Conheça a trajetória de Odette Eid, escultora de 86 anos | A TARDE
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Conheça a trajetória de Odette Eid, escultora de 86 anos

Publicado segunda-feira, 29 de setembro de 2008 às 23:19 h | Atualizado em 29/09/2008, 23:41 | Autor: Chico Castro Jr., do A TARDE

Quando a exposição Minhas Cabeças foi aberta no Museu de Arte da Bahia na semana passada, muita gente ficou admirada com o apuro técnico e artístico da artista Odette Eid, mas poucos eram os que sabiam de quem se tratava. Mesmo assim, ela ficou encantada com a calorosa recepção que teve em Salvador, quando  participou do vernissage e autografou dezenas de catálogos da exposição.

“Estou encantada com a receptividade que tive aqui, o calor das pessoas. Cheguei ao MAB umas 17 horas e só saí lá para as 22. Autografei um monte de livros. Eu estava tão eufórica que ia falando, falando... Já imaginou, chegar aqui nessa idade e ter uma realização dessas?”, se admira, modesta. ”Saio daqui realmente muito feliz”.

Em Minhas Cabeças, a escultora deixou um pouco de lado o bronze com o qual lidou quase toda a sua carreira e partiu para criar cabeças em gesso e papel machê. No MAB, é possível conferir 32 delas, selecionadas pela curadora Janete Costa.

O grande barato da mostra, além da finíssima ambientação que a abriga, é perceber a variedade de formas e de materiais que a artista concebeu para suas criações. Entre  flores, sedas, lantejoulas e chapéus, Minhas Cabeças é um caleidoscópio multicolorido e lúdico que eleva a alma de quem a contempla.

”Tudo o que está lá tem uma história. Por exemplo: tem uma cabeça que usa umas conchinhas, que foi um cacique xavante que me deu, quando visitei o Pantanal, uns 15 anos atrás. Tem outra cabeça que usa retalhos do vestido de noiva da minha filha”, relata.

A veterana escultora de 86 anos nasceu no Líbano, mas vive em São Paulo desde os três anos de idade. Sua carreira artística, porém, é bem mais jovem. ”Só comecei mesmo aos 60 anos, depois de casar todos os filhos. Antes disso, eu dava aulas de artesanato para mulheres em comunidades carentes. Fiz isso durante 25 anos”, revela. ”Comprávamos tecidos e outros materiais e depois vendíamos as peças para ajudar as alunas. Geralmente, eram bonecas”.

”Mas sempre fui apaixonada pelas artes plásticas. Fui criada entre tintas e pincéis, pois minha mãe fazia réplicas de obras renascentistas. Sempre quis ser artista, mas papai dizia que uma artista na família já bastava. Tenho certeza de que, se mamãe estivesse viva, ela amaria o fato de eu ter continuado sua paixão”, reflete, um tanto emocionada.

BRONZE – ”Na idade adulta, sempre que podia, dava de presente para mim mesma cursinhos de todo tipo de arte, além de freqüentar museus e galerias a vida inteira”, conta. ”Fiz minha primeira exposição em 1984, de bonecas em papel machê. Estava na dúvida, mas foi um sucesso, desde a primeira vez. Isso me animou e só aí eu passei para o bronze“, relata.

Logo ficou conhecida como a escultora das bailarinas e dos santos – especialmente São Francisco de Assis, de quem é devota. ”Sou figurativa, mesmo. Dizem que minhas bailarinas dançam, por que transmitem muita leveza. Admito que meu trabalho é romântico, ele quer trazer tranqüilidade para quem olha. É também muito feminino, mas sem ser feminista”, pensa.

Para Odette, a arte deve ser algo simples, mas elaborado. ”A arte hoje está mais complicada, muito elitista. O sujeito precisa de muita cultura prévia para entender a arte atual. A minha arte não é assim”, acredita.

”Mas tem artistas brasileiros que fazem sucesso em Londres, Paris e Nova Iorque e que são muito bons na sua arte contemporânea”, pontua.

TROFÉUS – Alguns bronzes de Odette fizeram tanto sucesso que até viraram troféus. ”Ih, eu tenho uma porção de troféus! Tem um festival de cinema brasileiro em Israel mesmo que o troféu é um tuiuiú do pantanal que eu fiz”. ”Tenho também muita coisa em alumínio, uns animais imaginários, umas flores diferentes que ficam no meu sítio. O que eu tenho vontade de fazer, eu faço”, proclama.

”A arte está na veia da família, graças a Deus. É a parte bonita da vida, o que nos torna mais humanos”, acredita Odette, que, além da mãe pintora, tem uma filha artista multimídia que mora em Paris e outra, em São Paulo, dona de uma galeria. Com quatro filhos, nove netos e dois bisnetos – com mais um a caminho –, reconhecimento crítico e obras espalhadas pelo mundo inteiro, Odette é pura satisfação.

”É muito gostoso chegar nessa idade realizada. Daqui para frente, tudo é lucro. Me aguardem até os 90 e vocês vão ver o que eu ainda vou fazer”, promete. No que depender dos seus admiradores baianos, a espera certamente valerá a pena.

SERVIÇO:


O QUE: Minhas cabeças, Exposição de Odette Eid.
QUANDO: De terça-feira a sexta-feira, das 14 horas às 19 horas;  sábados e domingos, das 14h30 às 18h30. Até 25 de outubro.
ONDE: Museu de Arte da Bahia (3117-6902) Avenida Sete de Setembro, 2.340, Corredor da Vitória.
QUANTO: R$ 5 e R$ 2,50, Entrada gratuita às quintas-feiras.











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