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DIA DAS MÃES

A emoção das mulheres que se tornam mães perto dos 40 anos

Ter filhos na maturidade é prova de que não existe uma ‘hora certa’

Por Priscila Dórea

05/05/2024 - 8:11 h
Geisa Veronica Soares, mãe de Carlos Eduardo e Maria Eduarda
Geisa Veronica Soares, mãe de Carlos Eduardo e Maria Eduarda -

Entre os rios da experiência e da idade mais avançada, mulheres que se tornam mães perto dos 40 anos vivem uma maternidade madura que mostra que a idade certa para ser mãe é aquela que você sente que está pronta.

“Pude curtir a juventude, alcançar estabilidade profissional e me organizar financeiramente. Planejar bem a chegada dos filhos, sabe? Porém, traz uma angústia, pois já fico pensando o que será deles sem mim ou se conhecerei meus netos”, explica a bancária e empresária Geisa Veronica Soares Lima e Lima, que aos 38 anos ficou grávida do casal de gêmeos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda.

Hoje com 44 anos – e os filhos com seis –, Geisa, que se casou com 31 anos e decidiu que queria curtir por um tempo o casamento com o marido, só parou com os anticoncepcionais em 2014. “Mas demorou bem mais do que eu imaginava. Tive quatro abortos antes de engravidar dos gêmeos, mas foi e tem sido uma maternidade absolutamente prazerosa. Com a experiência que tenho, busco ensinar a eles crenças positivas, pois tenho medo do que recebemos do mundo e que nos faz duvidar de nosso potencial”, explica ela.

Adriana Borges Leite e as filhas Luiza e Júlia
Adriana Borges Leite e as filhas Luiza e Júlia | Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde

Quem também aproveitou o casamento antes de aumentar a família foi a bancária Angélica Sampaio, de 45 anos. O casório foi em 2010, mas ela e o marido tinham sido pais jovens em casamentos anteriores e adiaram o plano de ter filhos juntos. “A meta era engravidar depois de cinco anos de casada. Quando tinha 36 anos, tive uma gestação ectópica e precisei retirar uma das minhas trompas. Foi uma tristeza, pois reduzia as chances de uma gravidez natural e a idade pesa na fertilidade da mulher”, lembra.

Foi em 2015 que Angélica se descobriu grávida e sua filha, Angelina, hoje com sete anos, nasceu no ano seguinte. “Tive a sorte de ter filhos em momentos totalmente distintos: aos 23 e aos 38 anos. Então posso dizer que a maturidade, o equilíbrio financeiro, e um maior cuidado e atenção para lidar com a educação da criança são pontos muito positivos em ter filhos com mais idade. Porém, a disposição não é nem de longe a mesma. É muita energia”, afirma ela, rindo.

‘Exemplo’

Mas, apesar de toda essa energia da doce menina de sete anos, Angélica conta que a filha ensina a ela todos os dias a desacelerar e ter mais responsabilidade. “Ela é uma esponja, que capta tudo que falo e faço, e isso me faz querer ser melhor e evoluir, pois ela acaba replicando, então preciso ser exemplo. Hoje, minha maternidade é mais paciente e quero aproveitar mais, porque sei o quanto passa rápido, por isso priorizo ela sempre. Curto estar com minha filha, quero explorar o mundo com ela, ouvir suas histórias e entrar no seu mundo”, afirma a mãe.

Só este ano na Bahia – até 17 de abril –, 13.446 mulheres entre 30 e 39 anos tiveram filhos, apontam dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), enquanto 1.886 viram seus filhos nascerem entre os seus 40 e 49 anos. Uma das principais preocupações dessas mulheres quando descobrem a gravidez? Malformação fetal.

“Elas sempre perguntam sobre os riscos, e eles existem. O nosso óvulo tem a nossa idade, portanto um ovo de 40 anos tem mais chance de ter alterações cromossômicas ou mesmo genéticas. Então o risco é maior? É sim”, diz a médica obstetra e ginecologista, Mara Rúbia.

