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EVENTO INTERNACIONAL

Ativista americana defende valorização de homens na comunidade negra

Victória Santos chega em Salvador para realizar evento que traz o homem preto como foco das discussões

Por Isabela Cardoso

24/08/2023 - 21:12 h | Atualizada em 25/08/2023 - 16:13
Victória Santos é idealizadora do evento, fundadora da BIPOC ED Coalition e do Centro de Cura e Libertação
Victória Santos é idealizadora do evento, fundadora da BIPOC ED Coalition e do Centro de Cura e Libertação -

A cura, o bem-estar e a valorização da comunidade negra, para além de um cenário de violência, são uns dos principais trabalhos promovidos pela ativista negra norte-americana Victória Santos. Ela chega em terras soteropolitanas para promover o evento internacional “Uma Jornada Com Três Homens Pretos - Trauma, Ritual & a Promessa do Monstruoso".

A vivência contará com a participação do professor e filósofo, Bayo Akomolafe, do mestre em pensamento sistêmico, Orland Bishop, e do escritor e terapeuta, Resmaa Menaken. O evento, que terá entrada gratuita, está marcado para o dia 1º de setembro, no Museu de Arte Moderna (MAM), apenas com homens pretos e, no dia 2 de setembro, na Senzala do Barro Preto, contemplando também as mulheres pretas. A programação acontecerá sempre das 9h às 17h.

Victória, idealizadora do evento, é fundadora da BIPOC ED Coalition, que reúne 200 líderes negros e indígenas em um trabalho voltado para promover o bem-estar e a saúde, e do Centro de Cura e Libertação, uma organização que também é voltada para essas práticas e para a justiça racial. Ao criar essas organizações, a ativista conseguiu conscientizar muitas pessoas pretas a trabalharem suas dores e também a aspirarem um futuro de sucesso e realizações.

Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Victória contou que a Jornada foi idealizada com o desejo de querer ouvir e sentir a presença da masculinidade negra, além de evidenciar a potência dos homens negros.

“A inspiração da coragem, a proteção e o companheirismo dos homens negros. Isso também veio com os eventos que aconteceram nos Estados Unidos com a morte de George Floyd, com todas essas violências, e a relação com os próprios homens da minha família, a relação com meu pai. É algo para ver o que esses três homens [participantes do evento] estão fazendo, me faz querer engajar nessa conversa com eles”, disse.

Uma das pautas a serem trabalhadas no evento são as possíveis estratégias para o homem preto conquistar grandes espaços com dignidade e equidade. Nessa relação, Victória pontuou que o poder da expressão artística é um quesito importante.

“Uma das coisas que os irmãos disseram, algo que eu também já sabia, é que os artistas, os pintores, a arte, os músicos, a música, as expressões artísticas são muito importantes para chegar nesse ponto. Mas vou deixar os três irmãos responderem isso. Eles, que estão vindo para o evento, estão fazendo seus trabalhos, cada um no seu espaço e, juntos, vão compartilhar e harmonizar o que eles fazem nessa direção com os homens pretos do Brasil. No dia primeiro serão só homens, eles vão compartilhar, falar e construir estratégias. Já o dia dois será com todo mundo compartilhando e trocando, vamos conversar com nossos corpos, caminhar juntos, dançar, rezar, fazer coisas juntos, não serão só conversas”, ressalta.

Victória Santos realiza evento em Salvador para abordar as perspectivas da masculinidade negra para além da violência
Victória Santos realiza evento em Salvador para abordar as perspectivas da masculinidade negra para além da violência | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

A ativista busca essa perspectiva para os homens pretos por causa de um cenário de racismo que afeta a autoestima, os sonhos e a felicidade de toda a comunidade. Segundo Victória, foi vendido uma história que separa as pessoas em categorias através da cor da pele e é preciso eliminar essa mentalidade que ainda persiste no mundo atual.

“Essas categorias diziam quem vale mais, que os brancos valem mais a partir de suas peles, quem vale mais a partir da cor de sua pele. Isso foi vendido para nós de uma maneira que foi difícil para eu entender que sou bonita. Fez eu entender por muito tempo que sou subserviente a pessoas brancas por conta da cor da minha pele. Então, está na hora de acabar, acordar desse conto, acordar desse pesadelo que faz com que as pessoas achem que elas são superiores por conta das cores. É algo que a gente precisa eliminar. Não é bom nem para as pessoas pretas e nem para ninguém. A gente não pode mais suportar isso. Nem a terra está mais suportando a nossa ganância”, comenta.

Victória relembrou que o assassinato de George Floyd foi um sacrifício que o mundo sentiu e o fez mudar de perspectivas. O ocorrido não só impulsionou novos movimentos, como também deu forças para que ela pudesse construir novos trabalhos.

“Quando ele deu o seu último suspiro dizendo que não podia respirar, por muito tempo houve muitos de nós que não conseguiram respirar. Então, quando ele morreu, uma energia foi liberada. Ele estava chamando pela sua mãe, mas não apenas a sua mãe física, também a sua mãe espiritual, uma energia de proteção. Muita coisa saiu dessa experiência com o Jorge Floyd e continua fazendo brotar coisas novas. Esse sacrifício dele não foi em vão e é isso que eu faço todos os dias mesmo quando eu nomeio o Jorge Floyd. Eu o honro fazendo as coisas que eu faço, construindo, vivendo, existindo em comunidade. Essa é a forma que a gente honra o espírito de George Floyd”, pontua.

Mesmo com tantos desafios para a população preta, a preservação da ancestralidade é um marco de resistência. Victória sentiu que a cultura negra em Salvador está para além da história escravocrata e, por isso, a realização do evento da Jornada Internacional na capital baiana tem uma grande relevância.

“É algo que está anterior ao espírito da escravidão, está preservando o que veio antes desse período. É importante lembrar isso para que a gente possa se reconectar com o nosso futuro. Eu vi o que aconteceu nas cavernas com as pessoas africanas, quando elas foram capturadas pela escravidão. Eu senti o meu coração partir e senti essa ferida que aconteceu com o nosso povo lá. Quando eu vim para cá, senti essa conexão com o Brasil. Em termos de se conectar com a ancestralidade brasileira, sinto que os brasileiros vêm fazendo isso muito bem com o Candomblé, com a Umbanda, com as religiões de matriz africanas. Para nós, que estamos vindo pra cá, é como testemunhar o que vocês estão fazendo em termos de ancestralidade”, conclui.

Rota Diaspórica Reversa

Imagem ilustrativa da imagem Ativista americana defende valorização de homens na comunidade negra
| Foto: Divulgação

Em 2023, Os Três Homens Pretos realizam visitas em países de três continentes, em uma rota diaspórica reversa. Em cada país visitado, eles buscam construir um processo de fortalecimento da negritude nos continentes e no mundo.

A primeira parada da Jornada aconteceu no mês de junho de 2023, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O próximo encontro com as três lideranças é o que acontecerá em Salvador, e o último evento, que finaliza a jornada, acontecerá em Acra, capital de Gana, em dezembro de 2023.

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Tags:

Uma Jornada Com Três Homens Pretos Victória Santos

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