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SALVADOR

Devotos reforçam fé em São Lázaro

JORNAL A TARDE

Por JORNAL A TARDE

26/01/2006 - 0:00 h

Católicos e adeptos do candomblé rendem homenagens ao santo considerado protetor contra as enfermidades



CLEIDIANA RAMOS




Hoje, começam as festividades em homenagem a São Lázaro no santuário que leva o seu nome e fica localizado na Federação. Com missas às 6, 8 e 18 horas, serão iniciados os três dias de preparação, chamado tríduo, para a celebração solene, que acontece no domingo.



São Lázaro é um dos mais populares dentre os santos católicos festejados em Salvador e dos que têm forte associação com as divindades do candomblé. Neste caso, Obaluaê da tradição ketu; Azoany, da jeje; e Kavungo, da angola.



Na tradição católica, é considerado exemplo do amor e abertura de Deus para com os mais pobres e marginalizados. Lázaro é um personagem citado no Evangelho, nome das narrativas da vida de Jesus.



Ele costuma ser confundido com Lázaro de Betânia, que, segundo os evangelistas, foi ressuscitado por Jesus, mas na verdade o santo festejado no próximo domingo é personagem de uma parábola, nome das histórias figurativas muito utilizadas por Cristo em sua pregação.



Nessa parábola, relatada no capítulo 16 do Evangelho de São Lucas, Lázaro era um pobre, cheio de feridas, que vivia caído à porta de um homem rico. Quando os dois morrem, Lázaro vai para o que fica entendido como céu e o outro para o inferno, onde sofre diversos tormentos.



“Lázaro é personagem de uma narrativa que não tem o que costumamos chamar de referência histórica, mas traz uma excelente oportunidade para reflexão.



Ele é um homem excluído, como muitas pessoas que hoje vêm aqui em seu santuário e são discriminadas no meio social por causa da sua doença, por causa da cor da sua pele e também por professar outra religião, no caso o pessoal do candomblé”, avalia o padre Roque Silva Alves, pároco do Santuário de São Lázaro e São Roque, outra grande devoção do local.



As referências ao culto a São Lázaro na Federação remontam ao século XVIII. “As primeiras citações a uma ermida, espécie de capela nesse local, são de 1737”, relata padre Roque. Ao lado da capela surgiu um abrigo para pessoas que tivessem doenças contagiosas, principalmente varíola e lepra.



Divindade com mistérios de vida e morte



O culto a um santo que sofria por conta da doença, foi consolado após a morte e que tinha uma igreja ao lado de um abrigo que recolhia pessoas doentes acabou abrindo espaço para uma associação inter-religiosa.



Os africanos escravizados na Bahia fizeram uma relação imediata entre ele e as divindades da sua crença que despertam reverência, mas também temor, pois são os que têm intimidade com os mistérios de vida e morte.



Aliás, São Lázaro, para muitos, é o mesmo que foi ressuscitado por Jesus. “Imagine um iorubá que chega aqui na Bahia escravizado e escuta falar num santo que protege contra as doenças ou que voltou da morte.



A associação vai ser imediata”, diz Ordep Serra, chefe do Departamento de Antropologia da Ufba e ogã do terreiro Casa Branca.



Na tradição ketu, que usa a língua iorubá, há muitos mitos relacionados a Obaluaê, na verdade, um título, que significa “Senhor da terra” para o orixá Omolu.



“Esse título é usado, pois o nome de Omolu é muito forte e não deve ser usado em qualquer momento, principalmente ao meio-dia, quando é uma hora crucial. Daí que se usa de forma preferencial o título Obaluaê”, explica Serra.



Segundo um dos mitos, Obaluaê, filho de Nanã com Oxalá, era difícil de ser controlado. Seu pai então o manda ficar com Babaiku, que é a morte. Para surpresa de todos, ele volta do mundo dos mortos com Babaiku acorrentada e assim recebe o domínio sobre ela e também sobre a terra.



É uma divindade celebrada com um generoso cardápio que engloba pratos à base de bode, galo, feijão-preto, latipá, um preparado com folhas de mostarda, dentre outras. Em sua festa chamada “olubajé”, a comida deve ser servida em folha de mamona e consumida com as mãos e ao ar livre.



BANHO DE PIPOCA – Para obter o formato de pipoca, o milho sofre uma espécie de erupção com o calor do fogo. Isso lembra as erupções de pele, uma área do corpo sob a qual Obaluaê tem domínio extremo. A pipoca é conhecida, no candomblé, como “flores do velho” e são usadas para um banho de limpeza.



“É uma forma de limpar o corpo e afastar o mal que é trazido pelas doenças”, explica Serra. Por essa associação entre São Lázaro e Obaluaê é que se tornou comum a oferta de banho de pipoca nas escadarias da igreja.



Saiba mais



PROGRAMAÇÃO




Hoje,amanhã e sábado - Tríduo - missa às 6, 8 e 18 horas

Domingo - Dia da festa - missa às 7, 9, 11 e 14 horas. Missa festiva às 16 horas, seguida de procissão.



Glossário

Nação: Designação para identificar a origem da tradição do culto. No caso da Bahia, existem a angola, a jeje e a ketu. A angola é a herdada dos povos da área correspondente a onde hoje está Angola.



Reúne as etnias que usam como idioma a família lingüística banto; a jeje é correspondente ao antigo Reino do Daomé, hoje Benim, e tem como idioma o fon ou ewé; a ketu é a herança da área que corresponde hoje à Nigéria e que tem como língua o iorubá.



Inquice – Nome das divindades no candomblé de nação angola



Orixá - Nome das divindades no candomblé de nação ketu



Vodun – Nome das divindades no candomblé de nação jeje



Fonte: Diálogos fraternos contra a intolerância religiosa - Rafael Soares de Oliveira (org) DP&A e Koinonia; consultoria ao doutorando em História Social, Jaime Sodré, xicarangoma (sacerdote músico do Tanuri Junssara e oloê (conselheiro) do Bogum.

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