REALIDADE
Dentre 184 mil jovens, 15,4% foram mães na Bahia em 2021
Mulheres que mal tiveram acesso à educação são as com maiores chances ter filhos

Por Priscila Dórea

Na Bahia, das 184 mil mulheres que se tornaram mães em 2021, 15,4% tinham, no máximo, 19 anos. Esses dados são de um panorama sobre o perfil das mães baianas feito pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), que ainda pontua: a cada mil meninas entre 10 e 19 anos, 25,6 foram mães em 2021 no estado. E a jovem Clara Evelyn Ribeiro Mota foi uma dessas. Hoje com 17 anos, Clara, mãe da pequena Maria Heloísa de 10 meses, contou com os pais como base de apoio, sorte que muitas meninas que engravidam muito cedo não têm.
“Foi e ainda é bem difícil, não tem como negar, mas apesar do susto e medo que, assim como eu, meus pais sentiram quando contei a eles, os dois me apoiam e ajudam muito. Hoje moro com eles e mantenho meu relacionamento com o pai de minha filha, mas se tenho uma coisa para dizer as outras meninas nesse Dia das Mães é que tomem cuidado. Busquem se educar sexualmente e entendam como o anticoncepcional funciona em seu corpo, pois nem todos funcionam da mesma forma”, aconselha Clara Evelyn, que acabou os estudos recentemente.
Quem entende sobre precisar ser forte pelos filhos todos os dias é Marta Clariana Silva Santos, 39, que engravidou aos 16 e hoje tem 11 filhos. Dos 11, sete moram com ela em área de risco e em situação precária, onde a família não pode garantir água e comida todos os dias. Sem emprego fixo e com a falta de apoio - emocional e financeiro - do pai de 8 dos seus 11 rebentos, Marta Clariana tenta convencer o ex-marido a conversar com os filho quando eles ficam mais rebeldes ou quando mostram que vão seguir por caminhos tortuosos, mas nem sempre isso ajuda.
Futuro melhor
“ Sempre converso com meus filhos, mesmo com os menores, para que se empenhem na escola porque só assim terão um futuro melhor que o meu. Vivo dizendo para buscarem ser melhores do que eu fui. Tento fazer com que o pai converse mais com eles, porque sinto que a rebeldia das crianças vem muito desse distanciamento paterno,, explica Marta Clariana.
E dar a educação esse status de ’melhor forma de mudar a vida’ não é apenas balela, mas a realidade. A natalidade no Brasil caiu de 6 para um 1,8 filho dos anos 60 para cá e enquanto esse número é o ideal para manter a população constante, afirma o médico Drauzio Varella, quem é que está tendo esses filhos? A mulher com ensino universitário ou a que não completou nem mesmo o fundamental, quetiona. Esse segundo grupo chega a ter 4 filhos, enquanto as mulheres com ensino superior tem 1,1 filho, pontua o médico.
“A realidade da mulher na periferia, nas favelas brasileiras que eu encontro por aí, em todas as cidades do país é de mulheres sozinhas criando crianças. Muitas vezes crianças criando outras crianças. Meninas que você pensa que estão com a boneca no colo, mas é um filho. Essa é a realidade que nós estamos montando no país, e aí a gente fica chateado quando aumenta a violência nas cidades, a gente queria o que exatamente? São crianças de 5, 6 anos de idade sendo estupradas e assim vive a sociedade brasileira, fingindo que isso não existe. Ou a gente ataca esse problema, ou nós não vamos ter solução como país e deixaremos um país absurdo para os nossos netos”, afirma o médico.
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