Ernesto Simões Filho: Mente brilhante

Um dos mais importantes nomes da história da imprensa da Bahia e do Brasil, Ernesto Simões Filho nascia há exatos 133 anos, em um dia 4 de outubro. O fundador de A TARDE, que foi ministro e deputado (federal e estadual), além de membro-fundador da Academia de Letras da Bahia (ALB), se estivesse na ativa, com certeza estaria aplaudindo as recentes mudanças tecnológicas do periódico vibrante que criou.

Sim, porque o jornal que comandou com pulso forte até hoje é uma referência quando se fala em credibilidade, transformações inovadoras, defesa combativa dos interesses sociais e humanos e liberdade de expressão.

Não por acaso. A trajetória de Ernesto Simões Filho, que nasceu no dia de São Francisco de Assis, foi marcada por atitudes ousadas. Basta lembrar que ele fundou A TARDE em 15 de outubro de 1912, com 26 anos, tornando-se uma das mais importantes personalidade da imprensa do País.

Mudanças não o paralisavam, o estimulavam, o desafiavam. Ele foi pioneiro em relação à modernização tecnológica do jornal. Em 1913, A TARDE inovou com a publicação, pela primeira vez na Bahia, de um anúncio com ilustração fotográfica. Em 1914, o jornal outra vez vislumbrou o futuro. Desta vez com a modernização gráfica, pois Simões Filho importou da Alemanha uma impressora Koening- -Bauer para substituir a máquina impressora Marinoni. O homem era um visionário, enxergava longe.

Durante a Primeira Guerra Mundial o jornal publicava notícias impactantes, por meio do moderno sistema de cabo submarino Western, que era um sistema extraordinário para a época (os primeiros cabos submarinos foram estabelecidos, para o tráfego de telegrafia. Depois a rede de cabos foi utilizada para telefonia e, em seguida, para a transmissão de dados).

Em 2019, com a crise da imprensa escrita e o avanço crescente das novas tecnologias digitais que permitem que se saiba das notícias antes de elas serem impressas, A TARDE não ficou parado no tempo. Seguindo o legado visionário de seu fundador, o jornal acompanha as novas tendências fortalecendo seus portais, sem abrir mão do jornalismo investigativo. Rapidez, imediatismo, sem esquecer da profundidade da apuração jornalística.

Perfil de um líder

Mas quem era na verdade este homem que marcou a construção de uma empresa editorial do porte do jornal A TARDE? Nascido no Recôncavo – terra de bravos –, no município de Cachoeira, distante 116 quilômetros de Salvador, Simões Filho era filho do coronel Ernesto Simões da Silva Freitas e da senhora Emília Rosa Simões da Silva Freitas.

Estudou o primário na sua cidade natal, mas transferiu-se para Salvador para continuar os estudos no Colégio São José, na Cidade Baixa, dirigido pelo já conceituado professor João Florêncio Gomes, que depois daria nome a um colégio, localizado em Itapagipe.

Simões Filho também estudou no tradicional Ginásio Bahiano, instituição reconhecida pela excelência de ensino e por onde passaram grandes nomes, como Castro Alves e Ruy Barbosa (anos mais tarde, Simões Filho defendeu as candidaturas à presidência da República deste jurista, advogado, político e um dos intelectuais mais importantes de sua época).

Bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade Livre de Direito, casou-se com Helena Guimarães Cerne, com quem teve os filhos Regina Simões de Mello Leitão, que durante muitos anos foi presidente do Grupo A TARDE; Renato Simões, advogado, empresário e atual presidente de honra do Grupo A TARDE; e Vera Simões, que já foi colunista do periódico.

Vocação precoce

A vocação para o jornalismo surgiu na adolescência. No Ginásio Bahiano, fundou com outros colegas o periódico O Carrasco. Quatro anos depois, Simões Filho criou O Papão, revista literária que se destacava pelo humor.

O jornalista também passou pela Gazeta do Povo, jornal fundado por Vicente Amaral. Trabalhando ao lado de “bambas” como Xavier Marques, Antônio Moniz e Octávio Mangabeira, desabrochou seu talento. Fundou A TARDE trazendo inovações como os anúncios classificados, uso de clichês e campanhas públicas.

A vida pública lhe interessava. Enquanto modernizava o jornal, que dirigiu de 1912 a 1957, participava ativamente da política nacional. Além de deputado estadual e federal, foi ministro da Educação e Saúde (1951-1953) no governo de Getúlio Vargas. Não era homem contemplativo. Gostava da ação.

Pai carinhoso

No livro Memórias da Bahia – Palestras, organizado pelo Museu Eugênio Teixeira Leal, o filho Renato Simões fala de seu pai. “A lembrança maior que se tem dele, com seus descendentes, é a do desvelo, carinho, preocupação com o bem-estar dos seus familiares, homem rígido com a pele e a mente curtida pelos dissabores da vida política (...). Nada o levava a se abater, enfrentava a adversidade de corpo aberto, tanto que sofreu gravíssimos atentados”.

Ele também fala de outra característica do velho Simões: “Era uma lição de bom jornalismo. Orador inspirado, cuja tarimba vinha desde a mocidade, de quando muito jovem havia ocupado cargos públicos de relevo, diretor de Correios, configurando-se como uma raridade entre a classe”.

Ele conta que certa vez, enquanto ministro da Educação, o pai preparou um discurso para solenidade na Reitoria da Universidade de Porto Alegre, mas confundiu-se nas páginas. De improviso foi enumerando os estados brasileiros, de Norte para o Sul, salientando suas características, “culminando com a exuberante adjetivação sobre a personalidade dos gaúchos e sua terra. Foi indescritível o entusiamo que se apossou da assembleia”, finaliza. Simões Filho era surpreendente.