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SALVADOR

Comunidades racistas provocam indignação no orkut

Por JORNAL A TARDE

20/03/2006 - 0:00 h

  • Google já monitora orkut, dizem especialistas
    Luciana Moherdaui*, do A Tarde On Line Às vésperas do Dia Internacional de Combate à Discriminação, agressões relacionadas à raça e etnia são cada vez mais freqüentes na rede mundial de computadores. A reportagem do A Tarde On Line recebeu denúncia sobre oito comunidades que pregam racismo contra nordestinos. Diferentemente do que ocorre nas comunidades que vendem drogas ou daquelas cujos garotos de programa postam anúncios, quem é contra o racismo se manifesta abertamente. Eles somam poucos: não chegam a 50 ao contrário das outras comunidades, que têm milhares de integrantes. “Odeio pretos! Odeio baianos e nordestinos!”, escreveu um usuário que se identificou como OZelito Obreiro do Senhor na comunidade que leva o mesmo nome. Na mesma página, indignado Eliandson Gomes, reclama: “Como você participa de uma comunidade que cria preconceito com os nordestinos?”. Esse não é o único caso. “Nordestinos são tão burros que não sabem ler, a única coisa que sabem fazer é festa”, afirma Matheus Schneider, gaúcho, fundador de dez comunidades de repúdio aos nordestinos. Em sua página pessoal, intitulada “Todo nordestino é cú (sic) de burro” o adolescente de pele clara e cabelos escuros, exibe um álbum com dez fotos nas quais aparece ao lado de outros jovens em festas em Caxias do Sul, interior do Rio Grande do Sul. As legendas são recheadas de insultos.“Olha que loja legal. No nordeste as lojas não são assim, porque lá só tem pobre”. Ou então: “Praia em Porto Alegre. Muito melhor que na Bahia, aqui não fede a mijo”. Sem falar da foto de um revólver calibre 38 acompanhado de várias munições, arma que Schneider diz ter comprado “para matar nordestinos”. “Sou de Santa Catarina também e fico indignada ao ver pessoas como esse tal Matheus, que não têm nada a acrescentar para a sociedade, além de instigar agressão”, protestou uma usuária cujo apelido é anonymous. Você pode ser preso, avisa o professor de inglês Erickson Ribeiro ao dono da comunidade “Eu odeio a Paraiba”, Matheus Schneider. Pernambucano, Erickson monitora páginas com conteúdo racista e posta recados como esse em diversas páginas. O professor alerta que fez uma denúncia ao Ministério Público Federal e os ameaça. “Os donos das comunidades já foram citados e tem gente adicionada como amigos de vocês com perfis falsos só para coletar mensagens e dados como endereços (se possível) ou telefones, pois eles já foram denunciados ao ministério público. Isso tem que parar.” A comunidade “A gente é que sustenta o Nordeste” recebeu somente nesta segunda-feira duas mensagens de repúdio. “Vocês acham mesmo que sustentam o Nordeste? Raciocinem um pouco: se isso fosse verdade, todos os nossos estados (Ceará, Pernambuco, Maranhão, Piauí...) seriam ricos! No entanto, estamos sofrendo grandes problemas de miséria, fome, seca... Deixem de ser prepotentes e vão se informar, reclamou Alex Martins, de Teresina (PI). Quem incita o racismo está sujeito à pena mínima de um a três anos de reclusão. Caso tenha sido praticado por meio de comunicação, a situação é ainda mais grave. “Na Internet, a sentença pode até dobrar se comparado com um insulto verbal dito em um bate-boca na rua”, explica Christiano Jorge Santos, promotor de justiça criminal de São Paulo e professor de Direito Penal da PUC, autor do livro “Crimes de preconceito e de discriminação”. Considerado crime pela lei 7.116/89, o racismo ou qualquer atitude preconceituosa referente a cor, etnia, religião e procedência nacional pode ser classificado como injúria desqualificada desde que a ofensa tenha sido feita a uma pessoa. No ano passado, um estudante universitário de 18 anos foi o primeiro membro brasileiro do orkut a ser identificado como autor de crime de racismo na rede. Só não foi preso em flagrante quando acabou intimado para prestar depoimento porque, na época em que criou a comunidade, tinha 17 anos. Ele criou uma comunidade intitulada "Sou Contra as Cotas pra Pretos", na qual defendia que "o lugar desses macacos sujos é na floresta, e não na faculdade". O segundo caso, de um jovem de 20 anos chegou a ser denunciado por racismo, mas a acusação formal não foi recebida pelo Poder Judiciário, que determinou a abertura de inquérito policial para aprofundar a apuração do caso. A mesma decisão obrigou também à retirada de comunidades com conteúdo racista do orkut. As páginas das oito comunidades foram enviadas ao Ministério Público Federal de São Paulo. Procurada pela reportagem, a direção da Google não foi localizada para comentar o caso. A ONG Safernet, coordenada pelo professor Thiago Nunes de Oliveira, também postou mensagem pedindo aos usuários para denunciar a prática de racismo no orkut. Onde denunciar
  • Safernet Comunidades racistas
  • A Bahia não tem dinheiro
  • Morte a todos os nordestinos
  • Todo nordestino é cu de burro
  • A gente é que sustenta o nordeste
  • Eu odeio a Paraíba
  • Nordeste: a áfrica brasileira
  • Eu odeio Pernambuco
  • Eu odeio nordestino *Com reportagem de Tássia Novaes
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