetes só crescem: de acordo com dados da Fenabrave, elas tinham 12,8%, avançaram para 14,7% em 2020 e este ano já ultrapassam os 17%.

As picapes estão intrinsecamente ligadas ao mercado do agronegócio e evoluem conforme a tecnologia do campo: elas estão mais espaçosas, confortáveis, seguras e conectadas. Embora cresçam menos que o segmento dos utilitários esportivos, este é um nicho que todas montadoras querem estar.

De olho na Toro

No rastro da bem-sucedida Toro e também Strada, a General Motors planeja para 2022 o lançamento de uma nova picape abaixo da S10 e maior que a Montana, que sai de linha. Enquanto a Tarok, da Volkswagen, deve chegar à virada do ano feita sob a plataforma do Taos, a Ford cria grande expectativa com a chegada de outra anti-Toro, a picape Maverick, produzida no México.

No andar de cima, ainda é esperada a chegada da Landtrek, da Peugeot, picape anunciada no ano passado e que pode ter de passar por mudança de planos com a fusão da PSA com a FCA, já que seria estratégico para o grupo fazer parte deste nicho. E também é dúvida se a Renault traria a Alaskan, que compartilha base com a Nissan Frontier e é vendida em alguns mercados sul-americanos, como a Argentina.

O sucesso e alta demanda não é só do segmento de zero-quilômetro. As picapes também são fortes e bem valorizadas entre os veículos seminovos ou usados. De acordo com um levantamento divulgado recentemente pelo Mobiauto, plataforma do setor automotivo, de 56 versões de picapes diesel e flex, 55 modelos valem mais hoje do que quando zero-quilômetro, algumas com valorização de 30% em 16 meses.

Pelo levantamento, entre janeiro de 2020 e maio de 2021, modelos seminovos ano 2020 valorizaram 18,2% em média no período. Das dez mais valorizadas, oito são movidas a diesel, tendo como campeã de valorização (32,8%) a Ford Ranger XLS 2.2 Turbodiesel 4×4 automática de cabine dupla. Se em janeiro de 2020 ela custava R$ 125.300 hoje ela é vendida por R$ 166.400.

Sant Clair Castro Jr., CEO da Mobiauto, destaca a Toyota Hilux e a Ford Ranger. “As picapes compõem um capítulo à parte em nosso mercado. Além da clientela muito fiel, tanto no campo como nas cidades, elas ainda têm a fama da durabilidade, principalmente quando equipadas com motores a diesel. Elas não desvalorizam, ao contrário: você usa por quase um ano e meio e ela passa a valer mais do que antes”, avalia o especialista.

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Ricardo Galvão: S10 Midnight para rodar na cidade e fazer viagens | Fotos: Divulgação

Diversos perfis

Para viajar, pegar estrada de terra ou apenas desfilar, há picapes para todos os gostos e necessidades. Adenilson Neves de Jesus é um empresário baiano que atua em São Paulo, no ramo de construção com a empresa Nconstrun, mas só utiliza sua Renault Oroch automática 2017 para passeio, com uso na cidade e estrada, porque viaja bastante para o Espírito Santo. “Gosto muito dela por ser robusta e estável. Antes tinha uma Fiat Strada. E em breve vou trocar a Oroch por uma Ford Ranger turbodiesel 4x4, por vontade e não por necessidade”, conta. Ao sondar a troca pela sua Renault, ficou satisfeito com as propostas.

O produtor rural e empresário contábil Jackson Sampaio, é dono de uma Toyota Hilux SRV 2017. Antes teve uma Mitsubishi Triton. “Preciso de um veículo 4x4 porque na minha propriedade tem muita areia e uso a tração 4x4. E também para atividades rurais, preciso usar o 4x4 na lama”, diz. A troca pela Toyota foi por considerar a Triton mais robusta e rural enquanto a Hilux atende melhor a suas necessidades para o dia a dia.

