SALVADOR
Capital baiana teve inverno mais intenso em 49 anos
Por Yuri Silva

Análises feitas pelo Grupo de Oceanografia Tropical da Universidade Federal da Bahia (Ufba) identificaram que Salvador passou, no trimestre de junho a agosto de 2017, pelo inverno mais rigoroso dos últimos 49 anos. Apenas o mesmo período de 1968, constata a pesquisa, foi mais frio na capital baiana.
Neste ano, a temperatura média foi de 23,1 °C, valor 0,8 °C abaixo da média registrada nos últimos 30 anos para este trimestre. Já em 1968, o número chegou a 22,9 °C, quando os termômetros mediram um valor 1,0 °C abaixo da média.
A mínima, em 2017, foi de 17,6 °C, no dia 30 de julho, explica o coordenador da pesquisa, Guilherme Lessa.
Professor do curso de oceanografia e da pós-graduação em geofísica, do Instituo de Geociências, ele explica que o estudo foi feito por curiosidade, para comprovar se a percepção popular de um inverno mais frio era comprovada na prática.
Para tanto, usou como base dados de temperatura e chuva levantados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na estação meteorológica de Ondina, registros de vento feitos pela Aeronáutica no Aeroporto de Salvador e dados de ondas monitoradas pela Ufba e pelo Projeto Tamar.
A partir desses indicadores, detalha o pesquisador, uma média do trimestre junho-julho-agosto nos últimos 30 anos foi feita, servindo como parâmetro para os dados atuais.
"Com base nisso, conseguimos mostrar as anomalias positivas e negativas em relação à média", explicou Lessa.
Ondas gigantes
Além da temperatura baixa, revela ele, as ondas tiveram a maior altura média da série histórica, que teve início em 2014. A média registrada, de 2,3 metros, foi 0,5 metros maior do que em 2015, segundo ano no ranking de ondas. Em 2017, conforme a medição, a mais alta chegou a 5,8 metros.
Para o professor Guilherme Lessa, "a situação do mar foi influenciada pelas condições de vento local".
Considerando apenas junho, destaca ele, a velocidade média do vento atingiu a marca de 5,4 quilômetros por hora, valor superior à média e o maior já registrado durante a série.
Ele explica, ainda, que a severidade do inverno soteropolitano em 2017 "parece ter ocorrido ao longo de todo o litoral brasileiro, já que registros de erosão urbana pelas ondas e inundações costeiras foram relatadas em várias regiões".
Lessa prefere, entretanto, não cravar uma motivação para a intensificação do clima frio nesse período.
"Isso tem sido explicado como consequência do aquecimento global, mas não estou dizendo que é isso que está acontecendo em Salvador", pondera o pesquisador da Ufba.
Apesar do frio, ele conta que o total acumulado de chuva no inverno de 2017 foi um dos mais baixos no registro histórico, 175 milímetros menor que a média.
Essa contradição, afirma, deve-se a frentes frias, que trazem a umidade para a cidade mas não necessariamente causam chuva. "Tem a umidade ali no ar, mas ela não precipita", explica ele.
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