ANIVERSÁRIO DE SALVADOR
Aniversário de Salvador: a arte, a cultura e o espírito de comunidade do Candeal
Por Bianca Carneiro
Todo bom baiano sabe que a Timbalada nasceu no Candeal, lar do “cacique” Carlinhos Brown. Imortalizado em canções do grupo musical e também por outros artistas como Daniela Mercury, o local é palco, até hoje, de uma efervescência artística e cultural que tem tudo a ver com o clima de comemoração desta segunda-feira, 29, aniversário de 472 anos de Salvador.
Fundada a partir da união de Manuel Mendes e Josefa de Santana, negra liberta da Costa do Marfim que chegou ao Brasil em 1769, procurando por parentes que vieram escravizados, a comunidade que pertence ao bairro de Brotas, se divide em duas partes: O Alto Candeal, que concentra a classe média, e o Candeal Pequeno.
Conta a história que a família Mendes e Santana, ao comprar a “Roça Candeal Pequeno” transformou-a em um “quilombo urbano”, onde Dona Josefa comprava e libertava negros e acolhia os fugitivos. Assim, para além da musicalidade e das demais artes que perpassam as ruas, a localidade, é antes de tudo, conhecida pelo seu caráter matriarcal e espírito de comunidade que persistem até os dias atuais. Segundo o assistente social Leonardo Oliveira, de 33 anos, que nasceu e morou lá por 28 anos, os moradores costumam cuidar e se preocupar uns com os outros.
“A comunidade tem algo que me encanta que é a relação entre os moradores. A esmagadora maioria dos moradores se respeita, se abraça, se importa um com o outro. Isso é o que mais chama a minha atenção aqui no Candeal. Eu percebo a preocupação das pessoas comigo, com a minha caminhada, o que estou fazendo. É surreal a gente imaginar no século XXI, no cenário em que estamos vivendo, uma comunidade que seja totalmente aberta a esse tipo de relação”, afirma.
“O Candeal é bem tranquilo, o povo se ajuda”, completa o profissional de serviços gerais Ivo Gualberto, 50, que mora na localidade desde que nasceu.
A relação próxima entre os moradores se reflete nas iniciativas sociais presentes espalhadas pelos bairros. A mais famosa, sobre a qual as vidas de Leonardo e Ivo se cruzam, é a Associação Pracatum, fundada em 1994 por Brown, cujas ações são sustentadas nos pilares de Educação, Cultura e Desenvolvimento Comunitário, através dos projetos Escola de Música e Tecnologias, Tá Rebocado e Pracatum Inglês, além de cursos profissionalizantes para jovens e adultos.
A Pracatum foi responsável por apresentar a arquiteta Brenda Brito, 26, ao Candeal. Ela, que fez curso de moda na instituição, se encantou com as paisagens urbanas do bairro transformadas com a ajuda da arte.
“É um lugar incrível em vários aspectos, mas o que me chamou atenção é justamente por ser uma periferia como qualquer outra em Salvador, mas que foi transformada através de arte e educação, nos mostrando que é possível. Os moradores abraçaram as mudanças e são colaboradores da manutenção do bairro e dos projetos existentes. Como arquiteta eu aprecio a história por traz do bairro e as questões urbanas associadas à cultura”, explica.
Para conhecer
Depois que a pandemia passar, vale uma visitinha a alguns lugares icônicos no Candeal. Para Leonardo, não podem faltar na tour a “Escadaria de Zé Botinha”, a própria Pracatum, o Candyall Ghetho Square, a Rua Bob Marley, o Tamarineiro e a Feira de Xangô. Para Ivo, outra parada obrigatória é a Bica do Candeal: “no dia que falta água todo mundo corre para a bica”, diverte-se ele, que também adiciona a Praça da Arte e o campo de futebol no roteiro.
“A comunidade do Candeal é um berço da cultura baiana, ela cresce e tem suas raízes na cultura, ela vive da cultura e se movimenta ao redor disso. Pensar no Candeal é pensar em um bairro que traz na sua essência, a cultura, a música e as relações sociais”, resume Leonardo.
“Recomendo muito o evento “O Candyall e Tal”, nessa ocasião acontecem diversas amostras culturais. Vale muito conhecer a Pracatum, o Candyall Guetho Square, tirar umas fotos nas escadarias coloridas, visitar a Praça das artes e de quebra, aliviar o calor na famosa Bica do Candeal. Enfim, certeza de passeio agradável e muita arte para apreciar”, recomenda Brenda.
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