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CHUVA

"A gente morre e tudo fica", diz mulher desabrigada após temporal

Com baixa procura, abrigos de Salvador já receberam 226 pessoas em oito Unidades de Acolhimento Provisórias

Por Gabriel Gonçalves

10/04/2024 - 17:45 h | Atualizada em 10/04/2024 - 17:58
Escola Municipal Coração de Jesus possui nesta quarta-feira 73 pessoas acolhidas
Escola Municipal Coração de Jesus possui nesta quarta-feira 73 pessoas acolhidas -

“A gente morre e tudo fica. Casa fica, tudo fica. A gente tem que preservar nossa vida”, diz Maura Gomes Andrade, de 89 anos, também chamada de Dona Maura, uma das 73 pessoas desalojadas pelas fortes chuvas que caíram nos últimos dias em Salvador e que foram acolhidas na Escola Municipal Coração de Jesus, localizada no bairro do Lobato, na comunidade conhecida como Baixa do Cacau.

Nesta quarta-feira,10, segundo dados da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), 226 pessoas estão abrigadas em oito Unidades de Acolhimento Provisório montadas nas comunidades.

Na Escola Municipal Coração de Jesus desde segunda-feira, 08, Dona Maura conta que o que a coloca em risco é uma casa vizinha à residência dela. “No fundo da minha casa tem outra casa que é uma desordem. Eu estou sempre aqui, por causa dessa casa. Porque se ela desabar, eu vou esbarrar lá do outro lado”, explica a idosa, que destaca o bom atendimento na unidade de acolhimento provisório.

Uma das salas de aula transformada em quarto na Escola Municipal Coração de Jesus.
Uma das salas de aula transformada em quarto na Escola Municipal Coração de Jesus. | Foto: Gabriel Gonçalves

“Já é a quarta vez que estou aqui. Choveu, eu estou aqui. Aqui é uma maravilha. Todos nos tratam muito bem, graças a Deus. Não tem nem o que dizer. Melhor que isso só outro disso”, diz Dona Maura.

A opinião é compartilhada por Shirlei dos Santos Jesus, outra moradora da Baixa do Cacau que foi acolhida na escola. Ela conta que é a primeira vez que precisou se dirigir à unidade e que não se arrepende da decisão.

“Estou gostando aqui da escola, o pessoal me trata bem. O tratamento é bom aqui”, afirma Shirlei, que teve a casa condenada pela Defesa Civil de Salvador (Codesal).

Deixar tudo pronto para acolher as famílias com salubridade, dignidade e segurança, em um momento de extrema vulnerabilidade, é responsabilidade da Sempre. Segundo Juliana Portela, diretora da pasta e subcoordenadora da Operação Chuva, um verdadeiro esquema de guerra é mantido para situações como as causadas pelas chuvas em Salvador.

“A partir do momento que nos é avisado que a sirene [sirenes de emergência em comunidades consideradas de risco] vai ser acionada, a Sempre já tem uma pré-organização das escolas que são acolhimentos provisórios. Imediatamente, a gente desloca a equipe, que chega antes das famílias, organiza todo o espaço, e a família que a Codesal identifica em risco, ou a família se sentindo em risco, se desloca para essa escola”, explica.

Estrutura e soluções

No local, a depender da quantidade de pessoas, as profissionais da Sempre organizam quem fica em cada quarto. “Se forem muitas, a gente separa por homens e mulheres, ou mulheres com crianças. Tentamos sempre manter o núcleo familiar junto, no mesmo quarto”, ressalta.

No local, além de alojamento, as pessoas acolhidas têm acesso a todas as refeições do dia
No local, além de alojamento, as pessoas acolhidas têm acesso a todas as refeições do dia | Foto: Fotos Shirley Stolze | Ag A tarde

Chegando na unidade de acolhimento, as famílias recebem kit de higiene pessoal - com sabão, pasta de dente, escova de dente -, recebem toalha, colchão, lençol, travesseiro com fronha e uma colcha se ela sentir necessidade. Além disso, as pessoas são encaminhadas para cadastro de benefícios sociais.

“Elas são encaminhadas ao social da Codesal, que procede a solicitação do benefício moradia - o aluguel social - ou do benefício emergencial. O valor do aluguel está R$ 300 no mês, e o tempo que a pessoa recebe depende da indicação do profissional que faz a vistoria. Se ele indicar evacuação temporária pelo tempo que perdurar a chuva, então serão de 3 a 4 meses”, explica Juliana Portela.

“A Sempre também tem um posto avançado na Codesal, que são assistentes sociais de plantão - sábado, domingo e feriado -, para ouvir essas famílias que passaram pelo social da Codesal e que precisem de alguma provisão: cesta básica, colchão, kit dormitório, kit higiene, material de limpeza para casa, até para lavar a casa em caso de alagamento”, acrescenta.

Além disso, a pasta possui o projeto CadÚnico Itinerante e, com as pessoas sendo acolhidas nas unidades, equipes do projeto estão passando pelas escolas. “A gente vem identificando que várias pessoas não estão incluídas no CadÚnico ou estão com o cadastro desatualizado, e a gente não tinha como não aproveitar essa oportunidade de oferecer mais esse serviço à população, que possibilita que ela tenha acesso a vários benefícios municipais, estaduais e federais, que é o principal: o Bolsa Família”, destaca Juliana.

Escola Municipal Coração de Jesus fica na Baixa do Cacau.
Escola Municipal Coração de Jesus fica na Baixa do Cacau. | Foto: Fotos Shirley Stolze | Ag A tarde

Mesmo assim, há muitas famílias desalojadas que não buscam as unidades de acolhimento. “Algumas pessoas alegam que, por ter [a residência] de um familiar, optam por estar no seio familiar. Independente disso, elas vão ter todo suporte”, afirma a diretora da Sempre.

Para Dona Maura, as famílias desalojadas não precisam temer as unidades de acolhimento nas escolas municipais. Com a sabedoria de quase nove décadas de vida, ela diz que, para além do bom atendimento, o importante é se manter em segurança.

“Eles precisam preservar a vida deles, porque tudo fica. A gente morre e tudo fica. Casa fica, tudo fica. A gente tem que preservar nossa vida, enquanto Deus nos dá esse fôlego, porque quando Ele tomar, acabou”, conclui.

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Tags:

acolhimento Chuvas desalojados escola Salvador unidades de acolhimento provisório

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