SALVADOR
A quantas anda seu prazer?

Por Marta Erhardt
Ponto máximo da relação sexual, o orgasmo foi celebrado no último dia 31 em todo mundo. A data foi criada em 1996 na Inglaterra, após levantamento encomendado por sex shops que revelou que 80% das britânicas nunca tinham chegado ao orgasmo. A pesquisa inglesa aponta para uma realidade já conhecida e ainda existente no universo feminino: mulheres têm mais problemas em obter prazer na relação sexual.
Conseguir atingir o clímax é preocupação de 58,6% das brasileiras que têm vida sexual ativa, segundo dados do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, do Projeto Sexualidade (Prosex) do Hospital das Clínicas, da USP. Medo de engravidar, falta de apetite sexual, receio de não satisfazer o companheiro, educação rígida e machista são algumas das justificativas apontadas pelas mulheres que não conseguem alcançar o ponto máximo na relação.
Desde pequenos os homens são estimulados a se tocar e se habituam a conhecer o próprio corpo. As meninas, não. Até pouco tempo havia a mentalidade de que as mulheres eram feitas somente para parir. Ter prazer era feio e normalmente elas eram reprimidas pela família e pela rigidez religiosa, explica a sexóloga, pedagoga e escritora Valéria Walfrido.
A secretária Luana Souza* concorda que as mulheres têm mais dificuldade de chegar ao orgasmo do que os homens, mas já percebe uma mudança nesse quadro. Estamos exigindo o prazer também. As minhas amigas conversam sobre isso com seus parceiros. Os homens estão mais preocupados em saber se a mulher gozou ou não, revela a baiana, que se orgulha de ter chegado ao ponto máximo mais de duas vezes em uma noite.
A importância do diálogo com o parceiro é destacada por Valéria Walfrido, que aproveitou o Dia do Orgasmo para lançar o livro Toque Quente (Editora Novo Século), com dicas e curiosidades que estimulam a prática sexual, para que o casal mantenha aceso o tesão. É preciso conversar sobre o assunto com jeito para não chocar o companheiro. Uma possibilidade é mostrar o ponto do corpo em que se sente mais prazer, ressalta.
Pimenta - Casada há quatro anos, Mariana Santos* reconhece a necessidade de novos truques para animar a relação. A telefonista não tem problemas para obter prazer e evita que o casamento caia na rotina com o uso de assessórios como gel, gelo, leite condensado e filmes eróticos. Se não apimentar, cai na mesmice e aí não dá vontade de nada. O casal tem que estar aberto para todo tipo de prazer, sem vergonha e sem barreiras. Se não for assim, não flui, revela.
A intimidade entre o casal é defendida pelas mulheres como fator fundamental para um bom entrosamento na cama. Tem homem que não sabe fazer a mulher chegar lá. Rolar a química é importante, mas o principal é que o parceiro não se preocupe só com ele. É preciso muita conversa para conhecer o outro e os pontos em que o parceiro sente mais prazer. Isso só se consegue com muita intimidade, defende a auxiliar administrativa Laura Silva*, que admite já ter passado por dificuldades para atingir o clímax.
A universitária Raquel Velasquez* também assume que nem sempre obtém prazer na relação sexual, mas sente mudanças no corpo quando isso acontece: A minha pele fica mais bonita, jovial. Além disso, meu humor muda, me sinto relaxada e feliz, relata.
As mudanças de humor e físicas são explicadas pela sexóloga Valéria Walfrido: A pele fica mais viçosa porque o prazer sexual favorece a produção de estrogênio (hormônio sexual feminino secretado pelos ovários) e do colágeno natural. Já o humor melhora porque o orgasmo intensifica a ação da serotonina e da dopamina, substâncias produzidas pelo cérebro que provocam sensação de relaxamento e bem estar.
Apesar de toda a exploração em torno da sexualidade em músicas como funks e pagodes, que abusam letras de duplo sentido, e novelas com cenas cada vez mais picantes, o orgasmo ainda é assunto delicado para muitos. A mais recente polêmica envolvendo o tema foi provocada no último dia 15, quando a novela Páginas da Vida exibiu o depoimento real de uma mulher de 68 anos, sobre a descoberta do prazer.
Polêmica - A dona-de-casa relatou como foi a primeira vez que atingiu o orgasmo, aos 45 anos: "Botei na vitrola a música O Côncavo e o Convexo e fui dormir. Quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão, toda babada. Comentei com as amigas, que disseram: Você gozou. Aí vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 anos que homem pra mim não faz falta. Eu mesma dou meu jeito."
O relato gerou protestos e o autor do folhetim, Manoel Carlos, pediu desculpas, negou que quisesse escandalizar os telespectadores. Também admitiu que ele e o diretor-geral da produção, Jayme Monjardim, falharam ao permitir a exibição do quadro.
A repercussão, de acordo com a sexóloga, é influenciada pela histórica submissão feminina. É uma atitude machista. Só porque foi uma mulher relatando como obteve um orgasmo, houve essa polêmica. Se fosse um homem de 77 anos, todos iam aprovar porque mostraria que apesar da idade ele ainda mantém relações, argumenta.
A cena também trouxe à tona outra questão: a sexualidade na terceira idade. O favorecimento da medicina e os avanços da indústria farmacêutica colaboram para que homens e mulheres, independente da idade, continuem em busca do prazer na relação sexual. Os homens são beneficiados com remédios para disfunção erétil e próteses. Já as mulheres que têm problemas com lubrificação, contam com o auxílio de gel lubrificante à base de água, destaca Valéria.
Para quem ainda busca o clímax, a dica é não se preocupar com o orgasmo. A obrigação de chegar lá pode aumentar a ansiedade e atrapalhar a obtenção do prazer. Especialistas afirmam que para se chegar ao orgasmo, o melhor caminho é esquecer dele. Neste caso, a melhor opção é relaxar e caprichar nas preliminares.
*Nomes fictícios
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