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FAMÍLIA

Campanha incentiva adoção de crianças mais velhas e adolescentes

Tribunal de Justiça da Bahia e MP lançam campanha anual de incentivo à adoção tardia

Priscila Dórea

Por Priscila Dórea

21/05/2023 - 6:00 h | Atualizada em 21/05/2023 - 19:02
Vivian Antonino e o filho Victor
Vivian Antonino e o filho Victor -

Se hoje na Bahia temos de um lado 225 crianças disponíveis para adoção e 42 em busca ativa – estratégia em que se busca famílias para as crianças e não o contrário –, de acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do outro lado existem 1.092 pretendentes (pais e mães) à adoção. A razão dessa conta não fechar? O perfil exigido pelos interessados em adotar: menina, branca e com até três anos de idade.

“Isso torna bem nítido o reflexo dos preconceitos que permeiam nossa sociedade. Por isso, falamos na adoção tardia, com crianças e adolescentes que variam entre os 6 e 18 anos, assim como aquelas com comorbidades, deficiências, LGBTQIAP+ e grupos de irmãos. Temos muitas crianças precisando de afeto, carinho e atenção, e o amor que se tem aos filhos, sem dúvida, não é compatível com o olhar preconceituoso que ainda é voltado ao perfil de crianças aptas à adoção”, explica a professora do curso de Direito da Unifacs e mestre em Família na Sociedade Contemporânea, Lize Borges.

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Na próxima quinta-feira, 25, Dia Nacional da Adoção, será lançada a campanha anual de incentivo à adoção tardia do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) em parceria com o Ministério Público (MP-BA). No entanto, o presidente da Associação Baiana de Estudo e Apoio à Adoção: Nascidos do Coração (Nascor Bahia), Vidal Campos, sente que há pouco sendo feito para melhorar o número de adoções. “Claro que a pessoa tem total direito de escolher o perfil que quiser, mas o judiciário, de forma geral, precisa realizar mais ações para além do mês de maio”, afirma Vidal, que é pai por adoção de Luiz Eduardo e Sofia.

Criada em 2012 e realizando encontros mensais, a Nascor tem como objetivo ser esse lugar de apoio e aprendizado, onde se fala não só da adoção tardia, mas sobretudo relacionado ao processo de adoção. Por isso que, quando decidiu que estava na hora de adotar, a professora do Instituto de Letras da UFBa, Tereza Pereira do Carmo, foi a um dos encontros da Nascor, associação da qual hoje é membro. Ela levou 11 meses para se habilitar e depois de outros 10 de procura através da busca ativa, Glória, de 10 anos, foi para casa.

“Foi uma gestação de 21 meses muito cruel e que maltratou a gente. Glorinha é de Minas Gerais, de onde eu também sou e o lar de acolhimento onde ela estava, por coincidência, ficava a uns 20 minutos da casa de minha mãe. A nossa aproximação aconteceu por cartas, desenhos, videochamadas e quando a vi pela primeira vez, sabia que era minha filha. Cerca de cinco anos atrás tivemos a permissão de trazer ela para Salvador para passar o final de ano com a gente e no meio dessas férias obtivemos a guarda dela”, conta Tereza.

Mãe pela primeira vez aos 50 anos – e o marido Eustáquio com 54 –, a professora afirma ter sido o tempo certo e ideal para o casal. Hoje, cerca de cinco anos depois, Glória está com 15 anos, no auge da adolescência. “Quando conheci minha mãe e meu pai, tive certeza de que eles eram meus pais, sou até parecida com meu pai. Estou realmente muito feliz aqui com eles e morando em Salvador, por isso espero que os adolescentes, bebês e crianças que estão sem família e que moram em abrigos, também encontrem uma nova família e sejam felizes igual a mim”, torce Glorinha.

Espera e final feliz

A espera para ter a família em casa também foi desesperadora para a funcionária pública Léa Cunha, uma demora que a deixa indignada até hoje: com dificuldades para engravidar, o processo de entrada no sistema teve início em 2014, mas só foi em 2019 que Rafael foi para casa. “Ele é uma luz na nossa vida, costumamos dizer que se fosse biológico, não seria tão parecido conosco. Mas a realidade é que uma criança não pode ficar anos aguardando que uma mãe, avó ou tia a visite vez ou outra. A Justiça não pode achar que essas migalhas são vínculos familiares. As crianças vão crescendo, envelhecendo e, na nossa sociedade, elas são menos desejadas como filhos”, enfatiza.

Natural do Paraná, Rafael, hoje com 19 anos, esteve em instituições diferentes desde os dois anos, por causa da situação financeira da família biológica. Ele foi adotado aos 15, quando já havia perdido a esperança disso acontecer. “Eu queria que eles me aceitassem como filho e não como um menino qualquer. Quando finalmente chegamos na Bahia, fui direto realizar meu sonho de abraçar a vovó, pois sempre quis ter uma. Gostaria que falassem mais dos adolescentes para as famílias, porque a gente não tem vez em comparação com crianças e bebês. Não tem como um adolescente com espinhas no rosto competir com um bebê fofinho”, argumenta.

O casal Tereza Pereira do Carmo e Eustáquio com a filha Glória (no centro)
O casal Tereza Pereira do Carmo e Eustáquio com a filha Glória (no centro) | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

Quem também estava com dificuldade de engravidar e optou pela adoção foi a professora da UFBa Vivian Antonino, que através da busca ativa, há dois anos e meio se tornou mãe por adoção dos irmãos Victor e Maria. “Sempre quis ter filhos, um biológico e outro por adoção, mas precisaria de um procedimento cirúrgico para engravidar e eu não queria fazer. Então trocamos o nosso perfil de uma para duas crianças. Meu processo de habilitação correu bem rápido, até vir a pandemia e tudo parar. Ainda assim, em 11 meses estávamos na fila da adoção, 17 dias depois encontramos nossos filhos”, conta.

Hoje, Victor está com 13 anos e Maria com 11, mas cerca de 11 meses depois que eles já estavam em casa, qual não foi a surpresa de Vivian ao descobrir que estava grávida da filha mais nova Melissa, que hoje está com 10 meses. “Levando em consideração tudo isso, resolvi criar uma página no Instagram, a @so.mae.eponto, onde busco educar as pessoas à minha volta para que saibam o que esperar e o que não esperar de nossas crianças. Ela virou uma grande rede de apoio sobre maternidade biológica e por adoção”, explica.

Inscritos no sistema de adoção com um perfil de busca também voltado para irmãos – optaram por uma ou duas crianças –, o doutor e professor de geografia Pedro Paulo de Lavor e seu marido, o médico Davidson Costa, estão na fila de adoção há um ano e sete meses. “Para nós a cor ou gênero não importa, mas entramos no sistema procurando por crianças de até seis anos e sabemos que a espera com esse perfil é longa, mas é o que contempla os nossos desejos de paternidade. Para nós, a inscrição e a papelada exigida não chegou a ser uma grande dificuldade, mas a falta de equipe por parte do estado ainda é um problema grande em todo o processo”, afirma Pedro Paulo.

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