ITAPUÃ
Comunidade está insatisfeita com derrubada de escadaria de igreja
Em obra no templo, equipamento foi substituído e degraus foram deslocadas para a lateral
Por Antônio Dilson Neto*
A paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Itapuã, teve a escadaria antiga derrubada por uma obra da própria igreja, sendo substituída por uma alvenaria, que estendeu o átrio do templo, deslocando as escadas de acesso à paróquia para as laterais. Alguns moradores, insatisfeitos com a obra, afirmam que a construção deve dificultar os ritos da Lavagem de Itapuã.
A derrubada da escada ocorreu junto com as obras de requalificação da praça Dorival Caymmi, onde fica a igreja. As escadarias tradicionais, que ocupavam todo o espaço frontal da paróquia, deram espaço a uma larga alvenaria, com escadas laterais e corrimões para acessar o espaço religioso.
“Acho que essa obra foi um absurdo. A melhoria deveria acontecer para garantir acessibilidade, inclusive de cadeirantes, que continuam sem acesso à igreja. Não há o menor cabimento para aquilo ali”, diz Alexandre Fagury, criador e administrador, no Facebook, do grupo ‘Itapuã - ontem, hoje e sempre’, destinado a moradores ou ex-moradores do bairro, que tem mais de 28 mil membros.
"Não houve discussão com ninguém, não soube de ninguém ouvindo ninguém, nenhuma audição da comunidade. Simplesmente foi feito. Quando se viu, tava feito. Aí fica o questionamento: para que isso? Ninguém entendeu, na verdade, houve muita gente reclamando sobre isso no grupo. Mas não muda nada, já está feito”, relata Fagury. Segundo ele, os relatos foram de que a obra ocorreu à revelia da comunidade, numa decisão exclusiva da direção da paróquia.
Segundo Raimundo Gonçalves dos Santos, membro da coordenação da Associação de Moradores de Itapuã (AMI), conta que os moradores se posicionaram contra as obras.
“Desde as obras de requalificação da orla a Associação se posicionou de forma contrária. Mas, no caso da igreja, havia interesse para a retirada das escadas, o que aconteceu sem consulta à comunidade”, afirma.
Ives Quaglia, morador de Itapuã e também membro da AMI, registra que o descontentamento dos moradores também é por conta da perda histórica.
“Porque foi uma obra que, de certa forma, destrói um patrimônio local. De uma igreja centenária e que repercute diretamente na festa de Itapuã, que é a lavagem das escadarias. Fica agora a pergunta: que escadarias lavar a partir disso? É uma situação lamentável”.
A paróquia
Padre Gil Peixinho, responsável pela paróquia, responde que a reforma ocorreu a partir de uma demanda dos próprios fiéis. “Houve um abaixo-assinado da comunidade, composta sobretudo de idosos, para a realização de melhorias com o objetivo de facilitar o acesso à paróquia, com segurança. Foi uma demanda dos fiéis e nós levamos à diretoria e autoridades e conseguimos atender”.
A paróquia não é tombada como patrimônio histórico, então, a partir das demandas, as obras foram avaliadas e autorizadas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur).
O pároco comenta que prestou esclarecimentos ao Ministério Público sobre uma denúncia de que a obra teria o objetivo de dificultar a realização da lavagem, num ataque direto às religiões de matriz africana. “Nós somos uma paróquia muito aberta ao diálogo, com nossa comunidade e com as que estão próximas de nós. Não houve intolerância. Está tudo muito bem documentado e deve ser recebido em breve pelo Ministério Público”, garante.
Segundo padre Gil, a obra, além de garantir as demandas de acesso à paróquia, aumentou a área do átrio (espaço frontal da igreja), que poderá ser lavado na tradicional festa popular.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
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