A grande diferença que temos hoje em comparação há alguns anos atrás, aponta Mara Rúbia, é a possibilidade de diagnóstico precoce e as abordagens. “Hoje temos suplementações que melhoram o organismo materno e a condição desse óvulo, que é o que chamamos de epigenética”, exemplifica ela. Nesse ínterim, uma rede de apoio composta por familiares, amigos, cônjuge, profissionais, entre outros, é sem dúvida um dos pontos fundamentais no acolhimento dessa mulher, pois além da pressão biológica, afirma a psicóloga clínica e perita do Tribunal de Justiça da Bahia, Andressa Santana, há a pressão social.

A pressão social e a discriminação geracional é algo que pesa muito para as mulheres mais maduras, pois existe esse estigma relacionado à maternidade tardia, aponta a psicóloga. “Isso já está muito enraizado na sociedade, e pode vir através de comentários negativos e julgamentos, seja por familiares ou outras pessoas. Isso pode afetar de forma negativa a autoestima dessa mulher, sua saúde mental e seu bem-estar emocional”, explica Andressa.

Os desafios em gestar nessa faixa de idade são muitos, afirma a fisioterapeuta Adriana Borges Leite, de 47 anos, mãe de Júlia (7) e Luiza (11). “Muitos também são os aprendizados diários, sobretudo nos dias atuais, onde as mulheres precisam se desdobrar em tantas tarefas. Sem dúvida, as experiências já vividas e a maturidade me dão um pouco de tranquilidade em alguns aspectos, mas posso afirmar que ser mãe aos 40, de meninas, me traz alguns medos, afinal no mundo atual é marcado por muita exposição, violência e preconceitos”, explica.

Entretanto, a verdade é que a maternidade é transformadora e “me fez uma mulher mais completa e feliz”, afirma Adriana. Com quatro irmãos, seu entusiasmo pela maternidade e em ter a casa cheia surgiu ainda na infância. A primeira gestação dela aconteceu aos 35 anos, “quando Deus nos presenteou com a nossa anjinha Beatriz, que nos protege lá do céu, mas sempre está em nossos corações”, salienta. Aos 37 veio “a amada, sensível e que nos enche de orgulho e alegria, Luiza” e, no auge dos 39 anos... “Com toda sua leveza, senso de justiça e alegria, veio a Júlia”.

Gravidez tardia é cada vez mais comum

Tem se tornado cada vez mais comum que mulheres engravidem por volta dos 40 anos, mas não apenas por estabilidade financeira e profissional. Muitas, explica a psicóloga clínica e perita do Tribunal de Justiça da Bahia, Andressa Santana, enfrentam o dilema em desejar a maternidade, “mas por não encontrar um relacionamento saudável ao longo de sua vida, optam por adiar esse desejo na esperança de encontrar o parceiro certo”. Ou mesmo estar emocional e financeiramente pronta para criar uma família sozinha.

Por outro ângulo, também há mulheres que, mesmo em relacionamentos estáveis, enfrentam dificuldades para conceber e passam anos tentando engravidar.

“Essas tentativas frequentemente levam a uma maternidade tardia, à medida que buscam tratamentos de fertilidade ou aguardam o momento certo para expandir a família. Essa jornada também pode ser marcada por desafios emocionais, físicos e financeiros, à medida que enfrentam incertezas e expectativas em relação à maternidade”, explica a psicóloga.

E vale ressaltar ainda o aumento dos casos de mulheres que buscam pela fertilização em vitro, aponta a médica obstetra e ginecologista, Mara Rúbia. “Muitas mulheres têm buscado pela produção independente por não terem parceiros, mas ainda assim querem, sim, se tornar mães, e para isso utilizam o próprio óvulo com um espermatozoide de doador”, explica.

E por esses inúmeros contextos é que é importante reconhecer e apoiar as mulheres que enfrentam essa luta. “Oferecendo compreensão e recursos para ajudá-las a navegar por esse desafio e a encontrar caminhos para realizar seu desejo de maternidade, independentemente das circunstâncias”, aconselha a psicóloga Andressa Santana.

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