SALVADOR
Atestado médico falso à venda no Centro
Por Marcelo Brandão, Sidnei Matos e Hieros Vasconcelos
Um esquema ilegal de venda de atestados médicos falsos foi flagrado por repórteres de A TARDE no Centro de Salvador, em plena luz do dia e ao lado de um módulo policial. Os documentos possuem carimbo e assinatura falsificadas do médico clínico-geral Roberto Villalva, que já foi vítima do mesmo golpe outras duas vezes este ano.
Depois de receber a denúncia de que estelionatários comercializam atestados na região do Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, repórteres de A TARDE se passaram por compradores para tentar comprovar a ilegalidade. Em três ocasiões, os jornalistas conseguiram comprar os documentos médicos.
Na primeira oportunidade, um repórter do jornal foi informado, por um camelô da região do Relógio de São Pedro, de como poderia adquirir um atestado falso. Acionado pelo vendedor ambulante, um homem negro, alto e bem-vestido abordou o repórter instantes depois. Identificando-se como Gleidson, o estelionatário negociou o atestado a poucos metros do módulo da 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro), sem qualquer interferência dos PMs. Ele anotou os dados do jornalista e voltou em poucos minutos com o atestado.
O documento é idêntico aos formulários oficiais que eram usados pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Médica da Previdência Social (Inamps), mas foram retirados de uso depois que o órgão foi extinto. O atestado também continha o carimbo com o nome e o número do registro profissional do médico Roberto Villalva, além da assinatura falsificada do profissional de saúde.
Após entregar o atestado para o repórter, o estelionatário recebeu os R$ 25 combinados e foi embora. Dias depois, outro jornalista de A TARDE, disfarçado de motoboy, comprou um novo atestado do mesmo homem. Depois de fazer um contato pelo telefone celular, o falsário marcou o encontro para realizar a transação no mesmo local: a Praça do Relógio de São Pedro. Novamente, ele negociou e entregou o documento em plena luz do dia, a poucos metros do módulo policial.
Uma semana depois, repórteres disfarçados voltaram ao local e mais uma vez negociaram com o estelionatário um atestado. O homem que apresenta-se como Gleidson estava no saguão do Edifício São Pedro, situado em frente ao módulo da PM, junto com comparsas. Nos três dias em que os jornalistas estiveram no local, a portaria do prédio parecia funcionar como um quartel general dos falsários.
Médico - Localizado por A TARDE, o médico Roberto Villalva Ribeiro entregou documentos comprovando que ele procurou a polícia duas vezes para denunciar que seu nome e registro profissional vêm sendo usado por falsários desde julho deste ano. Indignado, o clínico-geral contou que fora informado pelo Cremeb sobre a suspeita de atestados falsos contendo seu nome. O médico registrou duas queixas na Delegacia de Repressão a Crimes contra o Estelionato e Outras Fraudes (Dreof), na Baixa do Fiscal. Mas ninguém foi preso e seu nome continuou sendo usado ilegalmente.
O Cremeb informou que enviou dois comunicados para o médico Villalva, sobre atestados suspeitos, mas em ambos os casos ficou comprovado que a assinatura não pertencia ao clínico-geral. A delegada Joana Angélica Santos, titular da Dreof, disse que esse tipo de crime é muito comum na região do Relógio de São Pedro, mas a polícia tem dificuldade de combatê-lo. “Nós investigamos, realizamos prisões, mas em pouco tempo aparecem outros fazendo a mesma coisa”, disse a delegada. Ela explicou que as pessoas envolvidas nessa prática, caso sejam flagradas, responderão por vários crimes.
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