SALVADOR
Dunas abandonadas no Júlio Cezar
Por JORNAL A TARDE
Moradores demandam a preservação de área pública de lazer, que é considerada um parque mas está cheia de entulho
PATRICK BROCK
A comunidade do Parque Júlio Cezar, na Pituba, protestou ontem contra o abandono da área de dunas denominada Playground 7 (PG-7), considerada pública e destinada ao lazer da comunidade. Os moradores também temem que o avanço dos empreendimentos imobiliários na região acabe com as dunas entre a Rua Machado Neto e a Alameda Florença, que já serviram como local de lazer e representam uma das poucas áreas abertas em um bairro em verticalização crescente.
O fato que alertou os moradores foi a derrubada dos coqueiros das dunas na manhã do último dia 3. A construtora André Guimarães apresentou um contrato com a Superintendência de Parques e Jardins (SPJ), no qual informa que vai erradicar dez coqueiros no Lote N-2, doando em troca 120 mudas. O objetivo, de acordo com o documento, é construir o primeiro pavimento da garagem de um empreendimento imobiliário na Rua Machado Neto, n.281. Denis Guimarães, diretor comercial da Construtora, informou que o Lote N-2 está legalizado.
Marcos Pimentel, responsável pela Fiscalização da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), disse que se a construtura cortou as árvores no terreno de sua propriedade, ele está dentro da lei, mas se avançou para a área pública, então pode sofrer sanções legais. Pimentel informou também que a viabilidade da obra no Lote N-2 ainda está sendo analisada pelo órgão, assim como a demarcação do lote.
Crianças brincavam nas areias
Embora as dunas estejam abandonadas e atualmente sirva como depósito de entulho, o areal já foi local de lazer dos moradores mais antigos e, segundo a comunidade, representa uma das poucas áreas abertas remanescentes em um bairro cada vez mais cercado por edifícios. Moradores também questionam a viabilidade de um edifício no Lote N-2, que tem 1.880 m².
Queremos saber se a área do Lote N-2 comporta a construção de um edifício, informou Wilson Ferreira, presidente da Associação dos Moradores do Parque Júlio Cezar, durante a manifestação de ontem, que contou com a presença de cerca de 50 pessoas e o apoio da ONG ambientalista Reviva.
O designer gráfico Alessandro Lima, de 34 anos, aproveitou o protesto para levar os filhos pequenos Ítalo e Ian para brincar nas dunas, como ele fazia com o pai, Fillipo Lino, de 63 anos. Alessandro cresceu no Júlio Cezar e lembra do tempo em que as dunas eram muito maiores, e dava pra brincar de tobogã. De forma alguma deve construir, uma área como esta é cada vez mais rara. Imagine como pode ficar bonito se for bem-cuidado, eu terei prazer de trazer meus filhos aqui para brincar, disse Alessandro.
De fato, o local em nada se parece com um parque: a única coisa que denunciava sua condição de área pública de lazer eram os funcionários da SPJ que limpavam o terreno no sábado pela manhã, enquanto os moradores consultavam mapas do ordenamento da área e documentos compilados nos últimos seis anos, incluindo um ofício da prefeitura informando que o local é um parque. Um caminhão que chegou para despejar entulho clandestinamente durante o protesto foi multado e removido pela Secretaria de Engenharia de Tráfego (SET).
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