SALVADOR
Bairro Guarani é encarado como tesouro escondido de Salvador
Por Henrique Mendes

Historicamente, uma das principais etnias indígenas das Américas. Semanticamente, sinônimo de guerreiro, bravo. Além dos sentidos nacionalmente conhecidos, o termo "Guarani", quando contextualizado à capital baiana, também se apropria de conotações geográficas. Apesar do roteiro conhecido, as ladeiras do Curuzu e do Largo do Tanque conduzem os moradores da cidade a um tesouro cultural escondido, oficialmente chamado de bairro do Guarani, informalmente conhecido como o "oásis (lugar agradável) da Liberdade".
O surgimento do bairro é datado dos anos 50, conforme registros da Prefeitura de Salvador. O local de ocupação pertencia à última área ainda desabitada da grandiosa região da Liberdade. O nome, pelo que sabem os moradores, foi escolhido para exaltar a cultura indígena. Sem registros históricos que comprovem a intenção da homenagem, as ruas atestam os indícios do achismo popular. No Largo Guarani, região central do bairro, a pintura de um índio armado com arco e flecha aparece como uma constatação emblemática.
Com visão privilegiada da Baía de Todos-os -Santos, o local foi rapidamente tomado por residências. Dez anos após a primeira construção, todo o bairro já estava habitado. Dono de uma barraca de lanches no Largo Guarani, Marconi da Silva, morador do bairro há 17 anos, diz não ter pretensão de sair da região. "Aqui já foi mais calmo, mas, na medida do possível, ainda temos uma vida tranquila", declarou.
Embora a queixa de falta de segurança, motivada pela ausência de rondas policiais na região, a violência não é uma característica considerada predominante no bairro. Prova disso é que a maioria dos moradores entrevistados fez questão de reiterar que, dos bairros agregados à Liberdade, o Guarani é um "oásis" escondido. "A violência cresceu em todos os lugares e as pessoas sentem-se inseguras. Ainda assim, não me lembro do último crime que tenhamos presenciado", contou uma senhora de 60 anos, moradora do bairro há 17, que preferiu não ser identificada.
O passeio pelas ruas, ao menos durante o dia, revela que o Guarani possui residências mais amplas e espaçadas que as demais localidades da Liberdade. Não há conglomerados de casas, assim como não há pontos críticos de despejo de lixo. No fundo, o bairro guarda características similares às pequenas cidades do interior: um parque na praça do largo central para as crianças, uma agência do Banco do Brasil, um posto dos Correios e uma série de barbearias. Bares e restaurantes garantem a cerveja do final de semana e o barulho dos carros de som.
Personalidades - O escondido bairro do Guarani também é um celeiro cultural. Do local, saíram compositores e músicos famosos, como o ex-guitarrista da Banda Chiclete com Banana, Cacik Jonne, e o capoeirista César Dialamba, que participou do filme "The Quest", com o astro de filmes de luta Jean-Claude Van Damme. O compositor Osvaldo Menezes também é filho do Guarani. O artista é autor de sucessos como "Pé de Moleque", do Chiclete com Banana, e "Merengue Deboche", cantada por Sarajane.
Das pessoas célebres que passaram pelo bairro, entretanto, Irmã Dulce é a que é lembrada com maior carinho. A "Bem-aventurada Dulce dos Pobres" foi professora da Escola Abrigo dos Filhos do Povo por um período de 12 anos. Criada em 1918, a instituição acabou sendo "abraçada" pelo novo bairro nos anos 60.
Criada pelo pai de Irmã Dulce, Dr. Augusto Lopes Pontes, a escola surgiu com a missão de "educar, instruir e prestar assistência às crianças dos dois sexos, reconhecidamente pobres e desamparadas, ministrando-lhes o ensino primário elementar e técnico, escolas e oficinas apropriadas, fundadas pela instituição, bem como serviços médicos", conforme o estatuto de criação da escola. Existente até hoje, na fronteira entre o Guarani e a Liberdade, a instituição tem convênio com a Prefeitura de Salvador.
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