“A Hilux é mais moderna, tem mais tecnologias e oferece mais conforto e segurança para mim e para minha família”. Ainda assim, ele acha que a picape da Toyota poderia melhorar na estabilidade em curvas e ruído. No próximo ano ele pretende trocá-la por uma nova Hilux, devido à sua baixa desvalorização. “Sua comercialização é fácil, de alto valor agregado e perde menos do que com outras marcas”, conclui Sampaio.

O empresário e instrutor de defesa pessoal feminina Ricardo Galvão fez a sua estreia no segmento com uma Chevrolet S10 versão Midnight para passeio rodar na cidade e fazer viagens. “Eu a escolhi porque associei o design da Midnight com a minha personalidade. Gosto da cor negra, tem torque, diesel, durabilidade e estilo. O que a destaca é realmente seu design e eficiência”, explica Galvão, que possui também um Jeep Renegade a gasolina.

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Tereza Paim: a Hilux automática 4x4 ganhou o apelido Xendenga

Para sempre Xendenga

Embora seja um veículo muito visto entre o público masculino, existem as mulheres picapeiras, como a chef de cozinha Tereza Paim, que usa a caminhonete “pra tudo na vida”, brinca. “Aprendi a dirigir em uma Chevrolet cabine dupla, tipo C14, cujo nome era Xendenga de tão velhinha. Até hoje todas as minhas caminhonetes eu chamo de Xendenga, que uso na cidade, estrada e 4x4”, explica.

A atual é uma Hilux automática 4x4. “Já tive algumas marcas, mas adoro mesmo é a Hilux. Eu a escolhi porque ela é segura, não balança, tem estabilidade total. E um carro da Toyota dura 15 anos fácil. Só troca bateria e pneu. Envelhece como um bom vinho”, destaca.

E Tereza é usuária por longos períodos. “Essa última só tem oito anos e me recuso a trocar carro com menos de 12 anos. E não troco minha Xendenga por nenhum outro carro. Já tentei, mas só consegui ficar um ano com um SUV. E voltei pra Xendenga”, afirma a chef da Casa de Tereza, que também é remadora e precisa desse tipo de carro para suas expedições. “Fora que é sucesso garantido com meus netos”.

Queridinhas

Quem é especialista em picapes conhece bem o mercado e também faz questão de ter a que considera melhor. O empresário Caíque Teixeira, dono do Xtreme Autocenter, em Lauro de Freitas, especializado em customização de picapes, possui uma Ford Ranger XLS 2020. Em seu negócio, os clientes pedem alterações no visual. “Público de picape apenas da cidade nos procura pela estética”.

Para ele, a picape de maior sucesso hoje é a Ranger, a queridinha do mercado – diesel automática e 4x4 – por causa de seu custo-benefício. Também atende muitos donos de Mitsubishi L200 Triton. As mudanças que realiza em sua oficina com pneus maiores e suspensão elevada requerem uma compensação e uma correção geométrica.

Há espaço para todas, desde a Fiat Toro, que faz muito sucesso principalmente entre aqueles proprietários que só usam o veículo no asfalto. “Quem tem uma Toro gasolina é porque sonha em ter uma picape. É o primeiro degrau. Temos essa nítida segmentação. A Ranger, que nos EUA é média e aqui é grande, se espelha na F-150, nas maiores. Há uma tendência de demanda por picapes maiores, como a RAM 1500”, afirma.

Ele ainda cita que a Ford Maverick, derivada do Bronco, tem “muito” mercado no Brasil, porque seria uma picape média 4x4 em um segmento que hoje só tem como concorrente as Toro top de linha.

Entre as seminovas, ele acredita que a picape não valoriza se não for 4x4 e diesel. “O mercado de Ranger, Hilux, S10 migrou por volta de 2010 para as versões flex e agora as montadoras estão oferecendo apenas as turbodiesel 4x4. A pessoa pode até não precisar da tração, mas sem isso limita sua atuação”, observa.

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