SALVADOR
Campo deu lugar a Vida Nova
Por George Brito, do A Tarde
Leia também:
>>Índios e quilombolas vivem ali
Com nome que aposta em um futuro sempre melhor, a localidade de Vida Nova/Caji, município de Lauro de Freitas, é uma “fazenda urbana” em crescimento desordenado sob disputa territorial recente de centenas de pessoas.
Na antiga Fazenda Caji, forjou-se a ocupação a partir de conjuntos habitacionais que foram brotando em meio aos lares das famílias tradicionais do campo. Neste movimento, o Loteamento Vida Nova foi virando bairro.
Há pelo menos 10 anos, o Estado começou a definir os loteamentos e a construir os conjuntos habitacionais destinados a servidores públicos vindos da capital. “Era um perto que estava ao mesmo tempo longe. Mas fomos atrás de algo novo, daí o nome dado pelos moradores ao conjunto”, conta Cleide Conceição Rezende, que mora no bairro há 11 anos.
O êxodo, por assim dizer, dentro da própria região metropolitana (RMS) provocou um crescimento acelerado de Vida Nova.
Tabaréu – Josenalto de Jesus, 52 anos, ainda lembra de sua “terrinha” onde criava seu gado, hoje reduzido a poucas vacas e cabras, como resquícios de tempos outros. Josenalto é nativo de lá. Chegou à então área rural com apenas 4 anos, vindo do município de Santa Bárbara. Cresceu correndo pela Fazenda Caji. Por ali, criou seis filhos e hoje tem quatro netos. “Minha terrinha era maior. Passei um tempo fora e quando voltei tinham invadido”, conta o tabaréu do interior, como ele mesmo se define.
Um definição que tem muito a ver com uma afirmação de identidade do bairro ligada à disputa por um pedaço de chão. Tabaréus, servidores públicos, índios, remanescentes de quilombolas “lutam” por sua presença na antiga fazenda, fazendo valer suas origens, suas raízes.
Vida Nova vive ainda, não diferente de outros espaços urbanos, conflitos fundiários. Em 2003, ao menos 104 famílias reivindicavam moradia por lá. As invasões seguiram em 2006, com ações do Movimento dos Sem-Teto (MSTS).
Viver melhor – No início deste ano, 255 famílias chegaram a ocupar o Conjunto Habitacional Quintas do Alto do Caji. Saíram para dar lugar às pessoas cadastradas nos programas habitacionais da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder).
São pessoas que vêm aos poucos dando densidade populacional à Vida Nova. Caso de Noêmia dos Santos, 71 anos. Mãe de cinco filhos, ela comemora a casinha conquistada há apenas um mês através do projeto estadual Viver Melhor. Hoje, são cerca de 20 mil habitantes em todo o bairro.
Centenas deles, sobretudo jovens, prestam sua força de trabalho às fábricas que mudaram o cenário de Vida Nova no início deste século. A Rosita produz brinquedos diversos, dois milhões por ano, e gera 280 empregos diretos, 95% deles para gente da comunidade, garante o diretor administrativo da empresa Antônio Brandini. Marisa Santos Oliveira, 24 anos, é uma das operadoras de máquina da fábrica. Foi seu primeiro emprego, do qual tira R$ 450 mensais.
“Eles empregam, mas não é na totalidade. Dizem que falta mão-de-obra qualificada”, faz ressalva Cleide Rezende, ex-presidente da Associação de Mulheres Articuladoras de Vida Nova.
Este é um dos vários problemas do bairro. Uma população de baixo poder aquisitivo, com nível de escolaridade baixo, que convive ainda com falta de estrutura de saneamento básico e ausência de equipamentos adequados para prática de esportes. O treino no campo de barro do Esporte Clube Ipitanga é o único lazer de Dalison Gomes, 14 anos, cujo sonho é ser jogador de futebol.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes