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Devastação no Rio do Cobre

Publicado domingo, 05 de março de 2006 às 00:00 h | Autor: JORNAL A TARDE

Destruição de nascentes e poluição comprometem qualidade da água que abastece subúrbio ferroviário de Salvador



ADILSON FONSÊCA




O lago da Barragem do Cobre, no interior do Parque de São Bartolomeu, que abastecia até o ano passado as populações de oito bairros do subúrbio ferroviário de Salvador, está com suas águas contaminadas e foi interditada pela Embasa (Empresa Baiana de Água e Saneamento). A região passa a ser atendida pela Barragem de Pedra do Cavalo.



O motivo da interdição foi o elevado teor de coliformes fecais (fezes provenientes de esgotos domiciliares) encontrado no Rio do Cobre, impedindo que a Estação de Tratamento de Água (ETA) distribuísse o produto em condições de ser ofertado à população.



Das seis nascentes, situadas entre o bairro de Fazenda Coutos e Centro Industrial de Aratu, até a sua foz, na Enseada do Cabrito, Península de Itapagipe, o Rio do Cobre sofre os efeitos do desmatamento, aterramento e poluição. São quase oito quilômetros até formar o lago da Barragem do Cobre.



No diagnóstico feito pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, em setembro do ano passado, constatou-se o elevado grau de desmatamento no entorno das nascentes do rio e do lago da barragem, o lançamento de esgotos residenciais ao longo da calha do rio além da ocupação do solo feita de forma desordenada por pequenas invasões. “O comprometimento ambiental é significativo na região da bacia”, admite o coordenador da APA (Área de Proteção Ambiental) Rio do Cobre/São Bartolomeu, Humberto Chagas.



OPERAÇÃO CONJUNTA – Os problemas que afligem o rio são antigos, admite o diretor de Fiscalização e Monitoramento Ambiental do Centro de Recursos Ambientais (CRA). Tanto o CRA quanto a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) têm realizado operações planejadas de fiscalização na área da Bacia do Rio do Cobre, por se tratar de um manancial de abastecimento público e pertencer a uma Unidade de Conservação e Área de Proteção Ambiental Estadual. Seja como for, a última fiscalização foi realizada na primeira quinzena de janeiro deste ano.



Na última sexta-feira, fiscais e técnicos do CRA, Embasa e da Semarh estiveram reunidos para planejar uma nova investida na área. A data e o horário da fiscalização não foram divulgados, mas a atenção maior será dada à região das nascentes do rio, onde a retirada de areia e o aterramento das lagoas vêm sendo feitos diariamente.



Segundo o coordenador da APA Rio do Cobre/São Bartolomeu, Humberto Chagas, a fiscalização deverá contar com a participação de representantes das próprias comunidades que vivem no entorno da bacia, “pois em muitos casos são os moradores que conhecem a forma como agem os infratores”, explicou.



RESERVA – A Barragem do Cobre teve a sua construção concluída em 1929 e foi o primeiro sistema integrado de abastecimento de água tratada de Salvador. Acumula 2.388 mil metros cúbicos de água (2,388 bilhões de litros), a uma profundidade que chega aos 19 metros. Atualmente está com 100% da sua cota máxima de água acumulada, conforme a última medição feita pela Superintendência de Recurso Hídricos do Estado (SRH).



A diretoria da Embasa, empresa que administra a operação da barragem, não quis dar entrevista sobre o assunto, mas informou, através de nota da sua assessoria de comunicação, que até antes de ser desativada, no final do ano passado, a Barragem do Cobre contribuía com 120 litros de água por segundo para o abastecimento dos bairros como Novos Alagados (Conjunto Joanes Centro Oeste) e Lobato.



Após a interdição, o subúrbio passou a ser abastecido pelo Sistema Integrado de Salvador que aproveita como manancial o Rio Paraguaçu. A captação é feita na Barragem de Pedra do Cavalo, localizada no município de Cachoeira, a 97 km de Salvador. A barragem do Cobre será mantida como reserva estratégica de água na cidade, e poderá ser utilizada pela Embasa, caso haja conveniência técnica.



Saiba mais



O Rio do Cobre é o último sobrevivente dos rios que cortam Salvador, e que ainda não foi totalmente transformado em esgoto. Mas caminha para isso, com a destruição crescente que vai da nascente à foz.



  • Nascente - São seis nascentes localizadas entre a Estrada Paripe/Base Naval (BA-528), o Centro Industrial de Aratu e o bairro de Valéria.



  • Foz – Enseada do Cabrito (Av. Suburbana, Plataforma), na Penísula de Itapagipe.



  • Lagoas – Da Paixão (a maior de todas), do Saco (nos fundos da antiga Usiba) e a do Pata-pata (no lado direito da BA-528 e o bairro de Valéria).



  • Barragem – Barragem do Cobre (2,3 milhões de metros cúbicos de água)



  • Trajeto – Fazenda Coutos, BA-528, Valéria, Pirajá, Parque de São Bartolomeu, Enseada do Cabrito, onde desemboca.
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