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11/06/2022 às 18:10 - há XX semanas | Autor: Priscila Dórea*

SALVADOR

Déficit de R$ 24 milhões coloca em risco as Obras Sociais Irmã Dulce

Na Bahia, 52% das instituições filantrópicas encerraram 2021 no vermelho

Centro geriátrico das Obras Sociais Irmã Dulce, que passa por grave crise financeira
Centro geriátrico das Obras Sociais Irmã Dulce, que passa por grave crise financeira -

Agravada pela pandemia, a crise financeira dos hospitais filantrópicos e Santas Casas de todo o Brasil tem se tornado uma ameaça ao fornecimento de atendimentos gratuitos. Na Bahia, 52% das instituições filantrópicas encerraram 2021 no vermelho, de acordo com a Federação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado da Bahia (FESFBA). Nesse grupo estão as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e os mais de 3 milhões de atendimentos gratuitos por ano no estado.

A instituição entrou em 2022 com uma dívida de R$24 milhões que pode chegar a R$44 milhões até o final do ano, enquanto os corredores continuam cheios de pacientes em busca de atendimento e na torcida para que a instituição supere a crise.

Há 20 anos frequentando o grupo Centro Dia - que oferece atividades de socialização, reabilitação física e cognitiva para idosos - do Centro de Geriatria e Gerontologia da Osid, a aposentada Jaci dos Santos Teixeira, de 78 anos, está no meio de seu tratamento para artrose e conta sobre suas experiências.

“No Centro temos passeios, brincadeiras e diversas atividades, fiz muitas amizades lá dentro. Mas a melhor parte é que todo mundo aqui nos trata bem e com muito cuidado. Comecei a fisioterapia em fevereiro e já melhorei de uma forma que não imaginava ser possível”.

Jaci mal andava quando começou iniciou as sessões de fisioterapia na Osid afirma a salgadeira Sandra Regina Teixeira da Cruz, filha da aposentada. “Eu precisava quase carregar ela, agora ela já se levanta sozinha da cadeira. Minha mãe melhorou muito e não só da artrose, porque o isolamento da pandemia a afetou muito também e voltar aqui e interagir com a equipe do hospital e as amizades do Centro a deixou muito animada, é visível a mudança dela. Só o que me faz ficar sentida é não poder ajudar financeiramente as Obras, realmente gostaria que os grandões com dinheiro fizessem mais”, desabafa.

Pensamento muito parecido com o da paciente oncológica Jade Gama (nome fictício), de 45 anos. “Mesmo que Irmã Dulce não cobrasse nada para cuidar dos outros, acho que toda doação é bem vinda, mesmo que seja pouca. Cheguei ao Hospital Santo Antônio da OSID depois de ficar sem convênio e descobrir que estava com câncer no estômago. Apesar do que falam da saúde pública, me sinto em um hospital particular aqui, além do cuidado dos profissionais, foi tudo muito rápido: três meses depois da regulação, fiz minha cirurgia. Muita gente nem sabe que aqui tem tratamento oncológico, nem o quanto é bom e de qualidade. Imagina se um lugar desses não existisse?”, questiona.

Há 22 anos atendendo nas Osid, o médico dermatologista Ângelo Sérgio Campos Souza conta que os pacientes mudaram um pouco ao decorrer do anos, principalmente desde a pandemia. “A gente sempre atendeu pacientes muito carentes, mas hoje atendemos vários que a situação econômica não permite mais que eles mantenham o convênio ou mesmo aqueles que pagavam particular. O trabalho feito pelas Obras é fundamental, me sinto muito recompensado com pessoa e como médico de trabalhar aqui. São pacientes que, na maioria das vezes, não tem muita opção, então é incrível poder dar a eles o que precisam”.

A entidade, que realiza cerca de 9 mil atendimentos mensais para tratamento do câncer em Salvador, nasceu a partir de um galinheiro - local onde, em 1949, Irmã Dulce pediu a sua superiora para abrigar 70 enfermos, um espaço que agora é considerado o marco zero da filantrópica -, hoje atende 10,8 mil pessoas com deficiência por mês na capital baiana.

Na Bahia, anualmente, a instituição realiza 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais, 23 mil cirurgias, 43 mil internamentos, acolhe 2,9 milhões de pessoas e serve 2,1 milhões de refeições para os pacientes. No total, os serviços da OSID estão distribuídos em 21 núcleos diferentes.

Porém, a crise financeira oriunda do repasse do dinheiro do SUS, que não é reajustado há cinco anos, se agravou na pandemia. As campanhas de doação para o hospital visam não só a compra de insumos e equipamentos, mas também de material de construção para ampliar os núcleos de atendimento, já que a OSID tem sofrido com a demanda reprimida por falta de espaço.

A campanha atual, a Um Milhão de Amigos Para Santa Dulce, tem tido o apoio de muitos artista, inclusive do influencer Ivan Mesquita e do sanfoneiro Jó Miranda, que na próxima terça-feira, 14, realizam o 1º Arraiá da Dulce, live junina que será transmitida no Instagram @ivanmesquita1 e além de música, irá mostrar como as pessoas podem ajudar a Osid com doações.Em fevereiro deste ano a instituição solicitou ao MS um aporte financeiro urgente para amenizar a atual situação, mas não obteve qualquer resposta.

A reportagem do A TARDE questionou o órgão sobre isso, mas não obteve resposta. “O último aporte concedido pelo Ministério da Saúde (MS) para compensar o desequilíbrio causado pela falta de correção inflacionária no nosso contrato SUS ocorreu há cinco anos. Com a inflação hospitalar, normalmente muito mais alta que a oficial, terrivelmente agravada com a pandemia, chegamos a essa que é a maior crise vivida pela Osid em toda a sua história, e que ameaça a continuidade de sua operação. Nos hospitais do Estado, geridos pela Osid no modelo de OS (Organização Social), não temos déficit uma vez que há reajuste previsto em contrato”, explica o assessor corporativo da Osid, Sérgio Guilherme Santos Lopes.

Por meio de nota, MS informou que repassa, mensalmente, recursos financeiros para as secretarias estaduais e municipais de saúde do Brasil, para o custeio de serviços hospitalares de média e alta complexidade, o que inclui os hospitais sem fins lucrativos: em 2021 foram repassados R$67,7 bilhões, e entre janeiro e abril de 2022, R$18,6 bilhões. No entanto, o MS reforçou em nota que “a gestão e financiamento do SUS, conforme determina a Constituição Federal, é tripartite, ou seja, compartilhada entre União, estados e municípios”.

A equipe de reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que salientou que a Osid fornece “um serviço de extrema importância para os baianos”, mas que a filantrópica é gerida 100% pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

A Sesab, por sua vez, informou que não caberia ao estado responder sobre o assunto, pois a tabela do SUS e o fluxo de repasse do dinheiro são definidas pelo MS.Para o pescador autônomo, Agnaldo Purificação Viana, de 56 anos, que atualmente está no processo de marcar uma cirurgia de remoção de hérnia, apenas uma coisa é certa: a Osid não pode fechar. “A Bahia toda vai perder muito se as Obras Sociais fecharem. Sou atendido aqui há oito anos, assim como minha esposa e filha. Agora também tenho doado sangue, inclusive. Não apenas o atendimento aqui é excelente, como a equipe nos trata super bem, do faxineiro ao médico, todos muito acolhedores”, salienta o pescador.

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Obras Sociais Irmã Dulce, crise financeira

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