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SALVADOR

Eles têm medo do candomblé

Por Kleyzer Seixas

22/04/2006 - 0:00 h

Elas estão em vários pontos da cidade: jardins, parques, encruzilhadas e calçadões. Cheias de flores, velas, charutos, caruru, farofa, cachaça e até animais sacrificados são usadas para fazer pedidos a divindades do candomblé. As oferendas assustam e levam muita gente a mudar de calçada quando se deparam com uma delas. Os mais intolerantes costumam chutar ou cuspir nos pratos de barro recheados de comida para o santo, vistos como rituais de maledicências.



Há garis que se recusam a recolher a oferenda quando percebem que ela acabara de chegar. “Se estiver na rua há mais de um dia, jogamos fora, mas se for do dia, deixo quieto”, conta Fernando Matias. O colega de profissão Evandro Santos Almeida, completa: “Estamos aqui de corpo aberto [sem proteção dos orixás]. E se pegarmos o feitiço?”



Há, porém, quem tire proveito dos bozós por necessidade. Moradores de rua não têm qualquer pudor em comer carurus, farofas ou balas para garantir a alimentação. “Se encontrar, como. Não vou mentir. Pena que não há caruru todos os dias para encher a minha barriga”, conta José Souza, que bate ponto na Pituba todos os dias atrás de comida.



As crianças se divertem quando avistam um ebó, principalmente se houver moedas e cédulas. “Meus tios, quando pequenos, pegavam moedas dos santos. O truque, segundo eles, era fazer xixi sobre o bozó pra quebrar o efeito”, conta a estudante Maria Santana. “Na época não tinham noção de desrespeito contra a oferenda religiosa.”



Superstição, crença ou mania de perseguição. Não importa o sentimento, mas a possibilidade de saber que pode ser vítima de macumba deixa muita gente de cabelo em pé. A estudante Andréia Cerqueira nunca freqüentou terreiros, mas prefere ficar longe de qualquer despacho. Ou melhor, a quilômetros de distância. “Evito passar por avenidas onde são deixados os ebós porque eles não são encomendados para beneficio alheio. Quem vai aos terreiros, sempre causa problemas às pessoas”, acredita.



A vendedora Cláudia Vieira concorda com Andréia, e diz ter motivos para isso. Diz que a mulher de um amigo de infância os afastou por sentir ciúmes da relação. “Ele não me procurou mais. Contou que a mulher fez macumba. Agora passo longe de qualquer pratinho nas encruzilhadas.”



A aposentada Célia Rodrigues assume que recorreu a uma mãe-de-santo do Recôncavo Baiano para acabar com o relacionamento entre o seu esposo e a amante, mas diz ter medo de despachos. “Me arrependo de ter me envolvido com o ritual. Não funcionou. Continuei sendo traída. O santo dela [referindo-se à amante] era forte”, conta.



Bozó do bem - Apesar de ser associado a maldades, o ritual do candomblé tem vários propósitos. O mal atribuído a ele, segundo o antropólogo Ordep Serra, ocorre por conta da intolerância e desconhecimento sobre a religião. “As pessoas generalizam, acham que toda oferenda é para o mal. Isso mostra o preconceito contra a religião, e o quanto é associada erroneamente à feitiçaria”, explica.



A maioria das oferendas, ou bozós, como são chamados, é feita aos orixás para promover o bem. Reatar namoros, garantir casamento e curar doenças são os trabalhos mais comuns feitos pelos pais e mães-de-santo dos terreiros. Na verdade, a religião condena as oferendas feitas para prejudicar as pessoas, mas não pode controlar a conduta dos seus adeptos. “Tem gente de todo o tipo em qualquer lugar, e no candomblé não poderia ser diferente. Há quem aprende as técnicas rituais e as usa contra as pessoas”, diz Serra.



O pai-de-santo e antropólogo, Júlio Braga, concorda com as considerações de Serra. Para ele, o sentimento de temor pelo desconhecido, associado ao preconceito pela religião, contribui para que as pessoas tenham medo dos rituais ligado. “Presenciei atitudes mais agressivas, como chutar as oferendas por acreditarem que se trata de algo diabólico. Do ponto de vista do candomblé, essa dicotomia entre o bem e o mal não existe. Predomina, entre os adeptos da religião, apenas o sentimento de colaboração”, explica.

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