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SALVADOR

"A patifaria, neste país, parece indestrutível", diz o cartunista Jaguar

Por Erick Tedesco | A TARDE SP

10/06/2017 - 16:45 h
Jaguar, cartunista
Jaguar, cartunista -

O carioca Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, é um dos grandes artistas do humor gráfico brasileiro, com carreira que extrapola os 50 anos. A TARDE é a nova casa de Jaguar, que aqui vai publicar charges e crônicas. Nesta entrevista, o cartunista relembra momentos da carreira e situações que aconteceram na Bahia.

Qual é a sensação de fazer parte do time de A TARDE e o que já está preparando para estampar nas páginas do jornal?

Sensação esquisita: de que este velho cartunista amanhece no A TARDE. O que estou preparando? O que esperam de mim: cartuns, charges e textos dentro do espírito da expressão latina “ridendo castigat mores” (é rindo que se castigam os costumes), usada e abusada pelo velho português Gil Vicente e o novo baiano Gilberto Gil. Matéria prima para o humor não faltará, basta ler as manchetes.

O senhor faz parte de uma importante geração do humor gráfico do Brasil, uma ferramenta que tem espaço em jornais desde os tempos do Segundo Império e principalmente no início da Primeira República. Como o senhor entende seu papel no ofício de criar cartuns e charges na história do Brasil?

Vamos por partes: primeiro não encabecei nem sou a traseira de nada. E depois sou apenas elo de uma cadeia de caras que estão sempre perigando ir para a cadeia: cartunistas e chargistas. Nós temos, literalmente, uma profissão de risco.

Apesar de preocupante e triste, o atual momento político rende críticas construtivas por meio do humor gráfico. O senhor sente-se inspirado, como nos tempos do Pasquim?

Preferia que críticas de humoristas fossem destrutivas. Mas nossos alvos são blindados contra o humor. Como nos tempos do Pasquim, me sinto mais frustrado que inspirado. A patifaria, neste país, parece indestrutível.

É difícil conciliar o riso com a crítica?

O riso é a crítica. Voltamos ao "ridendo, etc".

Como o senhor define os traços da sua arte? Como se interessou por desenhar?

Como não consegui aprender a desenhar (fui até expulso de uma escola de desenho, o Instituto Oberg), o jeito foi rabiscar cartuns.

Do que mais sente falta dos tempos do Pasquim? Ainda se encontra com essa turma, como Ziraldo e Sérgio Cabral?

Sim, numa boa. E também gosto de rever a rapaziada que começou no Pasquim. O pessoal do Casseta e Planeta, por exemplo, despontou numa saleta na redação do Pasquim, aquele velho casarão da rua Saint Roman, em Copacabana, que já foi randevu e hoje pertence à Fundação Paulo Coelho. Sinto falta da energia dos meus 40 anos e da garrafa de uísque ao lado do vidro de nanquim. Meu médico proibiu o uísque. De vez em quando esbarro com o pessoal da patota, os velhos: Ziraldo, Sergio Cabral, o pai, os (para mim) novos: Angeli, Reinaldo, Hubert, Leonardo, Nani, Claudio Paiva, os Carusos: Chico e Paulo...

Mesmo com situações adversas, como perseguições políticas e dificuldade financeira, o humor combativo e inteligente de todo o Pasquim conseguiu imprimir conceitos éticos e de justiça a uma geração?

Demos o nosso melhor, como costumam dizer os jogadores de futebol, mas infelizmente estamos levando a pior.

O senhor foi muito amigo de Henfil, um talentoso cartunista que tem sua obra perpetuada no Brasil. Foi ele quem uma vez disse: “o Jaguar é capaz de libertar o Brasil com uma charge”. Quais são os poderes e os limites que, ao longo dos anos, foi estabelecendo para a sua arte?

O Henfil disse isso? Se eu não soubesse que ele não podia beber por causa da hemofilia, diria que estava de porre.

Os noticiários e a baderna da política em Brasília dos últimos anos não desperta o interesse do rato Sigmund em voltar à ativa? Talvez agora um Sig muito à vontade para dar pitacos sobre o que acontece em Salvador?

Sem problemas. Na atual conjuntura, talvez fosse mais indicado ressuscitar outro personagem que inventei: Gastão, o Vomitador. Depois de ler as manchetes dos jornais, o coitado começava a vomitar.

Qual é o seu histórico e relação com o humor gráfico da Bahia?

Conhecia e admirava o trabalho de K-Lunga, um português abaianado, tão talentoso quanto seu xará K-Lixto, do Rio. E Gregório de Matos - o Boca do Inferno – ele não desenhava, mas seu texto tem a mesma ferocidade do traço do Henfil. E, como no resto do Brasil, tem uma garotada muito talentosa aparecendo.

O senhor também é responsável pela criação do Salão de Humor Internacional de Piracicaba, criado nos anos 70 e ainda realizado de forma ininterrupta. Assim como O Pasquim, também foi uma ferramenta de combate à repressão da ditadura militar e reunia na cidade do interior paulista muitos dos grandes cartunistas do Brasil, além do intercâmbio com o que era produzido lá fora. Qual foi a sua contribuição para sua criação e continuidade?

Na verdade Fortuna e eu redigimos, se não me falha a memória (quase sempre falha), o regulamento do primeiro Salão. De vez em quando participo do júri. Este ano devo ir. De tudo que participei foi o que mais deu certo. O Salão não parou de crescer e hoje é referência mundial, muito me ufano ter colaborado para isso.. Revelou grandes talentos e certamente vai continuar revelando.

Conte-nos uma memória saudável de alguma visita à Bahia, agora sua casa por meio de A TARDE.

Um episódio inesquecível: a visita que Millôr Fernandes e eu fizemos ao Vinicius na sua casa em Itapuã. Levamos horas e demasiadas doses de uísque jogando conversa fora, até que a bela e feroz Gessy Gesse apareceu e deu a maior bronca: "Você traz esses seus amigos intelectuais para estragar o verniz da minha mesa com os copos molhados!´". Depois do pito, Vinicius pegou a garrafa, Millôr os copos, eu o balde de gelo, e fomos beber num banco da praia. A Bahia é muito importante para mim. Adorei conhecer Itaparica tendo como guia João Ubaldo, que me apresentou aos seus personagens, companheiro de longos papos nos bares do Leblon. Ruy Espinheira e sua paixão, Barral, que agora se revela (com trocadilho) grande fotógrafo, e Antonio Torres com quem bato longos papos em Itaipava, na Serra do Rio de Janeiro.

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