SALVADOR
Barra: vida mansa...
Por Miriam Hermes, do A Tarde
O município de Barra, a 680 km de Salvador, no oeste do Estado, apesar de constar no roteiro oficial Caminhos do Oeste, ainda não tem seu potencial turístico explorado como merece. Por um lado, isso é bom porque os projetos a serem implantados e que já estão no papel (pelo menos um deles em vias de ser concretizado) podem se desenvolver de maneira bem ponderada, sem precipitação, para não haver agressão ambiental.
Há cinco anos, o município de Barra faz parte do roteiro Caminhos do Oeste, que inclui vários outros municípios da região como Bom Jesus da Lapa, Barreiras e São Desidério. A iniciativa de criar os roteiros foi da Secretaria de Turismo do Estado. A vegetação, a arquitetura e a vida de seus habitantes, orgulhosos da sua história e suas tradições, são o principal cartão de visita desta peculiar região baiana à beira do Rio São Francisco.
Contudo, mesmo sem ter alcançado ainda a infra-estrutura desejada, é possível conhecer o seu conjunto arquitetônico, seus brejos de terra fértil, os rios Grande e São Francisco, bem como suas dunas móveis. Tudo isso como quem vive uma aventura, que se torna agradável pela hospitalidade do seu povo, que não se cansa de dar informações para ajudar os turistas, orientando com sua simplicidade e simpatia os que pedem informações sobre os atrativos e seus acessos. A cidade, de 25 mil habitantes, situada onde o Rio Grande encontra o Velho Chico, proporciona uma viagem no tempo, com suas igrejas e casario seculares.
Um patrimônio que atesta a importância do lugar na vida econômica e cultural da região do Médio São Francisco. Sua história começou em 1670, com a fundação da Fazenda Barra do Rio Grande, onde hoje está a cidade. Foi no tempo em que os descendentes do donatário Garcia D'Ávila para lá expandiram a criação de gado, deflagrando assim o processo de fixação do homem no local.
Ascensão e queda - A região experimentou séculos de prosperidade, com uma economia impulsionada, primeiro, pela pecuária e, depois, pela produção de cana-de-açúcar, também para a fabricação de rapadura e cachaça. Teve também os ciclos da “maniçoba” (látex nativo) e da carnaúba (para fabricação de cera), que foram responsáveis pelo enriquecimento de muitas famílias. Mas veio a decadência da navegação fluvial brasileira, na década de 1960, seguida da desativação de serviços federais implantados em Barra.
Após longo tempo em que a cidade de Barra esteve praticamente isolada, a mudança teve início na década de 1980, com o asfaltamento das estradas de acesso a Salvador e Brasília. Ambas já estiveram muito ruins e atualmente estão recebendo melhorias, mas que ainda não condizem com o potencial turístico existente no município.
Patrimônio - Quem visita Barra não pode deixar de notar a beleza e o bom estado de conservação do Mercado Municipal Barão de Cotegipe. O mercado foi erguido em 1917, em estilo barroco-rococó, sobre os alicerces da antiga residência do Barão de Cotegipe, pelo coronel João Antônio dos Santos, que depois o vendeu à prefeitura. No local é possível comprar produtos da zona rural, muitos trazidos dos distantes brejos no lombo de mulas ou de barcos, advindos das ilhas do Velho Chico.
Vale destacar que os barrenses João Maurício Wanderley Filho (Barão de Cotegipe) e Francisco Bonifácio de Abreu (Barão da Vila da Barra) tiveram grande influência no governo do imperador dom Pedro II. A essa relação é atribuída a participação de cerca de 100 pessoas nascidas na região na Guerra do Paraguai (1864 a 1870), fato que é lembrado até hoje, durante os festejos do mês de junho.
Casa-museu - Parada obrigatória para quem passeia pelo centro histórico é a casa-museu da professora aposentada e historiadora Joana Camandaroba, 94 anos bem vividos. Construída há 110 anos, a casa foi comprada por seu pai junto à família Mariani, com o dinheiro que ele conseguiu vendendo cera da carnaúba, conforme relata Joana, que já escreveu quatro livros. No museu particular estão guardadas relíquias da história local, contada pela anfitriã em forma de gostosas aulas.
Outra sugestão de passeio agradável dentro da cidade de Barra é a caminhada ao longo do cais da cidade. Construído aos poucos, tem um total de 3 km e protege a cidade das eventuais enchentes (que derrubaram as construções mais antigas). É um cenário típico de cartão-postal, notadamente ao nascer do sol ou no final do dia. Dali, pode-se ver o encontro dos rios Grande e São Francisco, com suas embarcações. Um atrativo à parte é que as águas de ambos os rios não se misturam, mantendo suas respectivas tonalidades.
Artista - Neste tour pelo centro histórico, é importante passar pelas praças que expõem a arte de Deocleciano Martins de Oliveira (1906-1974), barrense, que foi desembargador no antigo Estado da Guanabara. O artista deixou sua marca como escultor não só no Palácio de Justiça da ex-capital federal o Rio de Janeiro, como em cidades ribeirinhas ao São Francisco, como Juazeiro e Bom Jesus da Lapa. Na Barra, está o maior conjunto da sua obra, imortalizando personalidades locais e personificando santos e anjos, expostos democraticamente em locais públicos. Como hobby, ele também se dedicou à literatura, escrevendo poemas e romances.
Entre o casario que revela várias fases de crescimento econômico da região, igrejas de credos diferentes, um comércio prejudicado pelas estradas, uma cultura que mantém as raízes e suas grandes riquezas naturais existe algo também muito importante: a acolhida dos nativos. O aproveitamento deste potencial turístico pode ser melhor explorado, por exemplo, através de parcerias, beneficiando a economia com a geração de empregos e aumentando as vendas.
“Estou fazendo um estudo sobre a Serra do Boqueirão (próxima à foz do Rio Preto, afluente do Rio Grande), onde existe uma área para pesca, mergulho, banho e contemplação; há um casarão e uma igreja com mais de 100 anos”, afirma o diretor municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Francisco Xavier Fernandes Oliveira. Ao reclamar ao governo do Estado por melhor infra-estrutura para receber os turistas, Francisco Xavier acrescenta que está trabalhando, juntamente com mais cinco municípios da região oeste, o roteiro denominado Circuito da Cultura, da Fé e das Águas.
Contato | Secretaria Municipal de Turismo de Barra, tel. 74 3662-3207 e site http://www.barra.ba.gov.br/ |
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