"FUTILIDADE"
Associações de Caraíva repudiam ação do Boticário no vilarejo
Grupo disse que a propaganda vai em desencontro com as tradições e culturas locais da vila
Por Da Redação
Uma campanha de marketing do Grupo Boticário gerou uma polêmica na vila de Caraíva, distrito de Porto Seguro, cidade no sul da Bahia. De acordo com informações da associações locais, a ação vai em desencontro com as tradições e culturas locais do vilarejo.
Além disso, as associações disseram que não houve nenhuma comunicação do Boticário ao Conselho Comunitário e Ambiental de Caraíva (CCAC) e à Associação dos Nativos de Caraíva (ANAC).
"Passamos o ano inteiro tentando divulgar o destino de forma mais assertiva, para um público de mais qualidade, mais consciente, mais responsável, a natureza da nossa vila é muito frágil e precisamos cuidar. Do nada, aparece uma marca famosa para trazer uma produção de um programa de tamanha futilidade que não estamos acreditando. Colocando o nome do destino de Caraíva como um local de promiscuidade, de turismo sexual dessa forma", disse Tati Paixão, empresária de Caraíva e membro do Conselho Municipal de Turismo.
A propaganda foi divulgada em alguns jornais locais, como afirma a moradora, e no Instagram. No entanto, a publicação foi retirada da rede social nesta quinta-feira, 11.
"Uma empresa que diz defender sustentabilidade, que diz defender um social, está muito estranha essa questão. A fala que está ali, a produção disso tudo, está esquisito, e não é isso que a comunidade quer, ficamos muito irritados de ser total na contramão do que a gente quer e do que a gente busca pra vila. Aqui é a primeira vila do Brasil, é uma vila até hoje. A gente precisa segurar esse crescimento, a gente não quer esse tipo de público aqui, as pessoas estão vindo pra cá por conta de festas, e não é isso, a gente está tentando desmistificar isso, trazer outras coisas, jogar em mídias mais de ecoturismo e mais de outras coisas", ressalta a empresária.
O uso de imagens dentro da vila tem como obrigatoriedade a solicitação de autorização da comunidade e dos órgãos competentes, por se tratar de uma estrutura protegida pelo Instituto Nacional do Patrimônio e Histórico Nacional – IPHAN, Instituto Chico Mendes (ICMBIO) e por estar dentro de uma área do Parque Nacional do Monte Pascoal e dentro de uma área de Reserva Extrativista (RESEX).
De acordo com a CCAC e a ANAC, a propaganda deprecia a imagem local de Caraíva com uma ação “vaga, sem conteúdo, que não gera nada de legado positivo ou construtivo, utilizando do nome e belezas naturais do vilarejo sem nenhum propósito".
As associações solicitaram ao Boticário a suspensão imediata da propaganda, assim como uma ação aos órgãos responsáveis Instituto Chico Mendes (ICMBIO), Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual para tomarem medidas cabíveis. (Confira a nota de repúdio na íntegra ao final da matéria).
Confira abaixo nota de repúdio na íntegra:
"O Conselho Comunitário e Ambiental de Caraíva (CCAC) e a Associação do Nativos de Caraíva (ANAC), manifestam espanto, surpresa e descontentamento pela ação criada pelo Grupo Boticário que vai de total desencontro com as tradições e culturas locais do vilarejo de Caraíva. O vilarejo de Caraíva, datado de 1530, tendo sua estrutura antiga protegida pelo Instituto Nacional do Patrimônio e Histórico Nacional – IPHAN, Instituto Chico Mendes (ICMBIO) por estar dentro de uma área do Parque Nacional do Monte Pascoal e dentro de uma área de Reserva Extrativista (RESEX) tendo clara na legislação vigente que qualquer evento, principalmente se tiver geração de imagens, obrigatoriedade de solicitar autorização da comunidade e dos órgãos competentes mencionados fato que não ocorreu.
Desvirtuar a imagem de Caraíva com uma ação “vaga”, sem conteúdo, que não gera nada de legado positivo ou construtivo, utilizando do nome e belezas naturais do vilarejo sem nenhum propósito só vem a depreciar a imagem local. Neste verão 2024 que estamos passando o vilarejo demonstrou toda a sua saturação nos serviços básicos como coleta de lixo, água, energia entre outros tão complexos quanto como saúde e educação. Hoje o vilarejo não suporta o fluxo de pessoas que estão visitando, necessitando urgente de um controle de acesso onde uma ação deste tipo nada vem a agregar ao vilarejo.
Solicitamos ao Grupo Boticário a suspensão imediata da ação em Caraíva, bem como, a retirada das mídias de toda que qualquer divulgação deste evento. Solicitamos aos órgãos responsáveis Instituto Chico Mendes (ICMBIO), Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual as medidas cabíveis conforme legislação vigente, com aplicação de multa e todas as responsabilidades legais envolvidas às pessoas da organização e diretoria do Grupo Boticário. Solicitamos um retorno sobre o tema com a maior brevidade em até 24 horas".
Em nota encaminhada ao Portal A TARDE, o grupo Boticário lamentou o desconforto causado e reiterou o comprometimento com as causas socioambientais.
Confira a nota na íntegra:
Nós, do Boticário, admiramos e respeitamos as belezas naturais de Caraíva e acreditamos que elas estimulam conexões e experiências únicas - o que inspirou os conteúdos de Floratta Romance de Verão na região. Valorizamos principalmente sua relevância cultural, social e ambiental e o que representam para o país.
Lamentamos o desconforto causado a membros da comunidade durante nossa passagem pelo vilarejo e que não representam o que acreditamos e construímos em nossas relações e comunicações.
Tomamos conhecimento da nota e estamos tratando o tema com a devida atenção e prioridade. Em respeito, as publicações foram removidas de nossas redes sociais. Reforçamos nosso comprometimento, ética, transparência e responsabilidade socioambiental, que norteiam nossas frentes de atuação nesses mais de 46 anos de história.
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