DOAÇÃO
'Agosto Dourado' alerta para déficit de doações em bancos de leite
Tratado como elemento fundamental contra mortalidade infantil, leite materno está escasso e necessita de doações
Por Madson Souza
Na dieta dos bebês, o leite é tratado pelos especialistas como “padrão ouro”, o elemento fundamental na luta contra a mortalidade infantil. Se não direto da amamentação, a melhor alternativa possível para os pequenos é o leite humano doado, mas a realidade nos estoques dos hospitais de Salvador é de escassez. Os quatro bancos de leite da capital baiana chegam ao ‘Agosto Dourado’ - mês dedicado a ressaltar a importância do leite materno - com déficit de 48%, número que afeta diretamente a vida dos recém nascidos.
A médica neonatologista da Maternidade Climério de Oliveira, Alena Jardim, explica porque o leite recebe a medalha de ouro na dieta dos bebês. “O leite materno é considerado o alimento mais completo que uma criança pode receber. Ele a protege de doenças da fase infantil, como diarréias, infecções respiratórias e infecções no geral, e alergias, por exemplo. Além disso, ele tem repercussão a longo prazo, porque protege também de doenças da fase adulta. É o único fator isolado que pode reduzir a mortalidade infantil”, afirma. Ele também diminui a possibilidade de mães que amamentam terem hemorragia pós-parto, e oferece proteção contra alguns cânceres, como o de ovário e o de mama.
No entanto, nem sempre é possível que a mãe amamente seu filho - porque está doente, incapacitada de oferecer seu leite, ou não produz o suficiente -, e nesses casos o leite humano doado é a melhor opção possível. Na Bahia, são 9 bancos de leite humano e um posto de coleta, credenciados pela Rede Global de Bancos de Leite Humano (BLH). Os quatro bancos da capital baiana não possuem leite o suficiente para atender todo o público que necessita.
Na primeira gestação da manicure Aline Rodrigues, quando tinha 16 anos, ela não teve leite para amamentar seu bebê. Hoje, com 27 anos de idade, após uma gestação de gêmeos, ela fez sua primeira doação de leite na Maternidade Climério de Oliveira. “Tô tendo bastante leite e aproveito pra ajudar as criancinhas que precisam, ajudar as mães que não conseguem”, conta. A iniciativa de Aline é importante, porque os estoques precisam.
O Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) precisa de 180 litros de leite humano mensais para atender sua demanda, mas atualmente seu estoque é de 80 litros. Na Maternidade de Referência Prof. José Maria de Magalhães Netto o ideal seria uma média de 100 litros, mas hoje eles trabalham com 65 litros. A história se repete no Instituto de Perinatologia da Bahia – IPERBA que tem um déficit de 0,600 ml diários e na Maternidade Climério de Oliveira que precisa de entre 120 e 140 litros, mas no momento só possui 40 litros em estoque.
“Estamos (na Maternidade Climério de Oliveira) com os estoques baixíssimos de leite humano e a gente está tendo que escolher os bebês para ofertar o leite humano, porque não estamos conseguindo atender a todos os bebês que precisam, por conta desses estoques muito baixos”, explica Alena. A prioridade para receber o leite humano doado é dos bebês prematuros, que têm maior vulnerabilidade. A ideia é que os recém-nascidos sigam dessa forma até que possam ser amamentados nos seios maternos.
E qualquer quantia doada já ajuda. Alguns bebês recebem apenas um “mlzinho” de leite por dieta, segundo a neonatologista, e comem de três em três horas, então com 100ml é possível alimentar cerca de dez bebês. “A doação de leite humano é tão importante quanto a doação de sangue. Ela ajuda a salvar vidas. Quanto mais bebês recebem o leite humano, mais vidas estão sendo salvas”, afirma Alena.
Mas mesmo as mães em condição de amamentar ainda possuem dificuldades. A farmacêutica Thamires Silva Cruz, mãe pela primeira vez, foi à maternidade Climério de Oliveira para fazer uma capacitação em amamentar, porque tem tido dificuldades. “Pra ser bem sincera ainda é muito doloroso, é muito difícil. Não é tão emocionante como romantizam. Mas eu gosto, quando tá certinho, quando não tá doendo, eu gosto muito do momento. Às vezes não consigo fazer a pega correta, o bebê não consegue pegar e acaba machucando. O que me deixa um pouco nervosa, com medo, desespero de mãe mesmo. Mas hoje me ensinaram como fazer a pega correta, a deixar o bebê na posição certa”, comenta.
Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite humano. Porém, exames de sorologia (HIV, sífilis e hepatite B), dentre outros fatores são exigidos e precisam ser refeitos a cada seis meses. A coleta pode ser realizada na unidade médica ou na residência, dependendo do hospital.
O projeto Bombeiro Amigo do Peito busca incentivar o aleitamento em parceria com os bancos de leite das maternidades Climéria de Oliveira e Iperba. Equipes de bombeiras vão até a casa dessa mãe que quer doar, levam um kit e a orientam sobre como armazenar o leite, então retornam com oito dias para pegar a subsistência e levá-la até as maternidades.
Para ser uma doadora da Climério de Oliveira basta entrar em contato com o fixo 71 3283-9264 ou pelo whatsapp 71 99334 0063. Já na Maternidade Magalhães Netto o cadastro pode ser feito pelo whatsapp 71 9628-0855. No caso do IPERBA o contato pode ser por telefone através do número 3103-9304. Os números para entrar em contato com o banco de leite do HGRS são o (71) 3117-7532 ou WhatsApp (71) 98225-5493. Através desses canais serão prestados os esclarecimentos. A coleta pode ser realizada na unidade ou na residência - para a modalidade residencial à maternidade entrega os frascos esterilizados.
O Ministério da Saúde lançou a Campanha da Semana Mundial da Amamentação 2024, nesta última quinta-feira, 1. Com o tema "Amamentação, apoie em todas as situações", o foco é a redução das desigualdades relacionadas ao apoio à amamentação. O projeto tem como público principal as Lactantes em situação de vulnerabilidade, além de fornecer apoio à amamentação em situação de estado de emergência, calamidade pública e desastres naturais.
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