A TARDE DESTAQUE
Especialistas avaliam riscos de praias impróprias em Salvador
Praias da capital baiana recebem maior número de banhistas durante o verão
Por Pevê Araújo
A chegada do verão é responsável pelo aumento de banhistas nas praias de Salvador. A respeito da qualidade da água na orla da capital baiana, o Portal A TARDE entrou em contato com especialistas, que falaram sobre análise de balneabilidade, melhores circunstâncias para o banho de mar, expectativa para a alta estação e quando evitar o contato direto com a poluição, que pode ser conduzida para as praias durante dias chuvosos e provocar doenças de pele ou distúrbios gastrointestinais.
Uma das principais ofertas de lazer em Salvador, as praias funcionam como atração para moradores e turistas, principalmente no final do ano, com o aumento do calor provocado pela chegada do verão. Nesta perspectiva, é fundamental que os banhistas saibam quais locais estão próprios para banho, com objetivo de evitar problemas de saúde. O diretor de Recursos Hídricos e Monitoramento Ambiental do Inema, Antonio Martins, conta que a análise de balneabilidade busca registrar o nível de bactéria presente na água do mar.
"Nós, do Inema, realizamos a análise de balneabilidade. É uma análise feita semanalmente, a partir da coleta de amostras, onde um técnico chega até os pontos que são espalhados na costa baiana. Nós temos 138 pontos de coleta. Aqui em Salvador, temos 38. O técnico vai, coleta uma amostra da água e verifica a incidência de uma bactéria chamada Escherichia coli", afirma.
A Escherichia coli está presente em fezes humanas e de animais. Na análise de balneabilidade, é possível perceber a quantidade da bactéria registrada na água, que vai indicar se o mar está próprio ou não para o contato primário e recreativo da população.
"Durante cinco semanas, se em 80% de quantitativo houver a incidência de 800 ou mais partes da bactéria E. coli, significa que aquela água está imprópria para banho. A gente segue normas específicas, restritas em relação à garantia da balneabilidade. Na verdade, é uma análise de contato primário, ou seja, se aquela água está adequada para banho, para o uso recreativo em um período prolongado", explica.
Os boletins são atualizados periodicamente, com resultados que variam entre as praias. Na última análise, locais como Paripe, Tubarão, Patamares, Armação e Corsário registraram os maiores índices de Escherichia coli, o que representa um risco para a saúde dos banhistas que tiverem contato com a água. O Inema recomenda que a população avalie a balneabilidade do mar no aplicativo Vai dar Praia, disponível nas plataformas Android e IOS.
Antonio Martins alerta que é importante evitar as praias em períodos chuvosos. Ele explica também que até o contato com a areia pode ser prejudicial à saúde. "Existem diversas causas. No período chuvoso, não recomendamos que as pessoas acessem as praias. Há um carreamento de toda sujeira que vem do continente para as praias. Período chuvoso, segura a onda um pouquinho, faz uma caminhada na orla, mas evita ter contato com o mar. A areia fica contaminada principalmente quando há uma incidência maior de chuva. Por conta desse carreamento, a água acaba passando na areia", aponta.
Ranking de Balneabilidade das praias de Salvador de 2022: a praia mais limpa, foi a do Flamengo
Dados divulgados pelo Inema revelam que, no Ranking de Balneabilidade das praias de Salvador de 2022, a praia mais limpa foi a do Flamengo, com 90%. Ela é seguida por Farol de Itapuã, Stella Maris, Boa Viagem e Placafor, como as mais limpas do período. Em contrapartida, Tubarão, Periperi, Boca do Rio, Penha, Pedra Furada e Patamares estão entre as mais poluídas e impróprias para banho.
Outros fatores
O Inema aponta também que, além de períodos chuvosos, uma praia pode ficar imprópria para banho por outras circunstâncias, como derramamento de óleo, extravasamento de esgoto, ocorrência de maré vermelha, floração de algas potencialmente tóxicas ou outros organismos que podem prejudicar a saúde humana.
Apaixonado pelas praias de Salvador, o auxiliar de logística Tiago Santos, de 30 anos, afirma que não tem o costume de analisar se a água está imprópria para banho antes de sair de casa, mas ele evita ir ao local em tempos chuvosos. "Minha relação com as praias de Salvador é íntima e de muito amor. É um lugar que vou para curtir, para socializar, ter um pouco de paz quando é para ter paz, quando é para me conectar com a natureza, quando estou precisando. É muito louco, uma questão de amor mesmo. É o lugar que eu me conecto comigo mesmo", diz.
"Eu observo muito quando está tempo chuvoso, quando choveu recentemente. Quando está sol, verão assim, eu acabo não olhando. Olho mais a parte de marés. Sechover durante a semana e fizer sol no sábado e domingo, eu olho para ver qual é a que está imprópria. Já teve caso de eu ir na praia e ficar me coçando, ficar com alergia e eu acho que foi da água", complementa.
De acordo com a dermatologista Marília Acioli, doenças de pele são comuns em pessoas que têm contato com águas impróprias para banho.
"Existem inúmeros riscos de tomar banho em praias contaminadas. A pessoa pode adquirir doenças de pele, infecções bacterianas, conjuntivite bacteriana, otite externa - que é a infecção do ouvido -, até alergia a essas substâncias que a água do mar pode ter. A gente também não pode deixar de falar das chances de contaminação por ingestão dessa água. Às vezes, as crianças podem ingerir essa água, que pode conter bactérias que provocam diarréias, vômitos, esses sintomas gastrointestinais também", aponta.
Entre as doenças mais comuns, estão a foliculite e o impetigo, que são causadas pelo contato primário da pessoa com a água poluída. "A foliculite são pequenas espinhas que podem aparecer em qualquer área do corpo, mas elas são mais comuns nas dobras, na axila, na virilha, na região posterior das coxas e até nas nádegas. É necessário utilizar antibiótico e pomada para melhorar. Também tem outra doença bacteriana da pele que se chama impetigo, onde ficam crostas amareladas na pele. Também são muito comuns as alergias, principalmente a dermatite de contato irritativa, que vai acontecer quando substâncias que são nocivas à nossa pele entram em contato mesmo que por pouco tempo. A pessoa vai sentir coceira na região e isso não melhora mesmo depois do contato", detalha.
A infectologista Clarissa Cerqueira chama atenção para o perigo da ingestão de água contaminada. Ela afirma que a pessoa que teve contato com o mar impróprio deve observar o possível surgimento de sintomas nos dias seguintes.
"O principal risco é a transmissão de doenças, principalmente as que a gente chama de gastroenterite, que é quando você ingere a água com algumas bactérias. Podem ter alguns vírus que causam diarreia. Essa é a mais comum. Algumas lesões de pele podem acontecer, feridas de pele, principalmente em pessoas que já têm uma pele mais lesionada, que é uma porta de entrada para outras bactérias”, destaca.
"Principalmente tem algumas doenças parasitárias, como a larva 'migrans', ela pode ser transmitida pelo andar na areia. Então é um verme, é um parasita que fica na nossa pele, caminhando embaixo da pele, leva coceira, vai levando a algumas lesões que a gente até chama de bicho geográfico"
Atuação da Embasa
A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) destaca que administra um sistema de esgotamento sanitário composto por uma ampla estrutura, responsável por fazer efluentes sanitários retornarem ao meio ambiente de forma segura, sem poluir diretamente as praias da cidade.
"O sistema de esgotamento sanitário operado pela Embasa é composto por uma ampla estrutura. As redes coletoras subterrâneas, implantadas na rua, recolhem o esgoto doméstico produzido nos imóveis e o transportam até dois Sistemas de Disposição Oceânica, situados no Rio Vermelho e na Boca do Rio. Ali, o efluente sanitário condicionado é direcionado aos emissários submarinos, para que possa retornar ao meio ambiente de forma segura, a quilômetros de distância da costa e em profundidade oceânica".
Questionada sobre a possibilidade de poluição do mar, a Embasa destacou que o risco é maior em épocas chuvosas, mas que as saídas vistas nas praias não fazem parte do sistema de esgotamento sanitário e sim de uma rede de drenagem pluvial. "Como a chuva carrega lixo, fuligem e resíduos presentes nas ruas, muitas vezes essa água chega à praia poluída. Caso haja lançamento clandestino de esgoto na drenagem, por parte de imóveis não ligados à rede de esgoto da Embasa, isso também contribuirá para a poluição".
A Embasa conta ainda que atua evitando que o esgoto chegue às praias, contribuindo para a saúde da população. "Como já esclarecido, em Salvador, a Embasa não lança esgoto nas praias, mas no oceano mediante licença ambiental do Ibama", finaliza.
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