MEIO AMBIENTE
Condições de coletadores autônomos e cooperativas são desafios
Mesmo com iniciativas que visam reaproveitar produtos, Salvador tem temas urgentes a serem resolvidos
Por Lucas Franco
Os cuidados com o meio ambiente, em Salvador, esbarram em desafios que vão além da preservação dos materiais coletados. Indivíduos e organizações que trabalham com iniciativas de reciclagem se queixam da falta de proteção e de incentivos. “Trabalho há mais de 20 anos com reciclagem. Criei meus filhos com o dinheiro do trabalho e as dificuldades são muitas. Há pessoas que colocam garrafa de vidro quebrada dentro do lixo, o que pode nos ferir”, relata a recicladora autônoma Wellitania Maria.
O índice de reciclagem de latas de alumínio no Brasil é de 98,7%, segundo dados das Associações Brasileiras do Alumínio (Abal) e dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas). A predisposição pelo alumínio, no entanto, gera outro problema, segundo Wellitania.
“A latinha e o cobre são os mais disputados. Mas o cobre é mais raro. Muito reciclador só trabalha com latinha. Eu trabalho com tudo: papelão, papel branco, plástico. O que tiver eu trago para casa, separo e vendo. Mas a maioria dos recicladores só cata latinha”, diz ela, que também se queixa do fato de que, em muitos edifícios, funcionários têm tirado do lixo algumas embalagens que poderiam servir para ela e seus colegas. “Eles acabam querendo ganhar também, né? E acabam ganhando em cima do trabalho da gente”, reclama.
Diagnóstico semelhante fez a cofundadora da startup ligada à sustentabilidade Solos, Saville Alves. Realizadora de trabalhos em parceria com as iniciativas pública e privada, a empresa tem uma ação com a Heineken para coleta exclusiva de vidro e trabalha com coleta e reciclagem de diversos materiais. Ainda assim, Saville disse reconhecer os desafios da coleta de materiais que não sejam as latas de alumínio.
“O vidro é um desafio em muitas localidades, porque é o material que tem menor valor agregado da cadeia. Hoje, um quilo de vidro tem variado entre oito e vinte centavos, a depender da região do país. Poucas são as pessoas que estão fazendo a coleta amplamente e a comercialização disso”, contextualiza.
Além dos desafios dos catadores autônomos - que envolvem as condições de segurança no momento da coleta e a disputa pelas latas de alumínio por conta da remuneração paga por outros materiais, como vidro -, pessoas ligadas à reciclagem também se queixam de pouco apoio do poder público às iniciativas.
O consultor da Cooperativa de Catadores Agentes Ecológicos de Canabrava (Caec), Luís Carlos Rebouças, diz ser muito difícil manter as atividades com o valor dos encargos municipais. “Nenhum prefeito de Salvador conversou com alguma liderança de cooperativa. A Caec recebeu doação de um terreno. É uma área boa, de 12 mil metros quadrados, só que aí a prefeitura cobra IPTU, que subiu muito a partir de 2016. Hoje, a Caec tem uma dívida de quase um R$ 1,5 milhão de IPTU”, disse Luís Carlos.
Abaixo-assinado
Perdão das dívidas de IPTU e isenção de impostos municipais das cooperativas de catadores estão entre as propostas de um abaixo-assinado coordenado pelo vereador André Fraga (PV), que disse enxergar o setor privado também como responsável pelas dificuldades passadas por cooperativas.
“As empresas precisam assumir sua responsabilidade, porque é isso que a legislação diz. Não é só a prefeitura, não é só o poder público, também são as empresas. As empresas, no final das contas, deixam muito a desejar”, opinou o parlamentar municipal. “Um exemplo são os supermercados em Salvador. Hoje, nenhum deles ajuda ou colabora com a estruturação das cooperativas. Pelo contrário, tiraram todas as cooperativas de dentro das operações, então não estão exercendo a inclusão social, que é um princípio da lei”, completou Fraga, em referência à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes