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SALVADOR

Crianças trocam brinquedos por eletrônicos

Por Lucas Esteves

18/11/2006 - 10:12 h

Para desespero dos pais, a geração da eletrônica já começa a pôr as manguinhas de fora mais cedo do que se imagina. No último Dia das Crianças, a meninada preferiu ganhar aparelhos eletrônicos, de informática e telefones celulares, ao invés dos tradicionais brinquedos. O dado é da empresa de pesquisa e marketing e-bit, que registrou no período, que os brinquedos estão apenas na 6ª posição de compras para a data comemorativa. A tendência é que a situação se repita no Natal, considerada a melhor data do ano para alavancar o comércio.



Os líderes em preferência ainda são os CDs e DVDs e Vídeo, responsáveis por 16% da fatia do mercado. Em seguida, livros, jornais e revistas aparecem com 15%. Eletrônicos, com 14%, informática, com 11%, telefonia celular, com 8% e saúde & beleza, com 7% se colocam respectivamente à frente dos brinquedos. O índice é o mesmo apresentado no ano passado, mas com o crescimento dos celulares, com aumento de 2%, os brinquedos caíram uma posição no ranking.



Em Salvador, apesar do comércio também seguir a tendência registrada nacionalmente, pais e educadores se preocupam com a precocidade das escolhas dos pequenos, já tão ligados à modernidade e deixando de lado antigos valores. É o caso da funcionária pública Ana Maria de Sena, mãe de Manuela e Pedro, de oito e seis anos.



Em constante negociação com os filhos, que são loucos por computadores e jogos eletrônicos, ela conseguiu presenteá-los com carros de brinquedo e bonecas no Dia das Crianças, mas já sabe que a batalha do Natal está perdida. "Eles já têm um laptop e vou comprar um computador e novos jogos", conta.



Ana se preocupa em incentivar as brincadeiras tradicionais, levando os filhos ao clube no bairro da Ribeira, onde mora, mas admite também que o medo da violência a faz prender os filhos em casa mais do que deveria. "Tenho medo do que pode acontecer. A violência é grande e deixo os meninos em casa. Por isso, também sei que sou culpada por eles gostarem tanto de computadores e jogos". O celular, no entanto, está fora de cogitação. "É muito cedo para isso. Eles mal saem de casa, estou sempre com eles".



O garoto Marcos Bortoliero, de nove anos, filho da jornalista Simone Bortoliero, já deixou claro para a mãe que tem horror a ganhar bonecos ou carros de brinquedo. "Isso é coisa de criança muito nova. Eu gosto mesmo é de videogame e computador", avisa. Ele diz que a mãe não apresenta nenhum empecilho quanto às horas que o filho pode ficar jogando em casa. "Mas eu não jogo o tempo todo. Também brinco, faço capoeira. Só não quero ganhar boneco. Já passou da moda".



O menino ganhou um memory card do videogame Playstation 2 e um skate no Dia das Crianças. Divide o tempo entre as duas novidades igualmente e já sabe o que quer de Natal: "Pedi para a minha mãe me matricular em um curso de surf, mas se ela quiser me dar um jogo, eu também não acho ruim não". A mãe, condescendente, já não protesta mais. "É assim mesmo, ele vive jogando. Aqui ou na casa dos amigos".



A psicologia explica - Para a psicóloga da Universidade Salvador (Unifacs) Letícia Marques, as novas preferências das crianças são naturais dentro do ritmo social das cidades modernas, criando brinquedos que reproduzem o cotidiano acelerado das famílias. "Os valores mais enfatizados hoje em dia são o raciocínio rápido, o jogar com coisas simultâneas. Por isso, a sociedade ganha novos brinquedos, mais "plásticos", "industrializados", de forma que as crianças acabem entrando neste mundo virtual, que conjuga essas novas habilidades", explica.



Apesar de não reprimir as preferências dos filhos, Ana Maria de Sena acha que o desenvolvimento das crianças pode ser prejudicado pelos eletrônicos. "Em certo ponto é ruim porque eles têm uma experiência limitada, não têm mais brincadeiras de correr por aí, aquela coisa mais antiga que se entendia como brincadeira de criança", lamenta. Mesmo assim, ainda se esforça para limitar o tempo em frente ao computador dos filhos para duas horas por dia, no máximo, inclusive nos fins-de-semana.



A atitude da funcionária pública é a mais indicada de acordo com a psicóloga. Para ela, a criança não deve ser deixada completamente livre para eleger quais são as melhores formas para promover o seu desenvolvimento. "Os pais devem ficar atentos às crianças, o que é muito difícil hoje, por causa da falta de tempo. É preciso mostrar que é importante se brincar de outros tipos de jogos, como pega-pega, esconde-esconde ou jogar futebol com outras crianças."



Linha dura - A vendedora autônoma Lilian Piropo também não vê com bons olhos as compras dos eletrônicos para as crianças e age de maneira mais ativa com o filho João, de cinco anos. "Ele ainda não se liga tanto nisso, mas dá sinais. E quanto mais ele se interessa mais eu vou enrolando e nunca compro", entrega. João ganhou no dia 12 de outubro uma pista de carros de metal e um jogo de quebra-cabeças, a diversão preferida do filho.



Lilian faz questão de desviar a atenção de João dos eletrônicos, buscando alternativas nos brinquedos mais complexos e em outros locais da cidade. "Ele gosta muito de brinquedos de montar como o Lego. O pai também o leva para andar de bicicleta e empinar pipa no Parque da Cidade, com outras crianças".



Letícia alerta aos pais que agem como Lilian a reavaliarem a atitude tomada com seus filhos. Para ela, a privação completa da criança dos eletrônicos pode atrapalhá-las no futuro, em que as outras pessoas terão aptidões desenvolvidas pelo contato com a tecnologia. "O aparelho faz parte da nossa cultura atual, as crianças precisam estar preparadas, mantê-las afastadas dos eletrônicos pensando no seu desenvolvimento não é uma atitude totalmente correta".



A psicóloga afirma que se um dia seus futuros filhos preferissem ganhar de presente um computador ou aparelho eletrônico ao invés de um brinquedo comum não protestaria, mas imporia limites claros na influência do aparelho na vida dos pequenos. "Ela pode ficar no computador, por exemplo, mas o tempo seria restrito. A criança precisa ser orientada e o adulto participar do mundo dela, para que o desenvolvimento na infância seja prazeroso".

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