SALVADOR
Defesa e acusação: mortes envolvendo cães Pit Bull geram debates
Por Bianca Carneiro* | Fotos: Reprodução | Freepik, Redes Sociais e Arquivo pessoal
Poucos animais estão no centro de tantas polêmicas como os cães pertencentes a raça Pit Bull (termo popular para American Pit Bull Terrier). Recentemente, dois casos ocorridos na Bahia, e na mesma semana, resultaram em duas mortes, voltando a despertar o debate sobre os possíveis perigos de se conviver com o animal.
O primeiro aconteceu na cidade de Mutuípe (distante 246 km de Salvador), na última segunda-feira, 15. Um homem, cujo nome não foi revelado, morreu após ser gravemente ferido por um cão Pit Bull. A vítima foi transferida para o Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, com lesões na face, crânio e perna esquerda.
Já o segundo caso envolveu uma bebê de apenas um ano e três meses, na sexta-feira, 19, em Senhor do Bonfim (distante 382 km de Salvador). Segundo informações preliminares, a pequena Laura Emanuelly de Freitas Silva estava sozinha em um quarto, quando foi mordida pelo cachorro da família, na cabeça.
Em entrevista ao Portal A TARDE, o médico veterinário e presidente da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV-BA), José Eduardo Ungar, afirmou que o comportamento agressivo apresentado por alguns cães se deve ao fato da raça ter sido desenvolvida para atuar como animais de guarda, voltados a garantir a segurança dos seus tutores.
“Esses animais foram teoricamente criados para serem de guarda. Então, esse temperamento é sanguíneo. Isso significa que eles precisam ser criados por alguém que detenha o controle, para assim, inibir possíveis reações de agressividade”, afirmou.
Acostumado a receber todo tipo de cachorro na sua clínica, o veterinário Pedro Guerreiro, lembra que existe ainda um outro componente muito importante para o comportamento do animal: a própria criação do dono.
“É importante lembrar que a criação é um dos principais fatores na construção do comportamento e personalidade de qualquer pet. O cão deve ter contato com crianças, adultos, e até mesmo, outros animais, e o dono deve sempre dar a atenção necessária à ele”, ressaltou Pedro.
Dono osso duro de roer
Para garantir uma criação segura, os tutores precisam abrir mão de atitudes tidas como prejudiciais e perigosamente influenciadoras. Estimular o cão com brincadeiras agressivas e deixá-lo sem contato humano são algumas delas.
“O Pit Bull é uma raça que geralmente o dono cria preso, sem socializar com a família. Tem gente que induz o animal a ser agressivo com o objetivo de transformá-lo em um bom cão de guarda. Isso é uma atitude extremamente irresponsável. Deixar o cão com fome, acostumá-lo a comer carne crua, jogar gatos para que ele possa matar. Grande parte do erro aí é humano”, explica José Eduardo.
O veterinário ainda chama atenção para que os tutores não acreditem em um mito envolvendo o Pit Bull sobre uma possível desordem neurológica que incentivaria o cão a ser violento. Segundo José Eduardo, na verdade, a agressividade não é uma questão exclusiva da raça, podendo se manifestar em outros tipos de cães. A diferença, no entanto, é o porte maior do animal, assim como, a potência da sua mordida, o que favorece os acidentes.
“Não existe essa história de desordem neurológica, problemas mentais, de que ninguém pode controlar um Pit Bull. A gente vê acidentes com cães variados, de rottweiler até pinscher. A diferença é que o Pit Bull é extremamente forte, quando um animal desses se descontrola e ataca, geralmente o resultado é trágico. Tem animais que demonstram uma característica agressiva desde cedo, e nesse caso seja de que raça for, o animal precisa ser controlado”, afirma.
Os dois lados da moeda
Mesmo com os casos trágicos como os que ocorreram na Bahia, não faltam pessoas para defender a raça, que além de ser conhecida pelo forte temperamento, por outro lado, também é tida como amorosa, leal e inteligente. Um exemplo disso, é o Pit Bull Hulk. O cão, considerado o maior exemplar da raça (ele pesava mais de 79 kg), ficou famoso em 2015 ao aparecer bem comportado nas fotos com o filho de três anos de seus tutores, o casal, Marlon e Lisa Grennan.
Apesar de não negar que fica meio assustada ao saber das mortes provocadas por cães Pit Bull, a secretária Maíra Souza Luz Caldas, 36, não se arrepende de criar a sua cadela Branca, de aproximadamente oito anos de idade. Companheira fiel de Maíra e sua família há quatro anos, ela foi adotada por intermédio da vereadora Ana Rita Tavares, após ser esfaqueada nas costas no bairro de Brotas.
O começo, segundo Maíra, foi meio complicado pelo fato dela já ter um animal em casa, o yorkshire Papi. Com o tempo, Branca acabou aceitando o amigo de quatro patas, porém, ela ainda não costuma se relacionar bem com outros animais. A situação é diferente com os humanos e a cadela chega a se dar bem, inclusive com crianças, como é o caso da sobrinha do irmão de Maíra, Valentina Vivas, de cinco anos.
“No início foi muito difícil, mas no dia da castração de Branca nós colocamos eles em contato e nunca mais se largaram. Ela é muito dócil com ser humano, mas não gosta de outros animais, inclusive, tivemos dois episódios complicados que envolvendo outros animais. Mas com humanos ela é muito carinhosa, me acompanha o tempo todo. Tem dois meses que fiz cirurgia e ela não saiu do pé da minha cama”, conta Maíra.
E o que fazer quando o convívio do Pit Bull com outros animais, ou pessoas fora do ambiente de casa é um problema? Segundo o veterinário Pedro Guerreiro, uma saída para evitar ataques é apostar em mordaças e coleiras na hora do passeio. Por fim, ele pede que os donos tenham atenção para identificar sinais de que o cão não está bem.
“Os cachorros Pit Bull saudáveis demonstram todos os sinais de estresse que os outros cachorros apresentam”. Em meio a mitos e verdades a respeito da raça, o veterinário deve ser sempre consultado em casos de dúvida.
*Sob supervisão da editora Maiara Lopes
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